Há um ano eu renasci. E, como toda história de nascimento, a minha também começou com uma espera. Foram muitas tentativas frustradas antes de engravidar, inúmeros exames, rios de lágrimas escondidas no travesseiro e também explícitas, mas durante todo esse tempo uma esperança teimosa, dessas que não se explica, só se sente, se manteve presente. Até que um dia, após mais uma FIV o beta HCG deu positivo e o exame de farmácia mostrou, finalmente, as duas linhas. Duas pequenas linhas que mudaram tudo.
Lembro do susto (depois de tantos nãos, o sim me surpreendeu) e da alegria, da vontade de contar pro mundo que minhas orações haviam sido atendidas e do medo de que algo desse errado. A gravidez foi um turbilhão: de amor, de ansiedade, de desconforto, de sobrepeso, de uma felicidade que cabia e transbordava ao mesmo tempo. Eu, que sempre controlei o tempo das coisas, precisei aprender que já não tinha controle de nada. Bento me ensinou, antes mesmo de nascer, que a vida tem seu próprio ritmo — e que o amor nasce junto com a coragem.
Quando o vi pela primeira vez nos meus braços, o tempo parou. Havia uma paz que eu nunca tinha sentido. Um silêncio cheio de sentido. Um amor tão novo e tão antigo que parecia sempre ter existido.

Ser mãe pela primeira vez aos 43 anos é um mergulho profundo. É se reinventar quando o mundo já te julgava pronta e acabada. É aprender a ser vulnerável, a ser forte e doce no mesmo instante. É acordar exausta e, ainda assim, grata. É se culpar e se perdoar, todos os dias. É se olhar no espelho e enxergar outra mulher — mais paciente, mais cansada, mais inteira.
E tem também o desafio que me atravessa como mulher e como cidadã: educar um menino num mundo que ainda insiste em odiar as mulheres. Penso nisso todos os dias. Penso no tipo de homem que quero que ele se torne: sensível, justo, curioso, amoroso, generoso. Que chore, que escute, que respeite. Que saiba que força e ternura podem andar de mãos dadas.
Ao lado do João, pai do Bento, meu parceiro absoluto nessa travessia, tenho aprendido que a maternidade é um exercício de amor coletivo. Somos dois aprendendo a ser três — e nos descobrindo, a cada dia, mais cúmplices e mais gratos.
Neste domingo, 12 de outubro, ao celebrar o primeiro aniversário do Bento, sinto que a festa não é só dele. É nossa. É a celebração do amor que insistiu, do corpo que abrigou, das noites mal dormidas, dos sorrisos que nasceram junto com ele. É o meu primeiro ano de maternidade — um ano de medo, de cansaço, de riso, de beleza, de amor em estado bruto.
Bento completa um ano de vida. E eu, um ano de uma vida nova, mais intensa, mais cansada, mais real e muito mas muito mais feliz. Feliz aniversário, meu filho!



