Quando penso na infância brasileira, duas imagens me vêm à cabeça: o balão de fala de um gibi da Turma da Mônica e a capa colorida de um livro de Ana Maria Machado. De um lado, Mauricio de Sousa e seu universo de personagens que vivem entre o humor e a ternura. Do outro, Ana Maria e suas histórias que misturam fantasia, poesia e um olhar atento sobre o mundo. Juntos, esses dois autores formaram algo muito maior que leitores — formaram cidadãos.
Mauricio ensinou que ler pode ser divertido. Que as palavras não precisam ser difíceis para serem profundas. Com seus traços simples e sua genialidade narrativa, ele transformou o cotidiano infantil em filosofia de bolso: Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali e Chico Bento nos ensinaram a lidar com diferenças, a rir de nós mesmos e a entender o valor da amizade e da ética. Seus gibis coloridos — comprados nas bancas, trocados entre amigos, lidos debaixo das cobertas — fizeram mais pela alfabetização emocional e leitora do que muitos currículos escolares.
Ana Maria Machado chegou com outro tipo de magia: a das palavras que convidam a pensar. Em livros como Menina Bonita do Laço de Fita, Bisa Bia, Bisa Bel ou Do outro mundo, ela mostrou que literatura infantil é lugar de beleza, mas também de profundidade. Suas histórias falam de ancestralidade, de identidade, de imaginação, e, sobretudo, de liberdade. Ana Maria nos ensinou que o livro infantil não é menor — é o início de tudo. É onde a sensibilidade e a cidadania aprendem a caminhar juntas.
Hoje, como mãe, percebo o quanto esses dois mundos continuam fundamentais. Quando leio um gibi da Turma da Mônica para o Bento, sinto que abro a porta para uma infância curiosa e gentil. Quando penso nas histórias de Ana Maria, lembro que a palavra pode ser uma ferramenta de empatia e transformação.
Mauricio e Ana Maria formaram leitores, sim. Mas, mais do que isso, ensinaram o Brasil a pensar com afeto. A entender que ler não é apenas decifrar letras — é compreender o outro, o mundo e a si mesmo.
No fundo, talvez essa seja a maior missão da literatura infantojuvenil: fazer com que, mesmo depois de adultos, a gente siga acreditando que sempre há uma nova história para aprender a viver.



