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História da música “Vamos Fugir”, de Gilberto Gil

Hoje, nós vamos conhecer a história da música “Vamos Fugir”, sucesso mundial, que consolidou o trabalho de Gilberto Gil com o reggae, quando lançada em 1984, no álbum “Raça Humana”.

Durante o show da turnê “Tempo Rei” neste ano de 2025 – que é também uma grande celebração aos amores de Gil – o artista também homenageia um dos grandes amores de sua vida: Flora Gil, sua esposa há mais de 40 anos, mãe de três dos seus oito filhos e também diretora da Gege Produções Artísticas, a empresa que gerencia a carreira de Gilberto Gil.

Durante a música “Vamos Fugir”, o telão mostra fotos de Gil e Flora em uma viagem feita para a Jamaica, em 1984, justamente quando essa música foi composta. 

Na letra, o baiano fala sobre uma grande e avassaladora paixão, que nos faz querer fugir com a pessoa amada. É um diálogo com o par romântico, em que se propõe uma fuga para um lugar idílico, paradisíaco, “onde haja só meu corpo nu junto ao seu corpo nu”, onde haja um tobogã para escorregarem juntos nesta aventura que é o amor (e a fuga!).

Gilberto Gil e Flora Gil | Imagem: Instituto Gilberto Gil

“Vamos Fugir” é uma parceria de Gilberto Gil com o produtor musical e baixista paulistano Liminha, que estava produzindo o disco que o baiano foi gravar na Jamaica, o “Raça Humana”, junto com os músicos da banda jamaicana “The Wailers”, que acompanharam Bob Marley até a morte do chamado “Pai do Reggae”, em 1981.

Gilberto Gil já tinha a influência do reggae muito forte em seu trabalho desde o seu primeiro contato com o gênero, quando estava no exílio forçado em Londres por conta da ditadura militar brasileira e conheceu a música dos jamaicanos Jimmy Cliff e Bob Marley.

Depois, desde o álbum “Refavela”, de1977, Gil passou a trazer com toda a força as influências africanas para a sua obra, principalmente o reggae, quando se conectou ainda mais com sua ancestralidade, depois de participar do “Festival Mundial de Arte e Cultura Negra” na Nigéria.

Em seguida, ele introduz de vez o reggae na cultura brasileira ao inserir a canção “Não Chore Mais”, versão da música de Bob Marley, “No Woman No Cry”, no álbum “Realce”, de 1979.

Mas é com “Vamos Fugir” de Gil e Liminha, que o baianoafirma o seu lugar como o compositor que traduz o reggae no Brasil. Não mais o reggae jamaicano, mas agora o reggae feito no Brasil.

A importância de Liminha na composição de “Vamos Fugir”

Foi Liminha quem iniciou a composição de “Vamos Fugir”. Ele conta que, durante a viagem na Jamaica, um dia acordou, sentou no no chão da sala, pegou uma guitarra desligada e a música “baixou” toda de uma vez, num ímpeto de inspiração.

“Veio junto uma sequência harmônica, uma melodia e um trecho da letra em inglês: ‘Give me your love, Give me your love’, a estrutura dela veio pronta.”. conta ele, que é um dos maiores produtores musicais da história da música brasileira. Aí, Liminha foi mostrar a música pro Gil:

“A gente ia gravar esse disco, o ‘Raça Humana’, aí eu falei pro Gil:

  • Gil, fiz uma música para você.

Olha a cara de pau, né? Logo o Gil, que tem 500 músicas, um cara que nunca vai precisar de música! Aí, no último ou penúltimo dia em que a gente estava lá na Jamaica, estávamos ensaiando para fazer alguma coisa e ele falou assim: 

  • E aí, Limoso (apelido carinhoso que Gil chama Liminha), como é que é aquela música lá que você falou que tem?

Aí eu peguei a guitarra e comecei a tocar aquela coisa toda que eu já tinha feito.”.

