Com o crescimento da população mundial e a necessidade de buscar fontes sustentáveis de alimento, os insetos comestíveis ganham cada vez mais espaço como alternativa viável. Em países como Tailândia e México, a prática já é comum. Mas no Brasil, ainda há resistência cultural.
Para esclarecer esse tema, o Heródoto Barbeiro conversou com o professor Sandro Marques, especialista em estudos de alimentação. Ele explicou os benefícios nutricionais, os desafios culturais e a viabilidade da produção em larga escala.
Farinha de insetos é realidade
O consumo de insetos já não é novidade em diversas partes do mundo. Segundo Sandro Marques, a Tailândia, por exemplo, é um dos maiores exportadores de farinha de grilo.
“Insetos têm altos teores de proteína e outros nutrientes importantes para o organismo. Além disso, são mais sustentáveis, exigindo menos água, menos espaço e emitindo menos gases de efeito estufa”, afirmou.
Essa alternativa pode ser essencial para garantir a segurança alimentar global, principalmente com a estimativa de que a população mundial chegará a quase 10 bilhões de pessoas até 2050.
Insetos já fazem parte da alimentação brasileira
Embora o consumo de insetos pareça algo exótico para muitos brasileiros, a prática já existe há séculos, especialmente entre povos indígenas e comunidades rurais.
“No Brasil, há pelo menos 130 espécies de insetos consumidos tradicionalmente. A larva do coco e a formiga tanajura são exemplos comuns”, explicou Sandro Marques.
A formiga tanajura, por exemplo, é consumida frita ou misturada na farofa. “Ela tem uma textura crocante e era considerada um alimento benéfico para a visão”, lembrou o professor Heródoto da crença popular.
Barreira cultural ainda é desafio
O principal obstáculo para popularizar os insetos na alimentação é a rejeição cultural. Muitas pessoas associam esses animais a algo nojento ou impuro.
“Se pararmos para pensar, camarão e lagosta também não são visualmente atraentes. A diferença é que fomos acostumados a vê-los como iguarias”, disse Sandro Marques.
A adaptação do consumo pode vir por meio da indústria alimentícia, incorporando insetos em farinhas e produtos processados. “Hoje, há granolas e hambúrgueres feitos com farinha de inseto. Assim, as pessoas consomem sem perceber e sem estranhar”, afirmou o especialista.
Corantes naturais usam insetos e muita gente nem sabe
Muitas pessoas já consomem insetos sem perceber. Isso acontece, por exemplo, em alimentos com corante vermelho.
“O corante de coxonilha, amplamente utilizado em iogurtes e outros produtos, é feito a partir de um inseto criado especificamente para essa finalidade”, revelou Sandro Marques.
Essa informação mostra que, mesmo sem perceber, o ser humano já incorporou insetos em sua alimentação cotidiana.
Mudança de hábitos pode impulsionar consumo sustentável
Com o avanço da ciência alimentar e a necessidade de reduzir o impacto ambiental, o consumo de insetos pode se tornar cada vez mais comum.
Além de serem ricos em proteínas, exigem menos recursos naturais para sua produção, sendo uma alternativa mais sustentável do que a pecuária tradicional.
“A indústria precisa encontrar formas de inserir insetos na dieta de maneira acessível e culturalmente aceitável”, explicou Sandro Marques.
Com um trabalho de conscientização e inovação na forma de consumo, os insetos podem se tornar um ingrediente comum na alimentação do futuro.



