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História da música “Avôhai”, de Zé Ramalho

Você sabia que a música “Avôhai” fala sobre a relação de um neto com o seu avô? Ou seria de um filho com seu pai? Vamos entender a história por trás de uma das canções mais emblemáticas da música popular brasileira, composta pelo aniversariante do dia: Zé Ramalho.

Sobre Zé Ramalho

Completando 76 anos hoje, o cantor, compositor e instrumentista paraibano Zé Ramalho é um dos maiores nomes da música popular brasileira.

Influenciado pelo rock’n roll de Beatles, de Bob Dylan e da Jovem Guarda, somado à literatura de cordel, o repente e os cantadores e violeiros do sertão, Zé Ramalho iniciou sua carreira no fim dos anos 60, misturando elementos roqueiros e da música nordestina e criando uma identidade única e original.

Muitas de suas canções trazem críticas sociais, falam sobre a realidade do povo nordestino e a cultura do nordeste. 

Lançou o seu primeiro álbum solo em 1978 e logo ganhou projeção nacional. Autointitulado “Zé Ramalho”, o disco ficou mais conhecido como “Avôhai”, que é o nome do seu primeiro grande sucesso, música sobre a qual vamos conhecer a história mais a fundo hoje. 

Além de “Avôhai”, seu álbum de estreia conta com outros grandes clássicos, como:

  • Chão de Giz
  • Vila do Sossego
  • Bicho de Sete Cabeças (parceria com Geraldo Azevedoe Renato Rocha)
  • A Dança das Borboletas (parceria com Alceu Valença)

No segundo disco, “A Peleja Do Diabo Com O Dono Do Céu”, de 1979, vieram outros grandes sucessos de sua carreira, como: 

  • Admirável Gado Novo
  • Frevo Mulher
  • Garoto de Aluguel (Taxi Boy)
  • Beira Mar

Desde então, Zé Ramalho segue uma carreira composta por diversos clássicos em sua inconfundível voz, seja como compositor ou intérprete. Outros exemplos de sucesso são: 

  • Mistérios da Meia-Noite
  • A Terceira Lâmina
  • Taxi Lunar (parceria com Geraldo Azevedo e Alceu Valença)
  • Entre a Serpente e a Estrela (versão de Aldir Blanc para a canção Amarillo By Morning, de Terry Sttaford e Paul Fraser)
  • Mulher Nova, Bonita e Carinhosa (parceria com Otacílio Batista)
  • Sinônimos (de César Augusto, Paulo Sérgio e Cláudio Noam). 

Poeta, Zé Ramalho também é autor de diversos livros e tem parcerias de sucesso em álbuns lançados ao lado de Fagner e também de Zeca Baleiro.

Além disso, o artista formou, ao lado de outros grandes nomes – Geraldo Azevedo, Alceu Valença e Elba Ramalho – um dos maiores encontros da música popular brasileira: o icônico “O Grande Encontro”, cuja primeira edição aconteceu em 1996.

Em 1997, dessa vez sem Alceu Valença, os artistas lançaram a versão em estúdio, “O Grande Encontro II” e – em  2003 – se reuniram mais uma vez para o show e álbum “O Grande Encontro III”.

O cantor e compositor paraibano Zé Ramalho | Foto: Mario Luiz Thompson

História da música “Avôhai”

Nascido José Ramalho Neto, em Brejo do Cruz, no sertão da Paraíba, em 03 de outubro de 1949, é filho de Estelita Torres Ramalho – professora de escola primária – e de Antônio de Pádua Pordeus Ramalho, um seresteiro. Seus pais se separaram logo após o nascimento da irmã do artista, Goretti, um ano mais nova que o primogênito.

Quando Zé Ramalho tinha apenas três anos de idade, em fevereiro de 1953, seu pai – com apenas 26 anos – faleceu vítima de afogamento em um açude na cidade de Teixeira. Após a tragédia, os avós paternos o criaram, enquanto que a irmã permaneceu com a mãe em Recife.

Após passar a maior parte da sua infância em Campina Grande, sua família se mudou para João Pessoa, onde ele passou sua adolescência e o início da vida adulta, até os 25 anos. 

A família tinha a expectativa de que Zé Ramalho se tornasse médico. O artista até passou no vestibular de Medicina da Universidade Federal da Paraíba, mas abandonou o curso no segundo ano, pois a música já falava mais alto.

Depois de muitos anos, durante um show gravado ao vivo, contou ele mesmo a história da música “Avôhai”, imenso sucesso de seu primeiro álbum, de 1978:

“Essa música que nós vamos tocar é muito especial para mim. Permita-me abusar disso, mas é que há três dias atrás faleceu meu avô, talvez a única criatura honesta que eu tenha conhecido no mundo. Foi ele que me criou, saindo do sertão, do brejo. Eu nunca tive pai, então vovô fez o papel de avô, de pai. E antes de morrer ele fez papel de filho também pra mim. ‘Avôhai’ é uma palavra mágica: ‘Avôhai’ significa ‘avô e pai’. ‘Avôhai’, vovô! Esteja em paz, como eu penso que você está aqui. Eu tenho certeza que você está me olhando aqui. Talvez aqui no meio de todos. ‘Avôhai’“.

No livro biográfico “Zé Ramalho – O Poeta dos Abismos”, de 2008 – obra necessária para compreender tanto a música quanto a vida do criador de “Avôhai” – o cantor e compositor paraibano dá um longo depoimento ao autor, Henri Koliver e conta que a canção foi composta por meio de uma inspiração, que veio passados alguns dias de que tinha feito uso de cogumelos alucinógenos:

“Ela chegou de uma vez. Peguei papel e caneta e fiz a letra muito rápido, tudo chegava em um turbilhão. Foi a única vez que isso aconteceu, uma forte e intensa experiência espiritual. Muito estranho… totalmente mediúnica. Como o velho Billy [William Shakespeare] dizia, ‘há muito mais coisas entre o céu e a terra do que podemos imaginar’. Havia muita coisa de [Bob] Dylan pairando em minha cabeça. Eu ouvi como se fosse a voz dele. Quando fiz a letra, já sabia dos movimentos musicais; quando estava escrevendo, já sabia das passagens todas. A letra chegou junto com a melodia, e descreve minha experiência.”

A experiência é a própria vida de Zé Ramalho: “‘O brejo cruza a poeira’ é minha origem, o lugar onde nasci, de onde vim. A cidade de Brejo da Cruz situa-se no sopé da chamada ‘pedra de turmalina’. (…) ‘O brejo cruza a poeira’ é uma referência ao êxodo realizado quando abandonamos a cidade e nos dirigimos a Campina Grande.”, revela.

E continua: “Essa poeira que cruzamos representa a saída, a passagem de uma condição para outra, a partida definitiva do Brejo. Eu tinha uns 5 anos de idade. Tudo ficou para trás: as brincadeiras com os meninos, como bonecos de barro — cavalinhos e boizinhos —, correr atrás de bode no meio da rua. (…) No alto da pedra existe um cruzeiro. (…) O terreiro da usina é uma referência a um local existente na cidade, onde eu brincava em minha infância.”

A música inclui “várias formas de cantoria”, como diz Zé Ramalho, como o martelo agalopado e embolada:

  • “Na altura em que mandar” – expressão utilizada pelos emboladores de coco, aqueles que tocam com pandeiro;
  • “Pra doutor não reclamar” – expressão tirada da embolada, que os músicos usam para sair dos desafios. 

Avôhai” é uma espécie de biografia de Zé Ramalho, um relato imaginativo de sua infância, e também, na visão do artista, é um relato “das origens da humanidade”.

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