No próximo domingo, meu filho vai completar um ano, logo, é um bebê. Ainda não chegou na fase dos “por quês” — aquele momento em que as crianças transformam a casa num grande laboratório de curiosidade, fazendo da própria vida uma sequência infinita de perguntas e das nossas vidas, pais e/ou responsáveis, um verdadeiro sumário de respostas. Mas eu confesso que já estou à espera dessa fase. À espera da enxurrada de dúvidas, do espanto, do olhar curioso que busca entender o mundo. Este olhar já é bem perceptível no Bento e eu morro de amores ao redescobrir o mundo pelos olhos dele.
Talvez porque, como adulta — e jornalista — eu tenha aprendido que as perguntas são o que movem o mundo. São elas que nos fazem pensar, criar, crescer. O grande barato da vida, afinal, não está em ter respostas prontas, mas em aprender a formular boas perguntas. É isso o que nos mantém vivos por dentro: a capacidade de se espantar, de querer saber, de continuar procurando.
O livro “De onde nascem as perguntas?”, de Alexandre Coimbra Amaral, fala exatamente disso. Nele, um homem sonha que volta a ser o menino que um dia foi — e, guiado por uma única pergunta, se lança num percurso poético e simbólico de autodescoberta. Alexandre, que estreia na literatura infantil com a sensibilidade de quem escuta o que há de mais humano em nós, convida o leitor — criança ou adulto — a fazer o mesmo: a se permitir nascer de novo a cada pergunta que ousa fazer.
A leitura me tocou profundamente. Porque, embora o Bento ainda não fale, sinto que ele já pergunta com o olhar. Quando estica os bracinhos para o mundo, quando observa o vento batendo nas folhas, quando sorri sem entender por que a gente sorri de volta — ele está, de alguma forma, se perguntando. E é bonito perceber que as perguntas já existem dentro da gente, mesmo antes das palavras.

Tive a oportunidade de entrevistar o escritor e psicólogo Alexandre Coimbra Amaral em meu programa semanal na Novabrasil FM e convido você a ouvir nosso papo. Sensível e muito didático, ele nos relembra que bons pais criam bons filhos e que o perigo da vida adulta é, talvez, deixarmos de fazer perguntar. O de achar que já sabe, quando, na verdade, o saber de verdade é continuar se perguntando.
“De onde nascem as perguntas?” é um lembrete terno e filosófico de que perguntar é se permitir renascer — para si mesmo e para o mundo. É o que eu desejo para o meu filho: que ele nunca perca a curiosidade, nem o espanto, nem o desejo de compreender o que pulsa dentro e fora dele.
Que ele descubra, bem cedo, que a vida é menos sobre encontrar respostas — e mais sobre ter coragem de continuar perguntando.



