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Maracatu, coco e embolada: os ritmos do Nordeste que você precisa conhecer

No batuque dos tambores e na poesia cantada que improvisa a vida, o Nordeste brasileiro guarda alguns dos ritmos mais potentes da cultura popular. Maracatu, coco e embolada têm raízes nas tradições africanas, indígenas e europeias, atravessaram séculos enfrentando preconceitos, silenciamentos e, ao mesmo tempo, encantando palcos pelo mundo.

Maracatu: o cortejo do tambor e da ancestralidade

Reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil pelo IPHAN, o Maracatu de Baque Virado tem origem nas coroações de reis e rainhas do Congo, rituais criados por africanos escravizados em Pernambuco.

A manifestação mistura música, dança e teatro, com uma forte presença dos tambores alfaias, do gonguê e da caixa.

Alfaia:
É o tambor mais característico do maracatu de baque virado. Feito com madeira e couro natural, é tocado com baquetas grossas e produz um som grave e encorpado, que marca o compasso e dá força ao cortejo. Cada alfaia é afinada por cordas e cunhas de madeira, nada de parafusos. O batuque das alfaias é considerado o coração do maracatu.

Gonguê:
É um instrumento metálico de origem africana, semelhante a um grande agogô, feito de ferro. É tocado com uma baqueta de metal e tem som agudo e penetrante. No maracatu, o gonguê marca o tempo e ajuda na coordenação rítmica do grupo. Seu som é quase como um “sinal” para as mudanças de ritmo.

Caixa:
É um tambor menor, semelhante à caixa da bateria, com peles tensionadas por cordas ou parafusos. Seu som é mais estalado e cortante. No maracatu, a caixa “encaixa” entre os graves das alfaias e os agudos do gonguê, que cria um ritmo sincopado que sustenta o andamento do cortejo.

Já os cortejos impressionam pelo luxo das fantasias e pela força dos batuques que passam pelas ruas do Recife durante o carnaval.

Artistas e grupos de destaque:

  • Nação do Maracatu Leão Coroado (fundada em 1863)
  • Maracatu Nação Porto Rico, que faz parte da nova geração, com ações sociais e oficinas
  • Mestre Walter de França, uma das maiores lideranças da cultura afro-pernambucana

Coco: a dança do pé batido e do canto de trabalho

Nascido nos canaviais e nas regiões de litoral, o coco é um canto de origem popular que mistura dança, percussão e poesia. Seus versos falam da vida no sertão, do trabalho e da resistência cotidiana, sendo cantados em roda com palmas, tambores e o som marcado pelo “pé batido”.

O coco também é um símbolo de encontros e festas comunitárias no Nordeste.

Artistas e grupos de destaque:

  • Selma do Coco (1943–2015), que levou o gênero ao palco do Rock in Rio
  • Coco Raízes de Arcoverde, grupo tradicional do Sertão de Pernambuco
  • Aurinha do Coco, mestra viva da cultura popular em Alagoas

Embolada: o repente rimado do pandeiro e da rua

Com versos rápidos, cheios de humor e crítica social, a embolada é uma forma de improvisação cantada geralmente acompanhada por pandeiros. Os emboladores costumam se apresentar em feiras e praças, desafiando-se em duelos verbais que lembram o repente e o hip hop.

Suas rimas trazem sátira, sabedoria popular e agilidade impressionante. A embolada é também uma precursora da cultura oral nordestina e inspirou até movimentos urbanos como o manguebeat.

Artistas e duplas de destaque:

  • Caju e Castanha, dupla icônica que popularizou o estilo em todo o Brasil
  • Zé da Luz, poeta e embolador cuja obra é estudada em escolas
  • Mirandinha, conhecido por performances em feiras do sertão

Como esses ritmos se conectaram com o rap, o manguebeat e o forró eletrônico

Hoje, esses ritmos se reinventam com força em projetos de educação musical, editais de cultura e festivais que reconhecem o valor das tradições orais e coletivas.

Grupos como o Maracatu Nação Encanto do Pina atuam em escolas públicas com oficinas de percussão e história afro-brasileira, o coco encontra novos públicos em circuitos universitários e produções independentes, enquanto emboladores, como Caju e Castanha, continuam ativos, inclusive nas redes sociais, adaptando seus versos às discussões de hoje.

A integração dos ritmos tradicionais nordestinos com gêneros contemporâneos como rap, manguebeat e forró eletrônico acontece com a criatividade de artistas que souberam unir o saber popular com as linguagens urbanas:

  • Nos anos 1990, o movimento Manguebeat, liderado por Chico Science e Fred Zero Quatro, incorporou o maracatu de baque virado ao rock, rap e eletrônico, uma identidade sonora diferente de tudo surgia. O álbum Da Lama ao Caos (1994) da Nação Zumbi não deixa desmentir.
  • O coco e a embolada também ganharam espaço na cena alternativa e urbana dos anos 2000. Selma do Coco virou referência cult em festivais independentes, e emboladores passaram a ser sampleados por DJs.
  • O forró eletrônico absorveu elementos desses ritmos, popularizou a base rítmica do coco e a métrica da embolada em versões midiáticas, às vezes diluídas.

Esses ritmos não ficaram presos ao passado, estão nas playlists das novas gerações, com outras linguagens musicais e ocupando espaços antes negados à cultura popular. O que antes era tradição oral nas feiras do sertão, hoje é também conteúdo de formação, resistência política e reinvenção estética. Conhecer maracatu, coco e embolada é compreender como o Brasil se constrói a partir das margens, com ritmo, inteligência, memória e uma dose de alegria.

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