RÁDIO AO VIVO
Botão TV AO VIVO TV AO VIVO
Botão TV AO VIVO TV AO VIVO Ícone TV
RÁDIO AO VIVO Ícone Rádio

Monitores de glicose para não diabéticos: prevenção inteligente ou modismo perigoso?

Sensores contínuos de glicose, antes restritos a pacientes com diabetes, vêm se tornando cada vez mais populares entre atletas, influenciadores e pessoas interessadas em biohacking ou saúde preventiva. A promessa é atrativa: monitorar os níveis de glicose 24 horas por dia para ajustar a alimentação, prevenir doenças e melhorar o desempenho físico. Mas essa tendência, que ganha força nas redes sociais, levanta um importante questionamento: até que ponto o uso desses dispositivos por pessoas saudáveis é útil — ou perigoso?

“Picos moderados de glicose após as refeições são normais. Encará-los como algo ruim pode gerar ansiedade alimentar e dietas desnecessárias”, afirma o endocrinologista Filippo Pedrinola, head nacional de Endocrinologia e Metabologia da Brazil Health. Ele alerta que o uso indiscriminado, sem orientação técnica, pode provocar interpretações equivocadas e consequências emocionais.

Promessa de controle, risco de confusão

Os sensores contínuos de glicose (CGMs, na sigla em inglês) medem a variação da glicose no líquido intersticial e transmitem os dados para o celular. A lógica é que, ao evitar picos glicêmicos mesmo em pessoas sem diabetes, seria possível prevenir resistência à insulina, inflamações e ganho de peso.

Embora a teoria faça sentido em alguns contextos, especialistas apontam limitações importantes. Pequenas oscilações glicêmicas após comer são esperadas e fisiológicas. Sem conhecimento técnico, a leitura desses dados pode gerar preocupação excessiva e até favorecer distúrbios alimentares em pessoas mais vulneráveis.

Outro ponto de atenção é a diferença entre os dados obtidos pelos sensores e os exames tradicionais de glicemia capilar. Pequenos atrasos ou variações podem confundir quem não tem acompanhamento profissional.

Quando o sensor faz sentido

O uso de CGMs pode ser benéfico fora do contexto do diabetes em situações bem específicas, sempre com acompanhamento médico:

  • Pessoas com pré-diabetes ou resistência à insulina, para mapear padrões glicêmicos
  • Pacientes com obesidade ou síndrome metabólica, como estratégia de monitoramento
  • Indivíduos em programas de emagrecimento supervisionado
  • Atletas de alta performance que ajustam a ingestão de carboidratos em tempo real

Nesses casos, o sensor pode atuar como ferramenta educativa, auxiliando na personalização da dieta e no entendimento do próprio corpo. “O importante é usar o dispositivo como aliado e não como fonte de culpa ou neurose alimentar”, orienta o endocrinologista.

Foto: Divulgação.

Equilíbrio, orientação e propósito

Apesar de parecer uma solução tecnológica moderna para otimizar a saúde, o uso de CGMs por pessoas saudáveis ainda não é uma recomendação padrão e deve ser feito com cautela. Sem um propósito claro e sem apoio de especialistas, o que deveria promover mais liberdade pode acabar criando prisões invisíveis.

A vigilância extrema sobre a alimentação, impulsionada por métricas mal interpretadas, pode afastar o usuário de uma relação saudável com a comida e com o próprio corpo. O recado é claro: a informação é uma aliada poderosa — desde que usada com discernimento.

COMPARTILHAR:

Participe do grupo e receba as principais notícias de Campinas e região na palma da sua mão.

Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.

NOTÍCIAS RELACIONADAS