Figura inquieta, transitava com naturalidade entre a criação artística e o trabalho de pesquisador, escreveu romances e contos que romperam padrões, viajou pelo Brasil em expedições para registrar manifestações populares e defendeu a preservação da memória cultural em projetos pioneiros no Departamento de Cultura de São Paulo.
Sua obra funde erudição e referências do cotidiano, traduz um Brasil plural, de vozes e ritmos diversos. Ler Mário de Andrade é tentar compreender a identidade nacional em toda a sua complexidade.
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Principais obras de Mário de Andrade
Pauliceia Desvairada (1922) – Primeiro livro de poemas de Mário de Andrade, tornou-se um marco do modernismo nacional. Em seu prefácio, o autor antecipou as propostas vanguardistas da Semana de 22.
O livro retrata o frenesi da São Paulo urbana do início do século 20, com imagens livres e versificação inovadora. Foi a estreia literária de Mário e inspirou toda a geração modernista brasileira.
Amar, Verbo Intransitivo (1927) – Romance fundamental sobre a alta sociedade carioca da década de 1920. A história acompanha uma jovem sofisticada que, ao se apaixonar, questiona as convenções burguesas.
Macunaíma (1928) – Considerado a obra-prima de Mário de Andrade, narra as aventuras de um herói sem caráter em um périplo pelo Brasil. Uma das obras imortais da literatura brasileira, o escritor mistura mitos indígenas, lendas folclóricas e cenas urbanas para criar uma fábula modernista sobre a formação da alma nacional.

Clã do Jabuti (1927) – Coletânea de poemas em que Mário dá voz à brasilidade por meio de temas populares, rítmicos e folclóricos. Mostra a foco lírico e inventivo do autor, profundamente conectado às raízes culturais.
O Turista Aprendiz (publicado postumamente em 1977) – Reunião de crônicas de viagem escritas a partir de sua expedição etnográfica pelo Norte e Nordeste. Mostra seu olhar atento ao folclore, às tradições e à diversidade brasileira.
Os Filhos da Candinha (1943) – Coletânea de crônicas publicadas no O Estado de S. Paulo, em que Mário reflete com ironia e acuidade sobre costumes, política e cotidiano. Um registro importante de sua visão crítica sobre a sociedade urbana.
Contos Novos (publicado postumamente em 1947) – Reúne narrativas curtas que exploram dramas humanos com profundidade psicológica e forte dimensão social. Entre os mais conhecidos estão Peru de Natal e Frederico Paciência.
O que você aprende sobre Mário de Andrade ao ler essas obras
Ler as principais obras de Mário de Andrade é mergulhar no imaginário modernista brasileiro e compreender temas centrais da cultura nacional. Livros como Pauliceia Desvairada, Amar, Verbo Intransitivo e Macunaíma são considerados fundamentais para entender sua influência literária.
Essas sete obras selecionadas exemplificam bem sua variedade criativa. Abrangem diferentes gêneros literários, das poesias aos romances, contos, crônicas e ensaios, que mostram a amplitude dos estilos que percorreu.
Membro ativo da Semana de Arte Moderna de 1922, Andrade usou sua escrita para romper com padrões europeus e afirmar uma literatura genuinamente brasileira, com a cara do Brasil. Em cada livro, fica patente seu esforço de valorizar a cultura nacional. Ele defendia aproximar fala e escrita numa “língua brasileira”, como proclamou em Paulicéia, ao declarar que “Escrevo brasileiro”, incorporando regionalismos e sotaques no texto literário.

Mas mais do que estilos, essas obras destacam os temas centrais de Mário de Andrade: linguagem, identidade, cotidiano e contradições sociais. Em Macunaíma (1928), por exemplo, o herói sem caráter percorre mitos indígenas na cidade grande, uma crítica bem-humorada ao próprio povo brasileiro. Nessa narrativa carregada de folclore, Andrade busca fortalecer a identidade cultural brasileira ao resgatar lendas nativas.
Outros livros exploram o dia a dia urbano e as tensões sociais: Amar, Verbo Intransitivo (1927) denuncia abertamente a hipocrisia sexual da alta sociedade paulistana, e seus contos e crônicas retratam vícios e dilemas cotidianos com ironia.
Assim, os títulos percorridos sinalizam fases distintas de sua trajetória, dos primeiros versos modernistas dos anos 1920 às narrativas finais reunidas postumamente (até 1947), um panorama coerente de evolução artística.
Em última análise, esses livros ajudam o leitor a compreender Mário de Andrade como um intelectual engajado com o Brasil, com valorização da língua, da cultura e da identidade nacionais.



