Você sabe o que as cantoras e compositoras brasileiras Liniker e Vanusa têm em comum, além de serem grandes nomes da nossa música popular brasileira?
Hoje, dia 22 de setembro, seria aniversário de 78 anos de Vanusa, artista que nos deixou há cinco anos, em novembro de 2020. Para homenageá-la, vamos relembrar uma série que faz exatamente isso: “Manhãs de Setembro”.
Manhãs de Setembro: Série e música
Protagonizada pela maravilhosa Liniker – que além de cantar e compôr, ainda atua muito bem – “Manhãs de Setembro” estreou no streaming Prime Video em junho de 2021 e conta a história de Cassandra, uma mulher trans que trabalha como motogirl em São Paulo e que tem na música sua maior força.
Cassandra precisou abandonar sua cidade para realizar seu grande sonho de ser artista. Ela faz covers de Vanusa, cantora brasileira que fez muito sucesso nos anos 70 e de quem a personagem é muito fã.
Após anos de muito sofrimento, Cassandra vive finalmente um momento de estabilidade: ela conseguiu alugar um apartamento só seu e descobre o amor ao conhecer Ivaldo (vivido pelo ator Thomas Aquino). Mas tudo se complica quando sua ex-namorada, Leide (Karine Teles), reaparece com um menino que diz ser seu filho. Relutando para não aceitar a condição, ela inicialmente refuta o filho, mas logo vê sua vida virar de ponta-cabeça ao ver que o menino não tem opções.
O título da série – dirigida por Luís Pinheiro e Dainara Toffoli – é também o nome de uma das canções de maior sucesso de Vanusa e primeiro grande hit da cantora. “Manhãs de Setembro” foi composta pela artista em parceria com Mário Campanha, e lançada no seu quarto álbum, em 1973.
A canção cai como uma luva na trama da série: poética, ela traz o tema da superação e fala sobre seguir em frente, apesar das dificuldades. Trata de um passado difícil e a vontade de trazer alegria para o presente.
Há interpretações de que “Manhãs de Setembro” também seria uma crítica à ditadura militar, então vigente no Brasil, por fazer referência à música “Para Não Dizer Que Não Falei das Flores”, de Geraldo Vandré: “Fui eu que em primavera / Só não viu as flores / E o Sol / Nas manhãs de Setembro”.
Uma das cenas mais impactantes da série, é Liniker – na pele de Cassandra – interpretando a canção de Vanusa. Aqui, a gente pode escutar a cena, e a introdução que Cassandra faz sobre a canção:
“Manhãs de Setembro” – que também conta com Linn da Quebrada, Samantha Schmütz, Seu Jorge ePaulo Miklos no elenco – teve duas temporadas de muito sucesso e vai virar filme, ainda sem data prevista para a estreia.
A série teve 16 indicações a prêmios nacionais e internacionais e ganhou seis delas, incluindo o APCA (prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte) de Melhor Série Dramática e o Prêmio Cidadania em Respeito à Diversidade LGBTQIAP+.
“Manhãs de Setembro” também foi indicada na categoria Melhor Drama na 34ª edição do Glaad Media Awards, premiação estadunidense que celebra artistas e produções inseridas na comunidade LGBTQIA+.
Mais sobre Vanusa

Vanusa Santos Flores nasceu na cidade de Cruzeiro, no Vale do Paraíba paulista, sendo criada nas cidades mineiras de Uberaba e Frutal.
Aos 16 anos, tornou-se vocalista do conjunto Golden Lions. Em uma das apresentações foi ouvida por Sidney Carvalho, da agência de propaganda Prosperi, Magaldi & Maia, que a convidou para ir a São Paulo.
Em 1966, durante os últimos anos do movimento cultural Jovem Guarda, apresentou-se no programa “O Bom”, de Eduardo Araújo, na extinta TV Excelsior, de São Paulo.
Logo, foi contratada pela RCA Victor e ganhou êxito com a canção “Pra Nunca Mais Chorar” (composição de Eduardo Araújo eCarlos Imperial). O sucesso a fez participar das duas últimas edições do programa “Jovem Guarda”.
Em 1968, Vanusa gravou seu primeiro álbum, que levou o seu nome, estreando ainda como compositora em três canções. Cinco anos depois, lançou seu maior sucesso: “Manhãs de Setembro”. Em 1975, lançou outro hit: Paralelas, uma composição antológica de Belchior.
Em 1977, Vanusa protagonizou como atriz – ao lado de Ronnie Von – a telenovela “Cinderela 77”, da Rede Tupi. Depois, participou das novelas “Marron Glacé” (1979) e “O Amor É Nosso” (1981).
Em 1997, a artista publicou sua autobiografia, “Vanusa – A Vida Não Pode Ser Só Isso!”.
Em 2005, participou de vários concertos comemorativos aos 40 anos da Jovem Guarda. E em 2015, lançou seu primeiro álbum de canções inéditas em 20 anos, e seu vigésimo álbum da carreira: ‘’Vanusa Santos Flores”, produzido por Zeca Baleiro.
Sobre Liniker

Nascida em Araraquara, Liniker flerta com a arte desde pequena. Ela via a sua mãe e tios em rodas de samba rock, algo que se tornou uma semente que viria a germinar adiante.
Começou a cantar e a compor aos 15 anos, por influência dos tios – sambistas e compositores – e da mãe, professora de samba rock e grande apoio de sua carreira. As influências do jazz, soul, MPB e samba refletem nos temas de sua vivência, como amor, transgeneridade, representatividade, negritude e ancestralidade, colocando Liniker como um corpo livre e político.
Ela estudou na Escola Livre de Teatro, em Santo André, local responsável por fazê-la ter contato com muitas das suas camadas artísticas.
Em 2015, ficou conhecida no Brasil e internacionalmente ao colocar na internet o EP “Cru”, lançado sob a alcunha de “Liniker e os Caramelows” (Os Caramelows é a banda que acompanhava a artista)e que trouxe três faixas gravadas de forma ao vivo, entre elas, o super sucesso “Zero”, que atingiu dois milhões de visualizações no Youtube em dois dias, chegando hoje a mais de 41 milhões de visualizações.
De lá pra cá, Liniker ganhou cada vez mais prestígio com sua voz bela, única e potente e com sua interpretação sensível e visceral. Ela rodou o país e o mundo com turnês quando lançou o álbum “Remonta” – via financiamento coletivo – em 2016.
Depois, o álbum “Goela Abaixo”, de 2019, foi indicado ao Grammy Latino de Melhor Álbum Pop Contemporâneo em Língua Portuguesa.
A partir daí, Liniker passou ainvestir em sua carreira-solo e também em sua atuação como atriz. Em 2021, ano em que estreou “Manhãs de Setembro”, também lançou o seu primeiro disco-solo, o aclamado “Índigo Borboleta Anil”.
O álbum venceu o Grammy Latino de 2022 na categoria de Melhor Álbum de Música Popular Brasileira, tornando Liniker a primeira artista trans brasileira a ganhar um Grammy Latino, um fato histórico!
Liniker também foi a primeira mulher trans a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Cultura. Ela foieleita “imortal” em novembro de 2023, aos 28 anos, quando assumiu a cadeira 51ª, que foi de Elza Soares.
O mais recente lançamento da cantora, o álbum “CAJU”, de 2024, é considerado um dos melhores discos dos últimos tempos. O novo disco – indicado em sete categorias do Grammy Latino – entrega relatos extremamente pessoais de Liniker, em uma mistura de estilos que vai do pop, samba, jazz e house ao pagode, arrocha, disco e reggae.



