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Pixinguinha é tema do último episódio da 1ª temporada do ‘Arquivo Novabrasil’

Hoje é dia de falar de Pixinguinha! O Arquivo Novabrasil é um programa original, que promove a vida e a obra de grandes nomes da música popular brasileira. Artistas que fazem da nossa música um dos nossos maiores legados e pelo que queremos ser lembrados e reverenciados como brasileiros.

Toda quarta-feira, às 12h, um novo episódio do Arquivo Novabrasil vai ao ar em vídeo, nos nossos canais do Youtube e Spotify.

A primeira temporada especial do Arquivo Novabrasil trouxe a biografia de artistas que ajudaram a construir a história do samba no Brasil. E hoje – no último episódio desta temporada – vamos conhecer uma história especial. A história dele, que – para além do Samba – contribuiu para a consolidação do Choro como gênero musical no Brasil: o mestre Pixinguinha!

Compositor, instrumentista, regente e arranjador, Pixinguinha foi um dos pilares da moderna música popular brasileira.

O mestre Pixinguinha | Imagem: Acervo MIS

Ele nasceu Alfredo da Rocha Vianna Filho – no bairro da Piedade, zona norte do Rio de Janeiro, em 1897 – um dos quatorze filhos de Raimunda Maria da Conceição. Com o pai de Pixinguinha – de quem o menino herdou o nome – Raimunda teve 10 filhos.

 Família Vianna (Pixinguinha é o primeiro em pé à esquerda) | Acervo Sérgio Cabral / MIS-RJ

Pixinguinha ainda era bem menino quando sua família trocou Piedade por outro bairro, mais próximo do Centro do Rio: o Catumbi, numa ladeira que leva ao morro de Santa Teresa. Foi por ali que Pixinguinha foi criado. 

Seu pai trabalhava na Repartição Geral dos Correios e Telégrafos e também era músico amador: tocava flauta, sendo muito solicitado nas rodas de choro e conhecido por promover saraus que reunia em sua casa grandes músicos, como os violonistas João Pernambuco e o maestro Heitor Villa-Lobos.

Pixinguinha – que já gostava muito de música – ficava apreciando os encontros.

Segundo o acervo oficial sobre o mestre Pixinguinha presente no site do Instituto Moreira Salles, e utilizado para a pesquisa desse Arquivo Novabrasil, com onze anos de idade, o pequeno Pixinguinha já tocava cavaquinho e tinha um ouvido muito bom. 

Quando percebeu o dom incomum do filho e sua desenvoltura para acompanhar choros no cavaquinho, o pai de Pixinguinha passou a levá-lo a tiracolo para as reuniões musicais. 

Foi frequentando esses ambientes que o menino decidiu trocar o cavaquinho por um instrumento de sopro: a flauta de folha de flandres. 

Seu Alfredo, pai de Pixinguinha, também alugava alguns cômodos do casarão em que a família morava para os amigos músicos – motivo pelo qual o imóvel ficou conhecido como “Pensão Vianna”. 

Entre os músicos que se hospedaram por lá, estavam nomes importantes, como o trompetista Bonfiglio de Oliveira, o violonista e compositor Sinhô (conhecido como o “Rei do Samba”) e o compositor e instrumentista Irineu de Almeida.

Irineu de Almeida | Imagem: Acervo Jacob do Bandolim – MIS-RJ

Vendo Pixinguinha tocar a flautinha de folha, Irineu de Almeida se impressionou com o talento do menino e recomendou a Seu Alfredo que ele o colocasse para estudar música. 

Foi assim que Pixinguinha e os irmãos começaram a ter aulas de música com um colega de seu pai. Os irmãos foram aos poucos desistindo das aulas, mas Pixinguinha permaneceu. Não por muito tempo – já que ele aprendeu bem depressa tudo que o professor tinha para ensinar. 

Em seguida, Pixinguinha passou a ter aulas com o próprio Irineu de Almeida.

