Um dos grandes gênios da nossa cultura, o multi-instrumentista, maestro, arranjador, compositor, orquestrador e cantor paraibano estaria completando 95 anos no dia de hoje e, por isso, relembramos os 5 maiores sucessos de Sivuca.
Sobre Sivuca
Mestre da sanfona, instrumento do qual foi um dos principais divulgadores na música nacional e internacional, o trabalho de Sivuca se identifica com a bossa-nova, o jazz, o forró, o choro, o baião, o maracatu e o frevo.
No entanto, predomina o virtuosismo no acordeom e o improviso musical, característico de expressões da Paraíba, como os cantadores de coco.
Compositor de diversas músicas importantíssimas da história da MPB, Sivuca nasceu Severino Dias de Oliveira, em Itabaiana, na Paraíba, no dia 26 de maio de 1930.
O artista ganhou uma sanfona de presente da sua família quando tinha 9 anos e, aos 15, foi para Pernambuco, participar de programas de calouros. Logo se destacou e passou a apresentar-se na Rádio Clube de Recife.
Em 1948, foi contratado pela Rádio Jornal do Commercio, onde atuou até meados da década de 1950. Em 1949, foi convidado para gravar com a cantora Carmélia Alves em São Paulo.
Carmélia foi a primeira a gravar, em 1951, o baião “Adeus Maria Fulô”, composição de Sivuca e Humberto Teixeira. A música foi o primeiro sucesso nacional de Sivuca e depois foi regravada em uma versão psicodélica e inesquecível pelo conjunto Os Mutantes, em 1968.
Também em 1951, Sivuca gravou o primeiro seu primeiro álbum de 78 rotações, pela gravadora Continental, com as canções “Carioquinha do Flamengo” (de Waldir Azevedo, Bonfiglio de Oliveira) e “Tico-Tico no Fubá” ( de Zequinha de Abreu, sucesso na voz de Carmen Miranda).
Em 1955, o paraibano foi morar no Rio de Janeiro, contratado pelas Emissoras Associadas de Rádio e Televisão Tupi e estudou teoria musical e harmonia durante três anos com Guerra Peixe. No ano seguinte, lançou “Eis Sivuca”, seu primeiro disco solo, e também gravou seu famoso choro “Homenagem à Velha Guarda”.
Também em 1956, Sivuca partiu para a sua primeira temporada de shows pela Europa, com o grupo “Os Brasileiros”. Desde jovem, Sivuca viajava pelo interior do Nordeste brasileiro, tocando música regional com músicos locais, período de aprendizagem e experimentações, o que lhe concedeu o conhecimento do universo musical nordestino.
Segundo o artista, essa vivência entre músicos da cultura popular forneceu as bases de sua obra. Apesar de decisiva, a arte de Sivuca não se resume à influência regional, transitando entre diversos gêneros da música nacional e internacional.
A partir de 1959, Sivuca foi morar em Lisboa e Paris, sendo considerado o melhor instrumentista de 1962 pela imprensa parisiense. Morou também em Nova York, de 1964 a 1976, e – em 1971, o músico norte-americano Harry Belafonte o convidou para arranjar e tocar no especial dele e da renomada atriz Julie Andrews, na TV NBC.
Sivuca usou violão e sanfona, arranjou para orquestra de cordas e fez, inclusive, o arranjo de uma canção escrita para Julie Andrews homenagear Vincent van Gogh.
Na década de 70, Sivuca compôs trilhas para filmes em curta-metragem da televisão educativa americana, trabalho pelo qual foi indicado ao Grammy, com a trilha do filme “Joy”.
Nesse período, fez parcerias com artistas como Hermeto Pascoal, Bette Midler e Paul Simon. Em 1975, casou-se com a compositora e compositora Glória Gadelha, com quem passou a desenvolver parcerias artísticas.
Nessa época, o artista voltou para o Rio de Janeiro e participou da série de espetáculos “Seis e Meia”, com o show “Sivuca e Rosinha de Valença”. Gravado ao vivo, esse tornou-se o primeiro registro do baião “Feira de Mangaio”, parceria com Glorinha Gadelha, considerado um dos maiores clássicos da MPB, que fez muito sucesso na voz de Clara Nunes, que o gravou em 1979, no seu disco “Esperança”.
Em 1977, Chico Buarque escreveu a letra para uma melodia composta por Sivuca em 1947, dando origem a outro grande clássico da música popular brasileira: a canção “João e Maria”, única parceria dos dois compositores, sucesso em um duo de Chico e Nara Leão nesse mesmo ano, no disco “Os Meus Amigos Um Barato”, de Nara.
Em 1985, Sivuca escreveu a sua primeira peça sinfônica: “Concerto Sinfônico para Asa Branca”, inovando ao mobilizar a orquestra pela ótica do acordeonista.
Em 2003, voltou à Paraíba, onde seguiu trabalhando. No ano seguinte, em Recife, gravou com a Orquestra Sinfônica da cidade, o clássico disco “Sivuca Sinfônico”. Três anos depois, compôs seu último arranjo sinfônico, “Choro de Cordel”, com Glorinha.
Sivuca faleceu em 2006, aos 76 anos, vítima de um câncer, mas o seu legado permanece vivo para as próximas gerações.
Muitas de suas partituras foram doadas por sua viúva ao acervo da “Fundação Joaquim Nabuco”, do Recife. A doação à instituição pernambucana deveu-se a uma dívida de gratidão que o próprio artista dizia ter com o Recife em sua formação musical.