Liminha e Gilberto Gil conversando durante os intervalos de gravações nos estúdios da Tuff Gong, em Kingston, na Jamaica, em 1984 | Imagem: Reprodução

Gil conta que Liminha então passou a música para Aston Barrett, baixista do The Wailers, e ele praticamente seguiu a linha que o brasileiro tinha esboçado. Logo, toda a banda assimilou a música com a maior rapidez:

“O Carlton Barrett, o baterista da banda, começou a tocar ‘One Drop’, que é um estilo de reggae um pouco mais arrastado, mas eu tinha imaginado uma coisa mais pra frente, uma coisa meio ‘Is This Love’. Quando eu falei isso pra eles, todos entenderam, e começaram tocar aquele riff do ‘Is This Love’ antes, para pegar o bit certo da música.”, conta Liminha.

Os músicos do The Wailers – gigantes que são – foram seguindo com a maior facilidade e naturalidade  as indicações básicas que o Liminha dava para eles sobre sua composição, ainda mais por ser um reggae, com a única parte de letra que tinha cantada em inglês.

Até o ícone Jimmy Cliff estava nesse dia de gravação e começou a cantar a música entusiasmadamente, dando a maior força para os brasileiros: “Foi tudo feito assim a várias mãos, várias cabeças pensando, dando palpite, ‘faz aqui, faz ali, tira essa nota, bota essa’”, conta Gil sobre o processo.

E a música caiu como uma luva para os The Wailers tocarem ao lado de Gilberto Gil. Logo em seguida, Liminha e Gil foram para Nova York para gravar os vocais em inglês com três cantoras negras de lá e só depois vieram para o Brasil para finalizar a música.

“Só quando chegamos ao Brasil é que eu fiz a versão em português de ‘Vamos Fugir’”, conta Gil. “E mesmo na gravação em português, tem algumas algumas frases do coro que são em inglês.”.

Além da declaração de amor à Flora, a letra de Gil também traz uma grande exaltação ao reggae: “Ela usa a força das rimas com a palavra ‘reggae’ como o elemento central da sonoridade e as outras palavras que rimam vão chegando exatamente para sustentar essa coisa do reggae. O fato de que insiste-se numa banda de reggae, dizer isso textualmente, é também para fazer um manifesto a favor do gênero.”, declara Gilberto Gil.

A música foi um sucesso imenso no Brasil assim que o disco foi lançado e chegou a tocar em rádios americanas e europeias.

“Vamos Fugir” também fez Gil se conectar com a juventude, um público novo que  estava surgindo, já com interesses renovados em música, especialmente por causa do reggae. Essa juventude pode entender que Gilberto Gil era absolutamente atual, um compositor que sabia falar para qualquer público. E ainda é, até os dias de hoje!

Começaram também nesta época a surgir novas bandas fazendo reggae em português.

Versão do Skank para “Vamos Fugir”

Na onda dessas bandas fazendo um reggae em português está Skank, banda mineira formada alguns anos depois do lançamento de “Vamos Fugir”, em 1991, com o intuito de trazer influências do dancehall jamaicano para a tradição pop brasileira. 

O dancehall é um estilo musical jamaicano, que nasceu no fim dos anos 70 e tem a estrutura enraizada no reggae, mas que traz também traços da música eletrônica, como as batidas dançantes com timbres digitais, tornando-o um pouco mais acelerado que o tradicional gênero jamaicano.

Aliando esses elementos da música jamaicana ao nosso pop rock brasileiro – já consagrado por bandas dos anos 80, como Os Paralamas do Sucesso, Titãs e Ira! – o Skank chegava com uma sonoridade única, versátil e autêntica. 

Em 2004, a banda gravou sua versão de “Vamos Fugir”, com um novo arranjo, trazendo uma fusão entre o rock e o reggae (que Gil diz gostar mais do que o seu!), trazendo a música novamente para o topo das paradas brasileiras, ganhando inclusive o Prêmio Multishow como “Música do Ano”.

Versão Gilberto Gil + Samuel Rosa

E exatamente nesta última semana, Gilberto Gil e Samuel Rosa – que foi vocalista do Skank e agora segue em carreira solo – gravaram uma versão de “Vamos Fugir” em parceria, celebrando o reggae e esse encontro inesquecível!

Confira como ficou:

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