IA já salvou cantores de agenda intensa; entenda

O cantor Léo Santana terminou os vocais do álbum “Paggodin”, com inteligência artificial, devido a uma turnê que tornou difícil a tarefa do baiano ir aos estúdios. 

O produtor do músico, Tesla encontrou uma empresa que clona vozes humanas, e solicitou um banco de arquivos da voz de Santana. O próximo passo foi pedir a Léo mandar áudios de WhatsApp com trechos que faltavam nas faixas. Assim, a IA reproduziu em qualidade de estúdio os versos.

O caso de Léo Santana não é único. A cantora Pocah utilizou a tecnologia para colocar  sua voz na faixa “Venenosa”. A canção é uma parceria da artista com os MCs GW e Triz que decidiram mudar o refrão de última hora, mas Pocah não teve tempo de gravar. Mais um artista salvo pela IA.  

Hit Global feito por IA

A IA foi responsável por promover um falso dueto entre The Weeknd e Drake que atingiu 10 milhões de reproduções no Tik Tok até as gravadoras conseguirem tirá-lo do ar, em maio de 2023. O autor nunca foi identificado.

Já o segundo hit, criado pelo chileno Mauricio Bustos, foi lançado o personagem FlowGPT, um artista híbrido: meio humano, meio robô.

Ele cria versos originais e os registra em vocais de IA que imitam cantores famosos. O hit “NostalgIA” chegou ao top 20 do Spotify espanhol no fim de 2023, antes de ser banido.

Bad Bunny, que teve a voz clonada por IA, disse que “NostalgIA” era “um lixo”. Já a catalunha Bad Gyal, que teve a voz sintetizada na música, disse que se identificou bastante. 

Mauricio diz que não ganhou dinheiro pela faixa, mesmo sendo compositor dos versos. Por outro lado, a canção causou tanta repercussão que o FlowGPT lançou faixas originais e fez a trilha de comerciais da Samsung e do KFC.

A música com IA no Brasil

A cantora Marisa Monte participou em julho de 2024 de uma audiência do Senado sobre a PL 2338/2023, que estabelece normas para o uso da Inteligência Artificial no Brasil, e expressou a importância da regulamentação.

“Como artista eu acredito que a arte é uma expressão individual do ser humano, e no entanto, com a inteligência artificial gerativa, os algoritmos são capazes de gerar músicas, imagens e textos que estão cada vez mais presentes nas nossas vidas. E é essencial que uma legislação acompanhe essas mudanças para proteger os direitos dos criadores e garantir um ambiente justo e equilibrado para todos.”  disse ela durante a sessão.

O cantor Roberto Frejat, também presente durante a audiência, concordou com a Marisa, elogiou o projeto de lei e ressaltou que a proposta de “autorregulação” de direito autoral é uma piada.

“É fundamental a proteção dos direitos porque eles são patrimônio cultural do país, essa é nossa cara, essa é a nossa história… E a maneira como a inteligência artificial trabalha com isso, ela acaba regurgitando isso de uma forma genérica. E isso é sempre uma diluição da essência que é nossa cultura.” 

Segundo o diretor da União Brasileira de Compositores, Marcelo Castello Branco, “a mudança vai acontecer”. Não queremos barrar a tecnologia, mas proteger os criadores humanos”.

O CEO da plataforma Strm Fernando Gabriel que os profissionais que souberem usar a inteligência artificial a seu favor, vão substituir os profissionais que não sabem utilizar essa tecnologia. 

A IA vai acabar com a música feita por humanos?

O produtor musical Felipe Vassão acredita que a IA vai produzir música mais funcional, repetindo fórmulas, esvaziando o sentido e buscando viralizar. “A inteligência artificial só recicla o que foi feito por humanos. Uma hora não vai ter mais o que copiar.”, disse. 

Além disso, Vassão se preocupa com a falta de incentivo em ideias originais, e teme não ter humanos fazendo arte no futuro.

Em entrevista ao portal UOL, a diretora global de relações artísticas do Youtube Vivien Lewit explica que no futuro os fãs vão se tornar criadores de música, mas que não vão executar uma produção profissional. Ou seja, assim como milhões de pessoas fotografam no celular sem a pretensão de profissionalizar o exercício, a IA vai tornar pessoas em criadoras de músicas.

Segundo Lewit, os especialistas vão continuar requisitados. Assim, músicos também vão contar com ferramentas de IA para aumentar a criatividade.

Já o CEO da plataforma Strm Fernando Gabriel, afirma que como os resultados de melodias, arranjos e letras criados por IA já estão ficando excelentes logo no começo dos testes, a tendência é que com a evolução dessas criações artísticas, no futuro o público terá dificuldade em identificar a diferença entre criações humanas e artificiais dentro da música. Assim, Gabriel acredita que os músicos vão perder bastante espaço:

“Porque existe músico que é músico de gravação. Antigamente, para você poder ter uma guia, para poder ter uma música gravada, você precisava contratar um baterista, contratar um guitarrista, contratar um baixista. Hoje você não precisa de nada disso. Você vai lá, aperta um botão, sai tudo gravado, tocado. Você não precisa contratar. Então, os músicos de estúdio, eles estão sim perdendo espaço e o campo de trabalho. Isso é um fato, não é nem uma opinião, é um fato.”

Porém, Gabriel afirma que o diferencial entre a máquina e o ser humano está na relação que o artista cria com uma base de fãs: 

“Eu acredito que ninguém é fã de música, você é fã do artista. (…) Você não fala que é fã da canção Let It Be. Você é fã dos Beatles, você gosta da música da Let It Be. Mas de quem você é fã, de quem você admira, quem você segue, quem você se inspira é na pessoa que está por trás da música.”

Segundo o CEO, a Strm se posiciona respeitando a arte do músico, sem se envolver no processo de criação envolvendo a individualidade humana. A empresa entra em cena visando a estratégia, com o foco nos processos, nas conexões, em acesso a recursos, e no emprego da inteligência da máquina para acelerar as questões burocráticas.

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