Hoje venho falar sobre um livro que remexeu com minha inércia e me fez reavivar alguns hábitos para ser mais saudável. Era uma vez uma raposa-vermelha muito charmosa, que cantava, dançava, tocava violino e cuidava de suas ovelhinhas com dedicação. Um dia, sem perceber, Neyla começou a se perder dentro de si mesma. As cores, as notas, os gestos e até as lembranças começaram a se dissolver no ar — como nuvens que o vento leva sem aviso.
Como explicar a uma criança o que é o Alzheimer? E como acolher a dor de ver alguém querido esquecendo o próprio mundo?
Em seu mais recente livro, “Neyla” (Editora Cambucá, 2024), Cristiane Tavares transforma a experiência íntima da doença de sua mãe em uma fábula sensível sobre amor, cuidado e memória. A autora costura, com delicadeza, a história real de uma mulher que, aos poucos, deixa de reconhecer os rostos ao redor, mas jamais deixa de ser reconhecida pelo amor que espalhou.
“Quando perdi minha mãe, em 2022, senti que precisava reencontrá-la não mais como a filha de uma mulher doente, mas como a artista vibrante que ela foi — que cantava, escrevia e pintava. Foi assim que nasceu Neyla”, conta Cristiane. “Escrever essa história foi meu modo de abraçá-la de novo.”
As ilustrações de Vanessa Prezoto amplificam a doçura e a força do texto, criando um universo visual colorido, terno e cheio de empatia. “O mundo imagético da personagem é riquíssimo”, diz a ilustradora. “Ao desenhar, senti que estava também visitando minhas próprias memórias. Cada traço é uma lembrança transformada em afeto.”
Neyla é um livro que fala de perdas, mas também de permanências. De memórias que se apagam, mas de sentimentos que insistem em ficar. Uma história para crianças — e para todos que sabem que o amor, esse sim, nunca se esquece.



