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Os livros essenciais que todo mundo precisa ler de Lygia Fagundes Telles

Paulistana, Lygia Fagundes Telles nasceu em 1923, publicou o primeiro livro ainda adolescente e nunca mais parou. Entre romances, como Ciranda de Pedra, As Meninas, As Horas Nuas, e coletâneas de contos que viraram referência, como Antes do Baile Verde, Seminário dos Ratos, se firmou como uma das maiores vozes da literatura brasileira, eleita para a Academia Brasileira de Letras em 1985 e premiada com o Camões em 2005.

Sua escrita transitava entre a vida interior, o universo feminino, os dilemas morais e políticos do país em tempos de ditadura e as fronteiras entre realidade e imaginação, com coragem de abordar assuntos considerados tabus em suas épocas.

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1. Ciranda de Pedra (1954)

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Publicado em 1954, Ciranda de Pedra foi o primeiro romance de Lygia Fagundes Telles e é considerado um marco de maturidade em sua carreira. A trama, dividida em duas partes, acompanha a jovem Virgínia em dois momentos distintos: na infância, vivendo com a mãe separada, e anos depois, já adulta, quando precisa lidar com o pai, as meias-irmãs e os fantasmas do passado.

De forma audaciosa para a época, o livro aborda temas como homossexualidade feminina e loucura, expondo tabus da sociedade dos anos 1950. Virgínia observa a família desestruturar-se – a mãe doente mentalmente, o pai distante – e busca seu lugar nesse círculo familiar conturbado, numa verdadeira ciranda de emoções.

Consagrado pela crítica, Ciranda de Pedra é frequentemente apontado como a obra-prima da autora. Adaptado duas vezes em novelas na TV Globo (em 1981 e 2008), o livro ganhou enorme projeção nacional. Até hoje, Ciranda de Pedra permanece como um dos grandes romances brasileiros, combinando análise psicológica refinada e crítica dos costumes em uma narrativa ao mesmo tempo sensível e poderosa.

2. Verão no Aquário (1963)

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Lançado em 1963, Verão no Aquário é o segundo romance de Lygia Fagundes Telles, marcado pelo conflito de gerações entre mãe e filha. A história narrada em primeira pessoa centra-se em Raíza, uma jovem introspectiva que vive em constante atrito com sua mãe, Patrícia.

Patrícia é uma escritora madura, dedicada a produzir um novo romance, e sua relação algo distante com a filha gera em Raíza sentimentos mistos de admiração, ciúme e rejeição. No verão mais abafado de suas vidas, intensifica-se o embate: Raíza guarda a memória do pai alcoólatra, enquanto desconfia da ligação misteriosa entre a mãe e um ex-seminarista chamado André, um rapaz tímido que frequenta a casa.

Seriam amantes? Forma-se assim, na imaginação angustiada de Raíza, um triângulo amoroso que prende a atenção do leitor do início ao fim.

Além de explorar a psicologia das personagens, Lygia utiliza em Verão no Aquário uma narrativa aberta, deixando perguntas no ar para que o próprio leitor responda conforme sua interpretação. O romance retrata com sutileza as tensões entre uma geração mais velha, marcada pelas convenções sociais, e a geração mais nova, em ebulição interna e desejo de liberdade. Publicado em plenos anos 60, o livro antecipa discussões sobre independência feminina e choque de valores. Verão no Aquário consolidou o talento de Lygia na forma longa, mostrando que seu domínio não se limitava aos contos – aqui, ela entrega um drama familiar psicológico, denso e de atmosfera quase claustrofóbica, considerado um dos pontos altos de sua obra romanesca.

3. Antes do Baile Verde (1970)

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Antes do Baile Verde, lançado em 1970, é uma coletânea de contos amplamente reconhecida como a mais importante da carreira de Lygia Fagundes Telles. Reunindo narrativas escritas entre o final dos anos 1940 e 1960, o livro foi aclamado tanto no Brasil quanto no exterior.

