Se engravidar é um sonho, para muitos casais com dificuldades, ele pode parecer distante. Mas a inteligência artificial (IA) está mudando esse cenário e já se tornou uma grande aliada em clínicas de reprodução humana assistida. “A IA está transformando a forma como diagnósticos são feitos, embriões são selecionados e tratamentos são personalizados”, afirma a médica especialista em Reprodução Assistida, Maria Cecília Erthal.
Ferramentas inteligentes na escolha do embrião
Detalhes fazem toda a diferença no sucesso da fertilização in vitro (FIV). Escolher o melhor embrião e identificar o momento ideal para transferência ao útero são desafios em que a IA mostra seu valor. Desde 2015, algoritmos baseados em machine learning começaram a ser aplicados para analisar imagens embrionárias, superando muitas vezes a avaliação visual dos embriologistas.
Incubadoras inteligentes como o EmbryoScope realizam gravações contínuas do desenvolvimento embrionário. Com a ajuda da IA, os especialistas conseguem “analisar automaticamente essas imagens para identificar o momento ideal da divisão celular e detectar anomalias precoces”. Assim, a seleção de embriões é feita com precisão muito maior, identificando detalhes que passariam despercebidos.
“Isso aumenta as chances de sucesso nos ciclos de FIV, ajudando os especialistas a tomarem decisões mais seguras e assertivas,” reforça Maria Cecília Erthal. Outro benefício significativo é a manipulação reduzida dos embriões, o que garante mais estabilidade durante o cultivo e diminui riscos durante o processo.
Personalização do tratamento e menos tentativas
O uso da IA vai além da análise dos embriões. Sistemas como o FertilityAI cruzam dados genéticos, hormonais e comportamentais dos pacientes, sugerindo caminhos personalizados de acordo com cada caso. “A IA consegue cruzar informações genéticas, hormonais e comportamentais, sugerindo caminhos personalizados para o tratamento, reduzindo o número de tentativas e o tempo necessário até a tão sonhada gravidez,” explica Erthal.
Esses algoritmos consideram informações como idade, reserva ovariana, qualidade dos espermatozoides e histórico médico, oferecendo sugestões individualizadas para protocolar a estimulação ovariana ou traçar estratégias terapêuticas. O resultado é um processo mais eficiente, com menos tentativas e custos menores ao longo do tratamento.
Plataformas recentes também estão desenvolvendo modelos preditivos, capazes de estimar as chances reais de gravidez conforme os dados demográficos e laboratoriais de cada casal. Isso permite decisões mais claras e informadas sobre o planejamento familiar.

IA como aliada — e não substituta — do especialista
Apesar dos avanços impressionantes, Erthal faz questão de ressaltar: “A inteligência artificial não substitui o médico. Ela atua como uma ferramenta poderosa que apoia o trabalho da equipe de especialistas, otimizando etapas do processo e oferecendo mais segurança tanto para os profissionais quanto para os pacientes.”
Estamos apenas no início dessa revolução, mas os benefícios já são visíveis na medicina reprodutiva. A IA inaugura um novo capítulo: mais tecnológico, mais preciso e, paradoxalmente, mais humano, ao ampliar as possibilidades e tornar o sonho dos filhos possível para cada vez mais famílias.



