A prisão domiciliar de Jair Bolsonaro, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, foi vista como mais um capítulo da escalada de tensão entre o ex-presidente e o Supremo Tribunal Federal. Para o professor de Direito Constitucional Rubens Glezer, a medida, embora forte, não chega a surpreender. “Foi uma jogada arriscada do Bolsonaro e dos filhos. Eles testaram o limite e dobraram a aposta”, avaliou.
O ex-presidente, impedido de participar presencialmente das manifestações do último domingo, ainda assim teve sua imagem amplamente divulgada nas redes sociais, inclusive por familiares. O ministro do STF entendeu que houve violação das medidas cautelares impostas e endureceu a resposta: “Esse é o último aviso. Se tentar burlar de novo, agora é prisão”, resumiu o professor.
Do risco político ao retorno à cena
Na avaliação de Glezer, o gesto de Moraes mostra disposição para evitar a prisão em regime fechado, mas impõe uma linha clara de tolerância. “Se as restrições forem violadas de novo, a consequência pode ser cadeia. A lógica é simples: quem continua cometendo o mesmo crime durante o processo, viola as regras do jogo.”
Ao mesmo tempo, a prisão domiciliar tem implicações políticas importantes. “Há poucas semanas, o mundo político se preparava para uma eleição sem Bolsonaro. Agora, com tornozeleira e prisão domiciliar, ele volta ao centro do jogo”, afirma o professor. “Essa visibilidade reacende os ânimos da base bolsonarista, alimenta teorias de perseguição e provoca reações no Senado, como pedidos de impeachment contra o ministro.”
Democracia em risco e o desafio da convivência
O efeito colateral dessa polarização é sentido além dos gabinetes em Brasília. Segundo Glezer, a radicalização já compromete o tecido social. “Há quem veja o outro não como adversário, mas como inimigo. É casamento que termina, família que rompe, gente que não se fala. Isso vai muito além de Lula, Bolsonaro ou Moraes.”
Ele alerta que a democracia exige convivência com a divergência. “É um desafio imenso reconstruir essa capacidade. Hoje parece mais distante, mas precisamos voltar a um país onde a discordância não leve à violência.”