Não por acaso, rendeu à autora o Grande Prêmio Internacional Feminino para Contos Estrangeiros em Cannes, na França, em 1969, um feito que colocou Lygia em destaque mundial. Essa coletânea é considerada por muitos críticos como seu livro de contos literariamente mais bem-sucedido, marcando definitivamente Lygia como uma mestre do gênero.

Os contos de Antes do Baile Verde apresentam temáticas variadas, porém recorrentes no universo da autora: loucura, adultério, conflitos familiares, relações conturbadas e a iminência da morte permeiam as histórias. O conto-título, por exemplo, narra a tensão de uma jovem se arrumando para um baile de carnaval enquanto cuida do pai doente, simbolizando o contraste entre a festa e a tragédia iminente.

Outra narrativa célebre do volume, “Venha ver o pôr do sol”, tornou-se um clássico frequentemente estudado nas escolas, exemplar da habilidade de Lygia em criar suspenses psicológicos. Antes do Baile Verde mostra a autora no auge de sua forma contista: as histórias são densas, irônicas e inquietantes, revelando os desejos e medos ocultos de personagens comuns diante de situações extraordinárias.

 Até hoje, esta coletânea figura entre as leituras indispensáveis para quem deseja conhecer a literatura de Lygia Fagundes Telles.

4. As Meninas (1973)

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Publicado em 1973, As Meninas é um dos romances mais famosos de Lygia Fagundes Telles, vencedor do Prêmio Jabuti de Melhor Romance. Escrito em plena ditadura militar brasileira, o livro traz um forte tom político e geracional, ao narrar a vida de três jovens universitárias em São Paulo durante os anos de chumbo.

As protagonistas – Lorena, Ana Clara e Lia – vivem em um pensionato de freiras na capital paulista e representam origens e ideologias distintas, que refletem os dilemas da juventude da época. Lorena é uma moça rica, de família tradicional (“quatrocentona”), sonhadora e romântica, cultiva aspirações artísticas e mantém um relacionamento platônico com um homem mais velho, casado.

Ana Clara, em contraste, vem de origem humilde e mergulha em um estilo de vida desregrado: é usuária de drogas, divide-se entre um noivo rico e um amante traficante, em uma busca desesperada por escape e ascensão. Já Lia é a engajada politicamente, militante em um grupo da esquerda armada; enfrenta a dura realidade da repressão e sofre pela prisão do namorado e pela perseguição aos amigos.

O impacto do romance foi tamanho que, além do Jabuti, ganhou uma adaptação cinematográfica em 1995, dirigida por Emiliano Ribeiro e estrelada por Adriana Esteves e outras atrizes famosas. Até hoje, As Meninas permanece atual pela forma franca com que discute a transição da adolescência para a vida adulta em tempos difíceis, como um retrato fiel da geração dos anos 70 e um dos grandes livros da literatura brasileira pós-1964.

5. Seminário dos Ratos (1977)

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Lançado em 1977, Seminário dos Ratos é mais uma coletânea que reúne alguns de seus contos mais complexos e instigantes, nos quais flerta com o fantástico e expande os limites do real para melhor dissecar a condição humana. São 14 histórias ao todo, nas quais Lygia lança mão de sua maestria narrativa para explorar regiões recônditas da psique e do comportamento humano.

Em várias delas, elementos insólitos ou absurdos aparecem como forma de revelar verdades profundas: o “fantástico” em Lygia, porém, recusa o rótulo fácil de realismo mágico, apresentando-se de maneiras diversas e surpreendentes a cada conto.

Os temas abordados em Seminário dos Ratos são amplos, indo do amor à loucura, da velhice ao poder e à morte. Há, por exemplo, narrativas que tangenciam preocupações ambientais, outras que fazem sátira do funcionalismo público burocrático, sempre mantendo o foco nas reações e sentimentos das personagens diante dessas situações.

