Elisa Lucinda é uma das vozes mais contundentes e sensíveis da poesia brasileira contemporânea. Atriz, escritora e jornalista, a autora capixaba nasceu em 1958 e construiu uma obra que transborda afeto, crítica social e consciência racial. Seus poemas falam da mulher negra, do amor e da dor, da ancestralidade e da urgência de existir com dignidade em um país ainda marcado por desigualdades estruturais.
Com seu estilo direto e performático, Elisa conquistou espaço nos palcos, nos livros e nas escolas e sua obra ganhou ainda mais força nos debates sobre racismo, feminismo e pertencimento.
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1. “A Poesia que me Pariu”
“Sou mulher, sou negra, sou filha do vento,
trago no ventre a voz de um tempo.”
Neste poema, Elisa constrói uma imagem da poesia como algo vital e originário. A autora se coloca como alguém que nasce da própria palavra, e a palavra, por sua vez, é herança, construção. A força do poema está em como associa linguagem e identidade.
2. “Aviso da Lua que Menstrua”
“Cuidado com a mulher que sangra e pensa,
que ama e denuncia, que sorri e enfrenta.”
Este é um de seus textos mais conhecidos, publicado no livro de mesmo nome. A autora associa o ciclo menstrual a um processo de consciência e transformação. Com ritmo forte e cadência marcada, Elisa amplia o olhar sobre o corpo feminino e convida à reflexão sobre o lugar da mulher em diversos contextos sociais.

3. “Só de Sacanagem”
“Meu coração está pequeno demais para tanta coisa
mas não vou sucumbir à canalhice reinante.”
Escrito em tom de crônica poética, este poema ganhou repercussão ao ser lido em eventos públicos e entrevistas. Ainda que dialogue com o contexto político e social, seu foco é a integridade pessoal diante de um ambiente adverso. O texto fala sobre escolhas morais e sobre manter-se coerente mesmo diante do desencanto.
4. “Eu te amo e estou armada”
“Meu amor não é paz, é luta com afeto.
Eu te amo e estou armada — de mim.”
A autora trabalha aqui com a dualidade do amor: ao mesmo tempo generoso e exigente. O poema reflete uma afetividade madura, que reconhece limites e preserva a autonomia. A “arma” do título não é violência, mas consciência de si. A força do texto está na combinação entre lirismo e postura crítica.
5. “Negra Nua”
“Olham meu corpo como invasão,
mas ele é nação, revolução, oração.”
Neste poema, Elisa se volta para a representação do corpo feminino negro e sua leitura pela sociedade. O texto é construído com imagens simples, mas expressivas, que articulam o olhar externo com o reconhecimento interno. É um poema sobre dignidade, confronto e convida o leitor à escuta.
A força da oralidade e da escuta na obra de Elisa Lucinda
A poesia de Elisa Lucinda se destaca por uma linguagem direta, coloquial e altamente performática. Seus textos partem de experiências concretas e cotidianas, mas alcançam níveis de abstração que os tornam universais. Em seus versos, o afeto, a origem e a escuta aparecem como caminhos de leitura do mundo.
Seja ao falar de amor ou ao refletir sobre o que nos forma, Elisa mantém um compromisso com a clareza e a emoção, duas qualidades que sustentam sua popularidade e relevância no cenário literário brasileiro.



