A música “Espanhola” é um grande clássico da MPB e foi composta também por dois grandes nomes da nossa música: Flávio Venturini e Guarabyra, em 1977. E o mais curioso é saber a história por trás dessa canção! Vamos descobrir?
A história por trás da música “Espanhola””
Lá na primeira metade dos anos 70, o mineiro Flávio Venturini integrou por um tempo – como pianista e indicado por Milton Nascimento (que tinha o conhecido por conta do Clube da Esquina) – a banda que acompanhava a dupla de rock rural “Sá & Guarabyra”.
Além de Flávio, outros músicos – como Sérgio Magrão e Sérgio Hinds – faziam parte da banda, ao lado de quem – pouco tempo depois – Venturini também participou da banda “O Terço”, antes de formar o “14 Bis” e sair em carreira solo, contamos toda a história do Flávio aqui nesta matéria especial, confira.
Flávio chegou inclusive a participar da gravação do primeiro disco da dupla – que antes se apresentava como trio, “Sá, Rodrix e Guarabyra” – chamado “Nunca“, em 1974.
Nessa época, todos da banda – que estavam morando no Rio de Janeiro por conta da agenda de shows (Sá é carioca, Guarabyra baiano). Mas, com o sucesso do primeiro álbum, Sá e Guarabyra decidiram mudar-se para São Paulo com a banda toda.
Sá contou a história por trás da música “Espanhola” em um show da turnê “Encontro Marcado”, que começou em 2016, e reuniu Sá & Guarabyra, Flávio Venturini e a banda 14 Bis no mesmo palco, celebrando suas carreiras, cheias de encontros.
“Todo mundo no Rio, tomando banho do sunguinha do Posto 9, e de repente fomos para São Paulo e fizemos uma república lá, a ‘República do Brooklin’. (…) Mas São Paulo era muito frio e em uma noite escura e silenciosa, subitamente, o Guarabyra…“. Nesta hora, Sá olha para o parceiro e pede que ele continue contando a história, afinal, ela lhe pertence!
Então, Guarabyra assume a narrativa: “O Sá adora essa história… São Paulo tem umas coisas estranhas… no ano passado fez zero grau lá. E a gente estava pouco acostumado com esse frio, vindo do Rio de Janeiro. Mas logo eu achei um barzinho encantador, aconchegante, fiquei amigo do gerente. Eu ia me aquecer por ali, tomando um belo licor – licor esquenta, vocês sabem? – e nesse dia eu estava extremamente licoroso! E me veio – em meio àquele éter todo, a lembrança de uma amiga – acho que muita gente já deve ter passado por isso – que eu havia deixado no Rio e que eu sempre achei que o nosso caso devia ser bem mais do que uma amizade, e – infelizmente – não aconteceu assim e agora estava distante morando em outra cidade.”.
Então, o compositor conta que seguiu pensando na moça – a tal “Espanhola” e tomando muito licor, até que o garçom foi avisar que precisava fechar o bar:
“Apagamos as luzes e quando eu cheguei na calçada eu vi que estava muito frio! Naquele tempo não tinha celular, não tinha aplicativo para você chamar carro, e a minha casa ficava uns oito terríveis – medonhos – quarteirões. Eu disse: ‘o jeito é eu começar a andar’. Fui andando, até que em um certo momento eu percebi que eu não ia conseguir chegar em casa. Eu já estava me vendo na calçada jogado, sendo recolhido.
Aí eu lembrei que o Flávio Venturini e o Sérgio Magrão moravam numa casinha um pouquinho para a esquerda (nós morávamos todos no mesmo bairro), mas dava tempo de eu fazer um ‘pit-stop’ lá, dar uma recuperada e depois seguir o meu caminho. Foi o que eu fiz. Bati na porta da casa deles e ninguém atendia, porque o frio estava muito grande e ninguém queria sair debaixo do seu cobertorzinho. Mas o Flávio – esse anjo de olhos verdes – às vezes azuis também – abriu-me a porta e imediatamente saiu correndo pro quarto dele, porque o frio estava imenso na sala.
Eu fui correndo atrás dele e, chegando lá, tinha um aquecedor no chão, uma coisa maravilhosa, vermelha, redonda! E eu descongelei minhas mãos ainda geladas ali naquele fogo! Que conforto, vocês não podem imaginar. E, pra puxar assunto, já que eu tinha interrompido o sono dele mesmo, eu perguntei: ‘Você tem feito alguma coisa… uma musiquinha?’. Ele puxou debaixo da cama uma viola e tocou essa música”..
Assim que escutou a música que Flávio Venturini tinha composto, Guarabyra pensou que podia desenvolver alguma letra ali mesmo, naquela noite fria, depois de ter passado horas bebendo licor no bar, pensando na sua paixão “Espanhola” que não foi pra frente:
“Papel e lápis, eu escrevi essa letra de cabo a rabo, sem voltar uma vírgula. Coloquei toda aquela história para fora, que estava me doendo, e disse: ‘Bem, acho que eu estou recuperado!’. É bom né? Você joga aquele problema todo para o papel. E fui embora! Graças a Deus, consegui chegar em casa.
No dia seguinte, o Flávio me ligou para dizer que a letra tinha ficado ótima. Só que eu não lembrava de maneira alguma de ter passado na casa dele! pra mim era uma novidade! Lembrava só alguns fragmentos só daquela noite. Resultado: eu aprendi essa letra com o Flávio e a música também!”, finalizou a história Guarabyra, arrancando risos da plateia e de Flávio Venturini, que em um outro vídeo conta que a música que mostrou ao amigo naquele dia ele tinha composto tempos antes, em uma viagem de trem que fez para Sabará, em Minas Gerais, pensando em uma paixão por uma garota.