6. A Disciplina do Amor (1980)

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Publicado originalmente em 1980, A Disciplina do Amor marcou uma guinada experimental na obra de Lygia Fagundes Telles. Trata-se de um livro difícil de rotular, não é exatamente romance nem simples diário, mas uma coletânea de fragmentos, contos curtos, reflexões e memórias que se entrelaçam, borrando as fronteiras entre ficção e autobiografia.

Lygia já era uma autora consagrada quando o escreveu, e muitos críticos sustentavam que seu maior domínio estava na narrativa breve. Pois ela decidiu surpreender: A Disciplina do Amor traz uma escrita mais livre, que deliberadamente despreza as divisões rígidas de gênero literário.

Nas páginas do livro, realidade e invenção, memória e imaginação convivem lado a lado; ora lemos cenas claramente inspiradas em episódios reais da vida da autora, ora mergulhamos em devaneios e histórias ficcionais que emergem dessas lembranças. O resultado dessa experiência literária foi um dos livros mais elogiados de Lygia, vencedor do Prêmio Jabuti e do prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).

7. As Horas Nuas (1989)

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Publicada em 1989, As Horas Nuas é um romance que reflete os últimos anos da produção ficcional de Lygia e dialoga com temas contemporâneos da época. Nele conhecemos Rosa Ambrósio, uma atriz de teatro em fim de carreira, já decadente, que revisita os grandes amores e desilusões de sua vida enquanto afoga mágoas em generosas doses de uísque.

A narrativa alterna diferentes vozes e pontos de vista, o fluxo de consciência de Rosa e a história por um narrador em terceira pessoa que observa a protagonista de fora. Essa estrutura fragmentada espelha a própria mente da personagem, dividida entre o passado e o presente, entre a fantasia e a realidade crua.

Ao revisitar sua vida, Rosa Ambrósio traz à tona assuntos até então pouco comuns na literatura nacional. As Horas Nuas aborda de forma corajosa questões como o movimento feminista, a cultura de massa, a epidemia de AIDS e o uso de drogas, temas bastante urgentes no final do século 20.

Através das lembranças de Rosa, conhecemos figuras marcantes de sua trajetória: um primo por quem foi apaixonada na juventude e que morreu jovem, um ex-marido traumatizado pela tortura durante a ditadura, um amante mais novo que a trocou por mulheres mais jovens.

Cada relacionamento revela fragmentos da personalidade de Rosa e, simultaneamente, reflete mudanças sociais das décadas anteriores. Com essa protagonista, uma mulher madura, independente mas atormentada pelas sombras do passado, Lygia cria um retrato da solidão e do envelhecimento.

8. Invenção e Memória (2000)

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Um baile de formatura em São Paulo quase no final da Segunda Guerra Mundial; um galo de estimação que se deixa morrer de fome após perder o amigo peru servido na ceia; um ancião e um garoto em uma relação ambígua observados em um restaurante; até um vampiro norueguês que atravessa os séculos em busca de sua amada, uma índia brasileira, esses são alguns dos enredos presentes no livro que fecha nossa seleção.

Invenção e Memória (2000) se destaca como a grande obra da fase final de Lygia Fagundes Telles. Esta coletânea de contos, publicada quando a autora já estava com mais de 75 anos, explora de forma brilhante a tênue linha entre as lembranças pessoais e a criação ficcional. Nas páginas do livro, Lygia apresenta histórias que ora parecem saídas de suas recordações, ora brotam de pura imaginação.

Invenção e Memória rendeu a Lygia mais um Prêmio Jabuti, em 2001, reconhecimento à sua capacidade de se reinventar literariamente mesmo após décadas de carreira. Esta coletânea funciona como uma conclusão temática da obra de Lygia Fagundes Telles, a memória pessoal, a história coletiva e a fantasia criativa, elementos que a autora trabalhou em toda a sua produção.

Lygia Fagundes Telles vai dos romances psicológicos aos contos fantásticos, sempre mantendo um altíssimo nível literário. Mesmo após seu falecimento, em 2022, ler a autora hoje é encontrar uma literatura que transcende seu tempo e fala fundo sobre a condição humana.

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