Pouco tempo depois, Pixinguinha passou a fazer parte do conjunto Choro Carioca, liderado por Irineu e que tinha na sua formação dois dos irmãos de Pixinguinha atuando como violonistas: Léo e Otávio, o China.  

Já o ano de 1911 foi decisivo para Pixinguinha, que com 13 para 14 anos fez sua estreia fonográfica como flautista do conjunto Choro Carioca. A primeira música gravada por eles foi a polca “Nhonhô em Sarilho” (de Guilherme Cantalice), seguida de mais quatro composições de Irineu de Almeida.

Foi também em 1911 o início da atuação de Pixinguinha como flautista da orquestra do rancho carnavalesco “Filhas das Jardineiras“, que tinha como diretor de harmonia Irineu de Almeida

Um ano depois, Pixinguinha se tornou diretor de harmonia do rancho Paladinos Japoneses – isso antes de completar 15 anos de idade. A vivência nas agremiações carnavalescas foi uma das bases da formação musical de Pixinguinha.

Rancho Filhas das Jardineiras | Imagem: Acervo Tinhorão / IMS

LEGENDA –

Além de marcar o início da atividade profissional de Pixinguinha com a música de carnaval, sua participação neste rancho guarda um marco importante na sua vida pessoal: foi quando ele conheceu seus parceiros inseparáveis e músicos importantíssimos para a história da música popular brasileira Ernesto dos Santos (o Donga) e João Machado Guedes (o João da Baiana). 

Donga, Pixinguinha e João da Baiana – Imagem: Acervo Sérgio Cabral / MIS-RJ

Em 1914, Pixinguinha registrou uma música de sua autoria pela primeira vez: o tango “Dominante”, que na partitura aparece assinado por Alfredo da Rocha Vianna (Pizidin)

Essa é a primeira aparição pública do apelido do músico, que passou por diversas grafias até se consolidar como o nome artístico Pixinguinha. Foi Pizidin, Pinzindim, Pizinguim, Bixiguinha, Pixigui, Pixiguinha…  até virar Pixinguinha. 

Em parte, essa confusão com seu apelido acontecia por conta dos veículos de imprensa – cada um chamando o músico de um jeito – mas também pela origem imprecisa do nome. 

Desde menino, ele dizia que sua avó o chamava de Pinzindim – apelido que, dali a algum tempo, o pesquisador e músico Almirante contaria que significa “menino bom” em um dialeto africano.

Ele também dizia que tinha tido uma doença chamada bexiga na infância – nome popular para varíola na época – e que a família o chamava de Bixiguinha, ou de de Pixiguinha. E foi rolando essa complicação de apelidos que ele não sabia como tinha chegado até Pixinguinha

Em 1917, foi lançada a famosa canção “Pelo Telefone”, assinada por Donga e Mauro de Almeida que entrou para a história como primeiro sucesso carnavalesco identificado como samba.

Em 1919, Pixinguinha já morava no bairro de Olaria, quando criou um clássico do seu repertório: o choro “Um a Zero”, cuja composição é atribuída à vitória da Seleção de Futebol Brasileira sobre o Uruguai, por 1 a 0, dando ao time brasileiro sua primeira conquista: o título do Campeonato Sul-Americano de Futebol daquele ano.

Em abril de 1919, aconteceu a primeira apresentação da Orquestra Típica Oito Batutas – conjunto que foi a principal novidade do Cine Palais,– famoso cinema do Rio de Janeiro – na reabertura de suas portas depois do surto de gripe espanhola. 

Os Oito Batutas contava em sua formação com Pixinguinha (na flauta), Donga (no violão), China (na voz e violão), Nelson Alves (no cavaquinho), Jacob Palmieri (na bandola e reco-reco) e José Alves de Lima, o Zezé (no bandolim e ganzá). 

