Para celebrar o aniversário do compositor, pianista, locutor e apresentador mineiro Ary Barroso, neste 7 de novembro, o site da Novabrasil traz a história de um dos seus maiores sucessos: a música “No Rancho Fundo”.
A música “No Rancho Fundo”
“No Rancho Fundo” é um samba-canção resultado da parceria de Ary Barroso com Lamartine Babo, mas a melodia é de uma composição anterior, do próprio Ary Barroso, que recebeu uma letra do caricaturista J. Carlos e que foi intitulada “Esse Mulato Ainda Vai Ser Meu – Na Grota Funda”.
Nesta primeira versão, os versos começavam assim:
“Na grota funda
Na virada da montanha
Só se conta uma façanha
Do mulato da Raimunda”
Naquele período, o mineiro Ary Barroso tinha acabado de se mudar para o Rio de Janeiro e compunha melodias para peças teatrais para se manter, tendo um contrato fixo com o Teatro Recreio. Foi assim que essa primeira versão da música foi lançada na trilha sonora da peça “É do Outro Mundo” – idealizada pelo próprio J. Carlos – com interpretação da cantora Araci Côrtes.
O cantor e compositor carioca Lamartine Babo estava presente nas primeiras apresentações da peça e – quando ouviu “Na Grota Funda” ficou muito impressionado com a melodia da música. Foi aí que os rumos da canção começaram a mudar.
Babo foi falar com Ary Barroso depois da peça e avisou queescreveria novos versos para a canção, mais compatíveis com a beleza do ritmo e dos acordes da composição. E assim o fez, mesmo sem Ary autorizar formalmente, batizando a nova canção de “No Rancho Fundo”.
São de então de Lamartine Babo os versos da canção que conhecemos hoje.
Babo apresentou a canção no dia seguinte, com o Bando de Tangarás – acompanhado de Noel Rosae Braguinha – no programa que tinha na Rádio Educadora – “Horas Lamartinescas” – só que sem pedir licença ao outro autor da versão anterior.
O conteúdo dessa nova versão é um relato melancólico e super sensível de um camponês que vive no alto de uma montanha, bem longe da civilização. O público e os produtores que ouviram a música ficaram encantados com “No Rancho Fundo”.
Só que J. Carlos não gostou nada dessa história! Ele ficou muito bravo com a alteração da letra, feita sem a sua autorização e – com isso – a amizade com Ary Barroso ficou estremecida.
Já Ary, por sua vez, gostou muito mais da nova versão e ganhou um novo parceiro de composição para a vida inteira: com Lamartine Babo, compôs inúmeros outros clássicos da música popular brasileira, como: “Grau Dez” e “Na Virada da Montanha”, sucessos na voz de Francisco Alves.
A nova canção “No Rancho Fundo” foi gravada pela primeira vez em 1931, pela cantora Elisa Coelho, uma das preferidas de Ary Barroso, que toca piano nesta gravação.
Após várias versões gravadas ao longo dos anos, como as deSilvio Caldas(1939); Isaurinha Garcia(1948); Miltinho (1970); Eduardo Araújo (1971)e Ná Ozzetti (1988),a canção conseguiu sua mais popular versão em 1989, quando a dupla Chitãozinho & Xororó gravou em seu LP “Os Meninos do Brasil”, entrando na trilha sonora nacional da telenovela “Tieta”, e tornando-se uma das canções mais importantes da música popular brasileira.
Mais sobre Ary Barroso
Um dos maiores nomes da história da nossa música, é impossível falar de música popular brasileira e não falar de Ary Barroso.
Autor recorrente no repertório de artistas como Carmen Miranda e Francisco Alves, o compositor deixou uma obra que atravessou o tempo e as fronteiras do Brasil, e – até hoje – é interpretado por grandes nomes da música nacional e internacional.
Nascido em Minas Gerais, em 1903, Ary Barroso começou a estudar piano ainda criança e, aos 12 anos, já trabalhava como pianista auxiliar no Cinema Ideal, em Ubá, sua cidade natal. Aos 15, compôs sua primeira canção: o cateretê “De Longe”.
Na juventude, mudou-se para o Rio de Janeiro para estudar Direito e a faculdade foi muito importante na consolidação da sua veia artística. Na cidade carioca, trabalhou como pianista no Cinema Íris e na sala de espera do Teatro Carlos Gomes.
Passou a tocar em diversas orquestras e a dedicar-se mais seriamente à composição, fazendo parcerias com Lamartine Babo, seu contemporâneo na Faculdade de Direito, que veio a tornar-se outro importante nome da nossa música.
Em 1929, depois de formados, seu colega de faculdade e grande incentivador – o cantor e compositor da Era do Rádio, Mário Reis – gravou duas canções de Ary Barroso: “Vou à Penha” e “Vamos Deixar de Intimidade”, que se tornou o seu primeiro sucesso popular.
Nos anos 1930, Ary escreveu as primeiras composições para o teatro musicado carioca. Foi aí que surgiu a antológica canção “Aquarela do Brasil”, sobre a qual já contamos a história aqui.
Em 1944, o artista recebeu o diploma da Academia de Ciências e Arte Cinematográfica de Hollywood pela trilha sonora do longa-metragem “Você já foi à Bahia?”, de Walt Disney.

No mesmo ano, foi indicado ao Oscar de Melhor Canção Original, com a música “Rio de Janeiro”, do filme “Brasil”, produção americana dirigida por Joseph Santley.
A partir de 1943, Ary Barroso manteve – durante vários anos – o programa “A Hora do Calouro”, na Rádio Cruzeiro do Sul, do Rio de Janeiro, no qual revelou e incentivou novos talentos musicais. Também trabalhou como locutor esportivo.
Durante a década de 1940 e a década de 1950, Barroso compôs vários dos sucessos consagrados por Carmen Miranda no cinema. Foi o compositor mais gravado pela artista de prestígio internacional, com mais de 30 músicas.
Ao todo, são conhecidas mais de 260 composições de autoria de Ary Barroso. Ele é autor de centenas de composições em estilos variados, como choro, xote, marcha, foxtrote e samba. Entre essas canções, as principais, além das já citadas:
- No Tabuleiro da Baiana (1936)
- Quando Eu Penso na Bahia (1937)
- Na Baixa do Sapateiro (1938)
- Boneca de Pixe (parceria com Luis Iglesias, de 1938)
- Camisa Amarela (1939)
- Os Quindins de Iaiá (1941)
- Pra Machucar Meu Coração (1943)
- Risque (1952)
Ary Barroso nos deixouem 1964, aos 60 anos, vítima de uma cirrose hepática, mas não sem antes deixar um imensurável legado para a música popular brasileira.



