Chico Science completaria 59 anos neste 13 de março e nós trouxemos a história da música “Manguetown” para celebrar a existência do cantor e compositor pernambucano
Sobre Chico Science e a história da música “Manguetown”
Um dos maiores nomes da música popular brasileira de todos os tempos, o cantor e compositor pernambucano Chico Science nasceu em Olinda com o nome de Francisco de Assis França.
O “Science” veio mais tarde, como nome artístico, porque ele sempre gostou de mexer com a alquimia dos sons, como um cientista. Chico cresceu ouvindo ritmos nordestinos como coco, ciranda, maracatu e embolada, mas também gostava muito de rock, hip-hop (fez parte de um dos principais grupos de dança de rua do Recife), jazz e soul music americana (uma das suas maiores influências era James Brown).
Foi dessa mistura que surgiu, em 1991, a banda Chico Science & Nação Zumbi – da qual ele era líder – e que fazia um som revolucionário, com canções energéticas, muito bem elaboradas, que mesclavam funk rock com maracatu, embolada, psicodelia e música Afro.
Com a banda, Science lançou dois álbuns que conquistaram Disco de Ouro: “Da Lama ao Caos’’ (de 1994, considerado pela revista Rolling Stone Brasil o 13º melhor disco brasileiro de todos os tempos) e “Afrociberdelia” (de 1996, que também entrou para lista dos 100 melhores discos da música brasileira de todos os tempos, na posição 18).
No primeiro álbum, estão sucessos como os a seguir, todas composiçòes solo de Chico Science:
- Banditismo por Uma Questão de Classe
- A Cidade
- A Praieira
- Samba Makossa
- Da Lama Ao Caos
- Risoflora
Já o segundo álbum, conta com os clássicos:
- Maracatu Atômico (de Jorge Mautner e Nelson Jacobina)
- Macô (parceria de Chico Science com Jorge Du Peixe e Eduardo BiD e com participação de Gilberto Gil e Marcelo D2)
- Manguetown (parceria de Chico Science com Lúcio Maia e Dengue)
Chico Science foi também um dos principais colaboradores do movimento de contracultura “Manguebeat” nos anos 90. O movimento – que teve início com o “Manifesto Caranguejos com Cérebro” escrito por Science e Fred Zero Quatro (do grupo Mundo Livre S/A), em 1991 – além de trazer as inovações musicais já citadas, também preza pela valorização das culturas regionais nordestinas, pelo desenvolvimento de um senso local de identidade própria para a criação de melhores condições de vida da população da região e pelo estado de conservação do manguezal e sua melhor exploração.
O “Manguebeat” é representado por um caranguejo – animal típico dos mangues e fonte de alimentação para as comunidades locais – e também por uma antena parabólica na lama, que mostra – além presença da tecnologia como marca do movimento – que os caranguejos presentes no manguezal estavam antenados com tudo que acontecia ali. O grupo se identifica com o movimento estético afrofuturismo, que une elementos africanos e ficção científica, e influenciou uma geração de artistas que veio depois.

O site 365 Canções Brasileiras analisa a canção “Manguebeat”, parceria de Chico Science com Lúcio Maia e Dengue, como a descrição precisa e – ao mesmo tempo – poética, de uma cena banal: catar caranguejo no manguezal de Recife.
“O enunciador está, sob o sol ardendo na moleira, lutando pela sobrevivência, ao mesmo tempo em que analisa o absurdo da situação: sua franca desvantagem até em relação aos urubus que o observam. Estes, ao menos possuem casa e asas; ele, nenhuma das duas coisas. Seu lar é a cena degradada e nauseabunda que só adquire algum glamour – ao olhar alheio – quando nomeada à moda estadunidense: “Manguetown”.
E o único alívio, diante desse cotidiano degradado, é a diversão casual, com a perspectiva de, quem sabe, encontrar a companheira ideal no passeio noturno – quem irá, apenas, ajudar a reproduzir (literalmente) a situação de miséria que o sujeito já vivencia. (… a pobreza e a animalização do ser humano só poderia ser denunciada com a transmutação da lama do mangue em arte elétrica. Chico Science era mesmo um vanguardista.”
Depois da morte de Chico Science – em um inesperado acidente de carro, em fevereiro de 1997, com apenas 30 anos de idade – a banda Nação Zumbi (que segue firme até os dias de hoje) lançou um disco em homenagem ao artista: o “CSNZ”, de 1998.
É um álbum duplo com canções inéditas de estúdio, gravadas ao vivo com Chico e remixagens das suas músicas segundo visões de nomes como David Byrne e Arto Lindsay. No final, há ainda uma canção feita especialmente para Science, pelo músico inglês Goldie: “Chico – Death of a Rockstar”.
Também depois de sua morte, Chico Science ganhou algumas homenagens pelas ruas de Recife: além de um Memorial formado por três salas, que conta a sua história, há uma estátua sua na Rua da Moeda, no Recife Antigo, e um caranguejo metálico gigante na Rua Aurora, onde morou.