Os Oito Batutas: Pixinguinha, Donga, China, Nelson Alves, Jacob Palmieri e José Alves de Lima – Acervo MIS

No seu admirável repertório de música vocal e instrumental brasileira estavam maxixes, lundus, canções sertanejas, corta-jacas, batuques e cateretês. 

A temporada de estreia dos Oito Batutas foi um sucesso, com boa repercussão nos veículos impressos e ilustres na plateia. Uma reação que destoou foi a do jornalista Julio Reis, do veículo “A Rua”, que se disse “envergonhado” com aquele “escândalo”, nas palavras cheias de preconceito dele mesmo: “Um conjunto que toca música popular, usa trajes nordestinos e ainda por cima tem quatro negros em sua formação”.

Para o bem do conjunto, prevalecem reações como a de Arnaldo Guinle, milionário que passou a contratar os Oito Batutas para se apresentarem nos saraus em sua mansão, no bairro de Laranjeiras, mansão que hoje é conhecida como Palácio Laranjeiras, residência oficial do governador no estado do Rio de Janeiro. 

Por sugestão de Guinle, o conjunto também saiu em uma grande turnê pelo Brasil, que durou mais de um ano.

Em outubro de 1921, os Oito Batutas se apresentaram na residência do então presidente da República, Epitácio Pessoa.

No início do ano seguinte, o conjunto foi – por meses – atração fixa em uma badalada casa noturna de Paris, o dancing Sheherazade.

Pixinguinha em Paris, 1922 – Acervo Pixinguinha / IMS

Contrastando com o sucesso das apresentações junto ao público e à imprensa parisiense, que se referiam ao conjunto como Les Batutas ou L’Orchestre des Batutas, na imprensa brasileira se destacavam textos de teor racista a respeito da atuação de Pixinguinha e companhia, como em matérias no Diário de Pernambuco e no Jornal do Commercio.

De volta ao Brasil, Pixinguinha trouxe na bagagem um saxofone, presente de Arnaldo Guinle

Pixinguinha – Acervo Almirante – MIS/RJ

Algumas fontes de referência informam que, durante esse período, o conjunto participou também da primeira transmissão de rádio no Brasil – que teve como marco inicial oficial um discurso do presidente da República, Epitácio Pessoa, realizado no dia 7 de setembro de 1922. 

Em 1926, estreou no Teatro Rialto a peça de teatro de revista “Tudo Preto”, encenada pela Companhia Negra de Revistas, com organização do cenógrafo Jaime Silva e do cantor, compositor e ator De Chocolat

A maravilhosa ousadia para a época de encenar uma peça com elenco inteiramente formado por pessoas pretas nasceu de conversas de De Chocolat com Pixinguinha.

“Tudo Preto” foi um marco: os pretos, marginalizados, sem oportunidade nos palcos da cidade, iam, então, mostrar suas qualidades. 

Todos em cena eram negros: tanto os atores do elenco, quanto os 20 integrantes da orquestra regida por Pixinguinha, que era também um dos autores das músicas do espetáculo, ao lado do trompetista Jaime Cirino. Apesar de receber críticas racistas, a temporada da revista foi um sucesso. 

Para Pixinguinha, a temporada de “Tudo Preto” teve um significado especial: entre ensaios e sessões, ele começou a namorar a vedete Jandira Aymoré (que na verdade se chamava Albertina Nunes Pereira). Os dois se casaram em 1927 e viveriam juntos até 1972, ano da morte de Betty, apelido pelo qual ela era chamada por todos. 

Betty (Albertina Nunes Pereira) na época em que usava o nome artístico Jandira Aymoré – Acervo Pixinguinha / IMS
Betty e Pixinguinha – Acervo Pixinguinha / IMS

No ano de 1928, foi lançado um disco de 78 rotações com a primeira gravação de um clássico de Pixinguinha: o choro “Lamentos”, interpretado pela Orquestra Típica Pixinguinha-Donga. O lado B traz o choro “Amigo do Povo”, de Donga

Ainda no final de 1928, outro disco de 78 rotações trouxe a gravação da Orquestra Típica Pixinguinha-Donga para um choro instrumental de Pixinguinha com inusitadas duas partes – uma a menos do que as tradicionais três partes do choro – chamado “Carinhoso”

O crítico Cruz Cordeiro – da revista “Phono Arte” logo publicou notas reprovando tanto “Lamentos”, quanto “Carinhoso”, dizendo que Pixinguinha – nas suas palavras era “um músico popular, que andava sendo influenciado pelos ritmos e melodias da música de jazz”. 

