Luiz Melodia foi um desses artistas que não cabem em rótulos. Filho do samba do Estácio, apaixonado pelo soul, pela poesia e pela vida, ele criou uma sonoridade que era, ao mesmo tempo, sofisticada e popular, delicada e intensa. Sua voz — grave, aveludada, inconfundível — transformava qualquer letra em emoção. Quando cantava, parecia que cada palavra carregava o peso de uma história e a leveza de um sonho.
O público o conheceu como o autor de “Pérola Negra”, imortalizada na voz de Gal Costa, e “Estácio, Eu e Você”, mas Luiz Melodia era muito mais do que o compositor por trás de sucessos. Ele era um intérprete de alma, um contador de histórias. Tinha o dom de transformar o cotidiano em poesia, o amor em resistência e o sofrimento em beleza. Sua música era um retrato fiel do Brasil que ele vivia — um Brasil negro, boêmio, contraditório e profundamente humano.
Ouça “Pérola Negra”:
Melodia foi, em muitos aspectos, um desbravador. Em uma época em que artistas negros eram frequentemente empurrados para nichos, ele mostrou que o talento não tem cor nem fronteiras. Misturou samba, rock, bossa nova, soul e reggae muito antes de a palavra “fusion” virar moda. Sua arte era livre, como ele. E talvez por isso tenha sido tão incompreendido por parte da crítica, mas tão amado pelo público.
Mesmo após sua partida, sua presença continua pulsando na música brasileira. Artistas jovens o reverenciam como referência de autenticidade. Seu legado inspira uma nova geração de músicos negros que, como ele, buscam romper padrões e cantar o Brasil com verdade. Luiz Melodia permanece sendo o “Negro Gato” — símbolo de elegância, ousadia e doçura. Um artista que ensinou que ser negro é ser plural, e que a arte, quando feita com alma, é eterna.