Os 5 maiores sucessos de Sivuca
- 1 – Adeus Maria Fulô (1951)
Parceriacom Humberto Teixeira, “Adeus Maria Fulô” foi o primeiro sucesso nacional de Sivuca e depois, em 1968, foi regravada em compacto – numa versão psicodélica e inesquecível – pelo conjunto Os Mutantes, formado por Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias.
A música também entrou para o álbum “Tecnicolor”, dos Mutantes, gravado em Paris, em novembro de 1970, mas que permaneceu inédito até o ano 2000.
Outros grandes artistas que gravaram “Adeus Maria Fulô”, foram Joyce Moreno, Gal Costa, Dominguinhos e Marina De La Riva.
- 2 – Homenagem à Velha Guarda (1956)
Em 1956, ano em que Sivuca lançou seu primeiro disco solo,“Eis Sivuca”, o paraibano também gravou um disco de 78 rotações por minuto, contendo o seu famoso choro “Homenagem à Velha Guarda”.
Depois, a música foi regravada por Dominguinhos, Altamiro Carrilho, Clara Nunes (no antológico álbum “As Forças da Natureza”, de 1977), entre outros artistas.
- 3 – Feira de Mangaio (1977)
Lançada ao vivo, no disco da gravação do show “Sivuca e Rosinha de Valença”, de 1977, o baião “Feira de Mangaio” – parceria de Sivuca com sua esposa com Glorinha Gadelha – fez um estrondoso sucesso na voz de Clara Nunes, que o gravou em 1979, no seu álbum “Esperança”.
A canção foi composta quando o casal morava em Nova York. Glorinha começou a pensar na música no meio de uma aula de inglês. Ao sair da aula, dentro do metrô, ela continuou em sua cabeça, até que foi finalizada em um McDonald ‘s da Sétima Avenida. Depois, em casa, Sivuca propôs uma palavra em um único verso, que a compositora considerava mal resolvido, e arranjou a música.
Conhecida também entre os pernambucanos por “Feira do Mangangá”, a “Feira de Mangaio” é uma feira da região nordeste que comercializa produtos artesanais de grande variedade, desde produtos domésticos, a agropecuária e fármacos, ou seja, uma feira livre.
Mangaio é um instrumento desenvolvido para carregar pequenos objetos, produtos ou frutas, constituído essencialmente por uma vara, colocada por trás do pescoço para que se possa carregar os produtos, e dois cestos de cipó em cada extremidade que receberá o produto a ser transportado pelo mangaieiro, os profissionais do mangaio, ou seja, uma espécie de camelô do Nordeste.
Tanto as feiras de mangaio em todo o nordeste, bem como os comerciantes envolvidos com as feiras exercem importante papel de preservação da história e da cultura do povo nordestino que perpassa gerações. Na música, Glorinha e Sivuca trazem elementos tipicamente nordestinos, produtos populares, comercializados nas Feiras de Mangaio.
Por exemplo, o Fumo de Rolo, um tipo de fumo torcido utilizado para confeccionar cigarros de palha ou ainda mascar pedaços deste fumo. Folhas são enroladas em cordas e colocadas ao sol para secar por mais de sessenta dias.
Já Cangalha pode ser classificado como uma armação de madeira ou de ferro em que se sustenta e equilibra a carga dos animais que puxam as carroças nas feiras. Obolo de milho é um prato tipicamente nordestino e muito consumido nesta região, assim como a broa (também de milho), a cocada, o pé de moleque, a farinha, o alecrim e a canela e tantos outros ingredientes e produtos comercializados nas feiras, bem como elementos que valorizam a cultura nordestina e são citados na canção.
- 4 – João e Maria (1977)
A melodia da canção “João e Maria” foi composta por Sivuca em 1947, quando Chico Buarque tinha apenas três anos e Sivuca 17. Por 30 anos, a música seguiu sem nome, servindo às serenatas de seu autor.
Segundo Chico, em 1976 Sivuca enviou a ele uma fita com esta valsinha que havia composto em 1947, e ele então compôs a letra baseada em um diálogo de crianças, pois além de ter sido composta quando Chico ainda era uma criança, aquela canção remetia a um tema infantil.
Naquela época, Chico Buarque estava em uma fase de compor músicas infantis e havia acabado de adaptar o musical italiano “Os Saltimbancos” para o português. A peça, apesar de infantil, também tratava de temas políticos.
E neste contexto surgiu “João e Maria”, uma canção sobre um relacionamento, ou um ciclo, que chega ao fim, mas que também trata de temas políticos, ao criticar regimes autoritários, como o que o Brasil estava passando na época da composição: a Ditadura Militar.
Assim, além da clara referência aos soldados nazistas, Chico ainda estaria falando dos bedéis, inspetores disciplinares que na época da ditadura atuavam como dedos duros nas universidades, e juízes que serviam ao regime.
O nome da canção remete ao clássico conto de fadas dos Irmãos Grimm, no qual duas crianças que se perdem na floresta por terem marcado o caminho com migalhas de pão e são capturadas pela bruxa malvada.
“João e Maria” foi gravada por Nara Leão e lançada no álbum “Os Meus Amigos São Um Barato”, de 1977, que contou com a participação de Chico e Sivuca – o primeiro cantando no dueto, e o segundo tocando sanfona. A canção ganhou ainda mais projeção quando entrou para a novela de sucesso “Dancing Days”, da Rede Globo, em 1978.
- 5 – Mãe África (1978)
“Mãe África” é uma parceria comPaulo César Pinheiro, gravada por Sivuca em 1978, no seu álbum “Sivuca”.
Dois anos depois, foi gravada pelo parceiro, Paulo César Pinheiro, e dois anos mais tarde por Clara Nunes, esposa de Paulo, no seu álbum “Nação”, de 1982.