O público também não deu muita bola para o lançamento de “Carinhoso”. A música não fez sucesso nem mesmo com as duas regravações que teve a seguir: uma pela Orquestra Victor Brasileira (em 1929) e outra pelo bandolinista Luperce Miranda (em 1934).

O ano de 1929 marcou também o início das atividades da gravadora RCA Victor no Brasil. Nas décadas seguintes, a companhia foi uma das grandes gravadoras locais, disputando a liderança das vendagens com a também norte-americana Odeon

Logo no início dessas atividades, a RCA Victor contou em suas gravações com arranjos de Pixinguinha, aprovado em um concurso promovido pela gravadora e classificado em primeiro lugar com a sua música “Carinhoso”

No novo emprego, Pixinguinha tinha as atribuições de escrever arranjos e orquestrações e também de reger a orquestra da gravadora. Quando a RCA Victor lançou, mais tarde, em 1936, a sua emissora de rádio, a Transmissora, Pixinguinha atuou por lá como flautista e arranjador. 

Pixinguinha – Acervo Pixinguinha / IMS

O início da atuação de Pixinguinha como arranjador na RCA Victor trouxe, de certa maneira, a solução para um problema que a música popular brasileira – em especial, o samba – enfrentava dentro das gravadoras, onde as orquestras eram geralmente comandadas por maestros estrangeiros que regiam músicos (na sua maioria) estrangeiros. 

Estabelecido desde 1917 (ano do lançamento lá daquela canção “Pelo Telefone”), o samba já tinha grande popularidade no Brasil, mas as gravações ainda não refletiam o que era o gênero,  com falta de bossa e resultados frios e sem vida.

Pixinguinha – Acervo Pixinguinha / IMS

A atuação de Pixinguinha abrasileirando arranjos e orquestrações foi fundamental para fazer o samba soar como samba. Segundo o jornalista Sérgio Cabral, ele foi o grande pioneiro da orquestração para a música popular brasileira. 

A canção carnavalesca também deve a Pixinguinha uma boa parcela do seu êxito, pois ele  escrevia arranjos com uma destacada participação da orquestra, criando introduções que ficaram famosas e encontrando soluções inventivas para as músicas mais simples, ao utilizar muito bem a percussão.

O time de músicos escalado por ele para as novas gravações também tinha alguns dos melhores instrumentistas do país. Com estes instrumentistas e mais os arranjos de Pixinguinha, músicas como a marchinha “Pra você gostar de mim (Taí)”, composição de Joubert de Carvalho foi gravada no início de 1930, para se tornar um dos maiores sucessos daquele carnaval e também o primeiro sucesso da cantora Carmen Miranda.

O ano de 1931 registrou o fim das atividades dos Oito Batutas. A partir da mesma base, Pixinguinha, Donga e João da Bahiana criam o conjunto que seria uma das atrações do carnaval de 1932 e com o qual fariam muitas gravações dali em diante: o Grupo da Guarda Velha. 

João da Baiana, Pixinguinha e Donga – Acervo Sérgio Cabral / MIS-RJ

Nesta época, Pixinguinha, Donga e João da Baiana ainda não tinham idade para serem considerados “guarda velha” (Pixinguinha tinha apenas 34 anos, Donga 41 e João, 44), mas o nome escolhido deixa claro que eles, estavam comprometidos com a música tradicional brasileira. 

