Os cargos júnior estão desaparecendo. E isso pode ser o maior alerta silencioso do mercado de trabalho. Antigamente, mineiros levavam canários para dentro das minas.
Se o bicho morresse, era sinal de gás tóxico invisível. O canário não era o problema. Ele era o alarme. Hoje, nossos jovens são esses canários. Eles estão sendo os primeiros a sentir os efeitos da automação por inteligência artificial.
Um estudo de Stanford, publicado em agosto de 2025, analisou dados da ADP, maior processadora de folhas de pagamento dos EUA, e trouxe o alerta: jovens de 22 a 25 anos tiveram uma queda média de 13% no emprego em áreas altamente expostas à IA.
Exemplos:
- Programação júnior
- Redação e criação de conteúdo
- Design gráfico básico
- RH inicial / recrutamento de base
- Análise financeira de entrada
O degrau de entrada sumiu
E o mais perturbador: não é demissão. É não contratação. O júnior nem chega a entrar. O cargo que antes servia para aprender fazendo agora é executado por uma IA que já chega treinada, não pede feedback e não erra por inexperiência.
Isso cria um paradoxo perigoso: como alguém vira sênior sem nunca ter sido júnior? O funil tradicional de carreira está entupido na base. E quem consegue furar esse bloqueio? Jovens com bons contatos. Quem já domina IA desde o começo. Quem vem de escolas que oferecem esse diferencial. O resto corre o risco de ficar fora do jogo.
Mas há sinais de reinvenção. Novos cargos híbridos, juniores que atuam como curadores de IA, títulos experimentais como AI Ops Assistant ou Junior AI Validator. Ainda frágeis, mas já apontando uma direção.
O estudo de Stanford é um lembrete duro: o início da vida profissional já foi automatizado.
E a pergunta que fica é simples e incômoda:
como redesenhar o começo de carreira num mundo onde o começo já não é humano?
