Em meio às paredes apagadas e ao controle rígido do rádio tradicional nos anos da ditadura, surgiu uma voz audaciosa na Baía de Guanabara, a Fluminense FM. Mas não era só mais uma emissora, era A Maldita.
Em 1º de março de 1982, sob comando de Luiz Antônio Mello e equipe jovem, a rádio virou a mesa e dedicou-se 24 horas ao rock, abriu espaço para demos e bandas desconhecidas, rejeitou o “jabá” e mostrou que esse gênero poderia sim ser mainstream.
Bandas como Legião Urbana, Barão Vermelho, Blitz e Paralamas do Sucesso começaram a descobrir microfones e plateias graças a esse novo norte.
Maldita em ação, os marcos da rádio que fez o país ouvir um novo som
Origem e ruptura de padrões
A Fluminense FM já existia desde os anos 70, mas foi só em março de 1982 que entrou em uma nova fase. Um grupo jovem assumiu os microfones e decidiu jogar tudo no rock, 24 horas por dia. Não era só o som importado das paradas internacionais, as demos gravadas em fitas cassete, bandas recém-nascidas e músicas que jamais entrariam nas rádios comerciais começaram a ganhar espaço.
Uma identidade ousada
Na estreia dessa nova fase, só mulheres no comando da locução. Para a época, foi um gesto quase tão revolucionário quanto a própria proposta musical. A rádio queria criar uma identidade própria, diferente de tudo que se ouvia.

As primeiras descobertas
Foi pela Maldita que muita gente ouviu pela primeira vez nomes como Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Barão Vermelho. Mas a rádio não parava aí, abria espaço também para quem circulava no underground carioca, de Celso Blues Boy à banda progressiva Bacamarte, passando pela ousadia da Dorsal Atlântica e pelo experimentalismo do Grupo Rumo.
Um Brasil em plena virada
O país respirava abertura política, começava a se livrar do peso da censura, e a juventude buscava novas vozes. A Maldita se transformou em trilha sonora dessa mudança. Não era só rádio, era o combustível para festas, danceterias, shows em pequenos clubes. Quando chegou o Rock in Rio em 1985, o terreno já estava preparado, e muito disso passava pelas ondas da Fluminense.
Entre o auge e o fim
Durante mais de uma década, a Maldita foi referência para quem queria ouvir rock de verdade. Mas o tempo trouxe concorrência, a indústria fonográfica se transformou e os hábitos de consumo também. Em 1994, a rádio virou afiliada da Jovem Pan 2, mudando radicalmente o estilo. Aos poucos, foi perdendo sua essência, até deixar de existir no formato que a eternizou.
O que ficou da Maldita?
Em pouco mais de uma década no ar, a Fluminense FM ajudou a consolidar uma cena que ainda hoje é referência. Lançou nomes que se tornaram pilares da música brasileira, deu visibilidade ao underground carioca e mostrou que o rádio podia ser espaço de experimentação e não apenas de repetição das paradas.
O impacto foi tamanho que a história da Maldita virou tema de livro (A Onda Maldita, de Luiz Antônio Mello) e de filme (Aumenta que é Rock’n’Roll, de Tomás Portella, 2023), o que garante que sua contribuição não se perca na memória.
A rádio pode ter saído do ar, mas deixou um registro histórico de como uma programação ousada foi capaz de alterar o rumo da música popular no Brasil.