Uma das gravações iniciais do grupo é “Patrão, prenda seu gado”, parceria do trio que saiu nesse ano de 1931 em um disco de 78 rotações.

Em 1933, Pixinguinha fez os arranjos para a famosa marcha junina “Chegou a hora da fogueira”, composição de Lamartine Babo gravada por Carmen Miranda e Mário Reis.

Em 1935, no oitavo ano de casamento, Betty e Pixinguinha adotaram um menino: o filho do casal recebeu o nome de Alfredo da Rocha Vianna Neto, o Alfredinho.

Betty, Pixinguinha e Alfredinho – Acervo Pixinguinha / IMS

No mês de julho de 1937, o cantor Orlando Silva relançou o choro “Carinhoso”, de Pixinguinha, agora com letra de João de Barro (o Braguinha). 

Os versos estavam prontos desde o ano anterior, quando foram feitos para serem cantados por Heloísa Helena em um espetáculo beneficente promovido pela primeira dama Darcy Vargas para arrecadar fundos para uma obra social.

Heloísa estava sem uma música inédita para apresentar no espetáculo e procurou João de Barro, que por sua vez se lembrou do antigo choro de Pixinguinha e foi procurar o maestro.

João de Barro, o Braguinha – Imagem: Arquivo Nacional

Pixinguinha, então, tocou o choro repetidamente na flauta, até que fosse decorado por João de Barro, que fez a letra em seguida. A música composta anos antes por Pixinguinha e agora com versos de João de Barro, tornou-se um sucesso nacional. 

“Carinhoso” ocupa a primeira colocação na seleção ”30 músicas do século XX”, realizada pela Rede Globo no ano 2000 (ficando, apenas atrás do samba-exaltação “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso, que foi eleita hors-concours). 

Em 2024, segundo um levantamento do Ecad, a canção contava com 437 gravações registradas, sendo a terceira canção brasileira mais regravada no país em todos os tempos, atrás apenas de “Aquarela do Brasil” (de Ary Barroso) – com 442 regravações – e do primeiro lugar,  “Garota de Ipanema” (de Tom Jobim e Vinicius de Moraes), com 453. 

Ao longo dos anos, “Carinhoso” foi regravada, por nomes como Elis Regina, Jair Rodrigues, Tom Jobim, Maria Bethânia, Paulinho da Viola e Marisa Monte.

Voltando à gravação de Orlando Silva, o disco em que o cantor gravou essa nova versão com letra da música “Carinhoso” trazia no lado B a gravação de outro grande sucesso de Pixinguinha, a valsa “Rosa” (em parceria com Otávio de Souza). “Carinhoso” e “Rosa” são duas das músicas mais importantes do cancioneiro popular brasileiro de todos os tempos.

Rosa” era uma versão adaptada e letrada de uma composição de Pixinguinha que – da mesma forma que “Carinhoso” – já existia há aproximadamente uma década, com o nome de “Evocação”. 

Em 1938, foi lançado o famoso lundu “Yaô” (composição de Pixinguinha em parceria com Gastão Vianna), na voz do cantor Patrício Teixeira. Repleta de palavras de “origem africana”, a canção foi regravada em 1968, no antológico LP “Gente da Antiga”, produzido por Hermínio Bello de Carvalho e que traz a união das vozes de Pixinguinha, Clementina de Jesus e João da Baiana.

Em 1941, a marchinha “Alá-la-ô” foi uma das músicas de carnaval premiadas no concurso anual da Prefeitura do Distrito Federal, se tornando uma das marchinhas de maior sucesso de todos os tempos. Ela é uma composição de Haroldo Lobo e Nássara gravada por Carlos Galhardo e com arranjo de Pixinguinha.

Na primeira metade da década de 1940, Pixinguinha viveu uma fase difícil por conta da bebida. Ele deixou a Rádio Mayrink Veiga, onde trabalhava como flautista, arranjador e regente desde 1937, e sumiu de circulação, quase não se falava dele. 

