Existem livros que se leem com os olhos. Outros, com o coração. E há aqueles que pedem algo mais: silêncio, sombra e um pouco de vento. Debaixo do Céu, escrito por Elizabeth Fontes e ilustrado por Malu Rodrigues, é desses que parecem feitos de um intervalo — aquele instante em que o tempo desacelera e a vida pede para ser observada com calma.
É um livro feito para ser lido sem pressa, em “horinhas de descuido”, como dizia Mário Quintana. Pode ser debaixo de uma árvore, ao som dos passarinhos, no sofá da sala depois do almoço ou na beira da cama, antes do sono chegar. Porque a poesia desse livro não está apenas nas palavras: ela está no ar, no gesto de quem lê e no olhar de quem escuta.
As ilustrações de Malu Rodrigues têm a leveza do que não se explica — e as palavras de Elizabeth Fontes nos lembram que o encantamento ainda é uma forma de conhecimento. Juntas, autora e ilustradora criam um pequeno mundo onde o céu cabe dentro da página e a infância se reconhece na delicadeza de cada verso.
Mas talvez o que mais emocione em Debaixo do Céu seja o lembrete sutil de que ler para uma criança é um ato de amor. Mesmo quando elas ainda não sabem ler, as crianças entendem o som da voz, o ritmo da pausa, o calor da presença. É ali, entre uma palavra e um suspiro, que nasce o amor pelos livros — e por tudo o que eles representam: imaginação, acolhimento, curiosidade, escuta.

Ler para uma criança é ensinar o valor da atenção num mundo que corre depressa demais. É dizer, com gestos e silêncios, que há beleza no que é pequeno, e que a poesia mora nas coisas simples — no balançar de uma folha, no cheiro da terra molhada, no azul que muda de cor a cada entardecer, da mudança de página.
E talvez seja esse o segredo que Debaixo do Céu nos sopra com delicadeza: a poesia está em tudo — basta olhar com olhos de surpresa. O mesmo olhar que as crianças têm de sobra, e que nós, adultos, precisamos reaprender a cultivar.



