Trabalho igual, salário igual

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Procura de mão de obra mais barata abre as portas para a ascensão da mulher na sociedade. O primeiro passo foi dado ainda na primeira fase da Revolução Industrial na Inglaterra, no final do século 18. Quem produz menos, deve ganhar menos.

Esta é a conclusão dos proprietários de indústrias. Os mesmos que contratam crianças. Estas produzem menos do que as mulheres, por isso ganham menos do que elas. Mesmo morando na fábrica, submetidas às violências físicas e morais, não podem receber melhores salários. Para muitas famílias inglesas é a alternativa para os filhos não morrerem de fome nas ruas de Manchester, Sheffield ou Londres.

A reação política para a exploração de homens, mulheres e crianças é pífia e, quando ocorre, é severamente peitada pelo exército real. Manifestação na porta de fábrica, ou nas ruas, é considerada crime de lesa-majestade. Vai de encontro ao crescimento industrial do país, líder nas exportações de manufaturados para o mundo.

No Brasil, o confronto se dá um século depois. A tradição patriarcalista e machista da sociedade tem origem nos tempos coloniais, quando o marido tinha o poder de morte sobre mulher, filhos e escravos. O desenvolvimento da indústria brasileira segue o modelo do capitalismo liberal e sai em busca dessa mão de obra mais barata.

A crescente indústria têxtil tem o maior contingente feminino sob o pretexto de que o esforço físico e mental é menor. A discrepância salarial com os operários é tida como algo natural, reforçado pela tradição da submissão da mulher ao homem, seja ele o pai, marido ou amante. O confronto ideológico não tem a mesma dimensão da Europa e dos Estados Unidos, com a forte liderança dos partidos comunistas, defensores da revolução socialista e o fim do regime de exploração do homem sobre o homem, ou do homem sobre a mulher.

Os ataques à economia de livre mercado, proteção da propriedade privada e individualismo são cada vez mais intensos e os confrontos dos partidos e sindicatos, reprimidos com violência.

O candidato da oposição está mais voltado para as questões sociais do Brasil. Assim faz um discurso que mexe com a situação da mulher na sociedade. Ele diz que toda vez que a indústria emprega, indistintamente, parelhamente, identicamente, nos mesmos trabalhos o homem e a mulher, sujeitando os dois à mesma tarefa, ao mesmo horário, ao mesmo regime, não há por onde coonestar a crassa absurdez de, no tocante ao salário, se colocar a mulher abaixo do homem. Nada tem a ver o sexo.

A igual trabalho, salário igual. É um desafio aos industriais, principalmente paulistas, que contratam mulheres porque o salário é mais baixo e a mais-valia, mais alta. Rui Barbosa surge na eleição de 1919 já sabendo que vai perder. Não é a sua primeira derrota, mas não abre mão de suas teses liberais. Quem manda no eleitorado são os coronéis e governadores dos estados e eles estão fechados com Epitácio Pessoa.

Este não faz campanha, está na Europa e lá fica sabendo que ganhou a eleição e precisa retornar ao Brasil para tomar posse. Desembarca no Rio de Janeiro, é acompanhado por uma multidão de abobalhados que dão vivas ao novo presidente no caminho de tomar posse. Epitácio é representante do Brasil na conferência de Versalhes, que sucedeu a Primeira Guerra mundial. E preparou o mundo para uma Segunda Guerra.

*Heródoto Barbeiro é jornalista da R7 e Nova Brasil às 7h30min (89.7), além de autor de vários livros de sucesso, tanto destinados ao ensino de História, como para as áreas de jornalismo, mídia training e budismo. Apresentou o Roda Viva da TV Cultura e o Jornal da CBN. Mestre em História pela USP e inscrito na OAB. Acompanhe-o por seu canal no YouTube “Por dentro da Máquina”, clicando no link

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