O Brasil perdeu ontem um dos maiores gênios da sua história musical. Hermeto Pascoal, multi-instrumentista, compositor e arranjador alagoano, faleceu aos 88 anos, deixando um legado inclassificável e eterno para a música brasileira e mundial. Conhecido como “o bruxo dos sons”, Hermeto transformou o cotidiano em arte, enxergando música em absolutamente tudo: no vento, na água, em panelas, em vozes, em pássaros.
Nascido em 1936, em Lagoa da Canoa (AL), começou a tocar sanfona e flauta ainda criança, de forma autodidata, e desde cedo demonstrava a habilidade de criar sons a partir do que tivesse em mãos. Essa criatividade sem limites o levou a construir uma carreira de mais de seis décadas, na qual transitou com naturalidade entre jazz, choro, forró, frevo, música erudita e improvisação livre, sempre imprimindo sua identidade brasileira e singular.
Hermeto tocou com mestres como Miles Davis, Elis Regina, Egberto Gismonti e Airto Moreira, mas nunca deixou de ser, antes de tudo, um inventor incansável. Entre seus feitos mais impressionantes está o “Calendário do Som” (1996), quando compôs uma música por dia durante um ano inteiro. Sua discografia reúne álbuns antológicos, como Slaves Mass (1977), Mundo Verde Esperança (2002) e No Mundo dos Sons (2017).
Mais que instrumentista, Hermeto era um pensador da música, um filósofo sonoro que desafiava hierarquias entre erudito e popular, entre melodia e ruído, entre improviso e partitura. Sua obra é uma celebração da liberdade e da diversidade cultural do Brasil.
A morte de Hermeto Pascoal representa o fim de uma era, mas sua música, sua ousadia e sua visão de mundo permanecerão como inspiração para artistas e ouvintes de todas as gerações. O bruxo dos sons se despede, mas sua magia seguirá ecoando — infinita, livre e universal.



