Morre Zé Celso, um dos ícones do teatro no Brasil

Morreu nesta manhã, aos 86 anos, José Celso Martinez Corrêa, ícone das artes cênicas brasileiras. O dramaturgo, conhecido como Zé Celso, estava internado na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital das Clínicas de São Paulo desde terça-feira, após um incêndio em seu apartamento.

Zé Celso
Zé Celso morre aos 86 anos. | Foto: Divulgação/ Instagram

Ele teve 53% do corpo atingido por queimaduras, ficou sedado, entubado e com ventilação mecânica. O estado de saúde do dramaturgo havia tido um agravamento na quarta-feira, quando desenvolveu quadro de insuficiência renal.

No apartamento, havia outras três pessoas: seu marido Marcelo Drummond, e os atores Victor Rosa e Ricardo Bittencourt. Os três não sofreram queimaduras, mas foram encaminhados para um hospital porque inalaram muita fumaça.

Trajetória de sucesso e reinvenção de Zé Celso

José Celso Martinez Corrêa nasceu no dia 30 de março de 1937, na cidade de Araraquara, no Interior de São Paulo.

Apesar de ser um dos grandes dramaturgos da história brasileira, Zé Celso deu os primeiros passos no teatro já quando cursava a faculdade de direito, em meados dos anos 60, na USP. No terceiro semestre, ele entrou para um grupo de teatro da faculdade, que tinha como diretor Amir Haddad.

A partir daí, Zé Celso começou a atuar e criar grandes obras. Seu primeiro trabalho como ator foi em 1958, na adaptação de “Vento Forte para um Papagaio Subir”. Dois anos mais tarde, já como diretor, sua primeira peça foi “A engrenagem”.

Ainda em 1958, Zé Celso foi responsável pela fundação do Teatro Oficina, um dos mais importantes grupos teatrais do Brasil. O Teatro Oficina tornou-se conhecido por suas encenações inovadoras, marcadas pela experimentação e pela busca por uma linguagem teatral genuinamente brasileira.

As produções de Celso tinham como característica uma abordagem irreverente, que incorporava elementos de diferentes estilos e movimentos.

Uma das montagens mais icônicas de Zé Celso foi a peça “O Rei da Vela”, escrita por Oswald de Andrade e encenada pelo Teatro Oficina em 1967. Essa produção revolucionou o teatro brasileiro ao trazer para o palco uma linguagem teatral provocadora e contestadora, abordando questões políticas e sociais do país. Um marco também do Tropicalismo.

Há quase 60 anos, o artista já havia enfrentado um grave incêndio, que destruiu o Teatro Oficina. Um curto-circuito no teto deu origem a um foco de incêndio no teatro. Segundo a investigação, o fogo se espalhou pelo forro, fagulhas caíram sobre as poltronas e as chamas consumiram tudo. Em entrevista à Veja, Zé Celso atribuiu o incêndio aos militares que perseguiam o grupo de teatro.

Na ditadura, ele chegou a ser preso e ficou cinco anos exilado em Portugal. Quando voltou ao Brasil, em 1979, deu sequência ao projeto do Teatro, que foi tomado e passou a se chamar em 1984, de Teatro Oficina Uzyna Uzona.

Zé Celso ficou conhecido não apenas por sua contribuição artística, mas também por seu engajamento político. Ao longo dos anos, ele se posicionou de forma contundente em relação às questões sociais e políticas do Brasil, e defendendo a liberdade de expressão

Também enfrentou o Grupo Silvio Santos, que queria construir um prédio no local onde fica o Teatro Oficina, no centro de São Paulo.

Sua longa carreira no teatro lhe rendeu inúmeros prêmios e reconhecimentos, tanto no Brasil quanto no exterior. Sua influência no cenário teatral brasileiro é incontestável, e seu trabalho continua a inspirar novas gerações de artistas.

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