Trabalhando pouco e gastando muito com o álcool, o artista começou também a atrasar o pagamento das prestações da casa que havia comprado no Rio de Janeiro, com risco de perder o imóvel.

Em 1942, Pixinguinha lançou suas últimas gravações tocando flauta: as canções “Chorei” e “Cinco Companheiros“.

Nesta época de grande dificuldade, um personagem fundamental para Pixinguinha foi o flautista e compositor Benedito Lacerda, que propôs ao amigo um modo de voltar à rotina de trabalho e de ganhar dinheiro. 

Pixinguinha e Benedito Lacerda – Acervo José Ramos Tinhorão / IMS

Benedito conseguiu o valor necessário para Pixinguinha quitar sua dívida por meio de um adiantamento pelos discos que seriam feitos na RCA Victor pela nova dupla: Benedito na flauta e Pixinguinha no sax tenor.

O acordo previa ainda que Benedito Lacerda seria parceiro de Pixinguinha em todas as músicas que gravassem, mesmo naquelas compostas por Pixinguinha antes do encontro deles.

Pixinguinha não só voltou à ativa, enriquecendo a música brasileira com algumas das melhores gravações de choro de todos os tempos, como também pagou todas as suas dívidas.

Foto promocional da gravadora RCA Victor – Benedito Lacerda e Pixinguinha – Acervo José Ramos Tinhorão / IMS

Os primeiros discos contendo gravações do dueto de Pixinguinha com Benedito Lacerda foram lançados em 1946. Depois, a dupla seguiu lançando álbuns em conjunto até o início de 1951. Nesses álbuns estão as primeiras gravações de alguns clássicos do repertório de choro, como “O Gato e o Canário”, “Ele e Eu” e “Ingênuo”, este último o choro preferido de Pixinguinha.

Em 1945, Pixinguinha foi convidado pelo radialista, compositor e cantor Almirante a assinar contrato com a emissora de rádio mais popular do país: a Rádio Nacional. No ano seguinte, o radialista transferiu-se para a Rádio Tupi, levando Pixinguinha junto com ele.

Almirante e Pixinguinha – Acervo Almirante / MIS-RJ

O programa “O pessoal da Velha Guarda” estreou em 1947 e ficou no ar semanalmente até 1952. Almirante era o roteirista e apresentador, e Pixinguinha a figura central, atuando como diretor musical e instrumentista de dois dos três conjuntos que se intercalavam durante os 30 minutos do programa.

Em 1954 e 1955, Pixinguinha participou – ao lado de outros grandes nomes como Donga e João da Baiana – do primeiro e do segundo Festival da Velha Guarda, idealizado por Almirante, e apresentado pela Rádio Record. Ainda em 1955, os artistas lançaram o LP “A Velha Guarda”.

IMAGEM – festival-velha-guarda

LEGENDA – II Festival da Velha Guarda – Acervo José Ramos Tinhorão/IMS

Integrantes da Velha Guarda – Acervo José Ramos Tinhorão/IMS

No ano seguinte, a Rua Belarmino Barreto, em Ramos, onde Pixinguinha vivia com sua esposa Betty desde 1939, foi rebatizada com o nome de Rua Pixinguinha.

Pixinguinha no portão de casa – Acervo Pixinguinha / IMS

Ainda em 1966, Pixinguinha participou da série Depoimentos para a Posteridade, do Museu da Imagem e do Som (MIS), gravando um depoimento sobre sua própria trajetória que trazia uma quantidade de imprecisões que levou o músico e pesquisador meticuloso Jacob do Bandolim (amigo e admirador de Pixinguinha) a revirar arquivos atrás de informações sobre o passado do flautista e saxofonista. 

Pixinguinha e Jacob do Bandolim – Acervo Sérgio Cabral – MIS/RJ

A principal descoberta que ele fez foi a de que Pixinguinha não havia nascido em 23 de abril de 1898, como todos acreditavam, mas sim em 04 de maio de 1897. Diante da novidade, Pixinguinha pediu ao amigo que mantivesse a descoberta em sigilo, para não atrapalhar as festas e homenagens que já estavam agendadas em celebração aos seus 70 anos. Somente após a morte de Jacob, em 1969, a nova data de nascimento de Pixinguinha foi revelada.

Mas aí já era tarde e a data antiga já estava registrada em muitas biografias, o que fez com que lá no ano 2000, o bandolinista Hamilton de Holanda tivesse a iniciativa de criar o “Dia do Choro” no Brasil, em 23 de abril, em homenagem a suposta data de aniversário de Pixinguinha. 

A data permanece essa até hoje, afinal, o que vale é a homenagem ao artista que contribuiu diretamente para que o Choro encontrasse uma forma musical no país.

Em 1967, Pixinguinha recebeu diversas homenagens e condecorações, e participou com suas composições dos famosos Festivais de Música Brasileira daquele ano.

Em 1968, foi lançado o LP “Pixinguinha 70”, em comemoração aos 70 anos do músico, resultado da gravação de um concerto em sua homenagem, promovido pelo Museu da Imagem e do Som, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro

Cartaz do concerto “Pixinguinha 70” – Acervo Tinhorão – IMS

Em 1969 foi o lançamento do curta-metragem em preto e branco “Pixinguinha”, rodado em 1966 pelo cineasta e produtor João Carlos Horta, que filmou o músico bem à vontade em sua casa.

Em 1970, as dificuldades financeiras fizeram com que Pixinguinha e Betty tivessem que se mudar para o Conjunto Residencial dos Músicos, no bairro de Inhaúma, no Rio.

Pixinguinha no Conjunto dos Músicos – Acervo Pixinguinha/IMS

No ano seguinte, foi lançado o LP “Som Pixinguinha”, produzido por Hermínio Bello de Carvalho, com as últimas gravações feitas por Pixinguinha.

Em 1972, foi a vez do filme “Saravah”, do cineasta francês Pierre Barouh, gravado em 1969, em que Pixinguinha aparece tocando “Lamentos” no saxofone, acompanhado de Baden Powell ao violão.

Em junho de 1972, a companheira de Pixinguinha por uma vida, Betty, faleceu. Por conta de complicações cardíacas, ela estava internada desde maio, sem perspectivas de recuperação. Durante sua internação, Pixinguinha também teve um princípio de infarto, sendo internado pelo filho no mesmo hospital. Para não preocupar a esposa, ele trocava o pijama do hospital pelo terno na hora de visitá-la.

Betty e Pixinguinha – Acervo Pixinguinha/IMS

Como conta o site oficial dedicado à sua vida e obra no Instituto Moreira Salles: “Na manhã do dia 17 de fevereiro de 1973, Pixinguinha recebe em casa a visita do poeta e produtor Hermínio Bello de Carvalho, do fotógrafo Walter Firmo e do músico Eduardo Marques. Conversam amenidades, ouvem música e, na hora da despedida, Pixinguinha chora. À tarde, veste seu terno marrom e sai de Inhaúma, acompanhado pelo filho Alfredinho, em direção à Igreja de Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, para batizar o filho de seu amigo Euclides Souza Lima. Como presente para o bebê, leva uma partitura manuscrita de “Carinhoso”. Porém, no momento em que se prepara para assinar seu nome no livro da igreja, Pixinguinha cai em pleno altar, fulminado por um infarto.”.

Revista “Cartaz”, 21/02/1973 – Acervo Pixinguinha / IMS

Pixinguinha tinha 74 anos.

Terminamos esse Arquivo Novabrasil especial Pixinguinha com uma frase do crítico e historiador Ary Vasconcelos: “Se você tem 15 volumes para falar de toda a música popular brasileira, fique certo de que é pouco. Mas, se dispõe apenas do espaço de uma palavra, nem tudo está perdido; escreva depressa: Pixinguinha”

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