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Quando a poesia ganha asas: 5 poemas sobre as borboletas para compartilhar

Em diferentes culturas, borboletas representam transformação, liberdade, renovação e até espiritualidade. Mas é na poesia que esses pequenos seres ganham asas simbólicas ainda mais amplas, tornam-se metáforas de amores fugazes, da infância que passa depressa, da alma.

Na literatura brasileira, borboletas surgem nos versos de grandes autores como Vinicius de Moraes, Cecília Meireles, Manoel de Barros, para expressar tudo aquilo que é belo e passageiro. Às vezes são retratadas com olhos infantis, em poemas lúdicos que brincam com formas e cores. Outras vezes, aparecem como símbolos profundos de transitoriedade, mistério e transformação interior.

1. “As Borboletas” – Vinicius de Moraes (1970)

Brancas
Azuis
Amarelas
E pretas
Brincam
Na luz
As belas
Borboletas.

Borboletas brancas
São alegres e francas.

Borboletas azuis
Gostam muito de luz.

As amarelinhas
São tão bonitinhas!

E as pretas, então…
Oh, que escuridão!

Publicado em 1970, “As Borboletas” é um poema infantil clássico de Vinicius de Moraes. O poeta o compôs originalmente para seus filhos e mais tarde foi musicado no famoso disco “A Arca de Noé”.

As Borboletas tornou-se um dos poemas infantis mais conhecidos da literatura brasileira, com sua musicalidade e imaginação. É uma porta de entrada perfeita para as crianças explorarem a poesia, ao mesmo tempo em que exalta a beleza multicolorida das borboletas.

Freepik | Reprodução

2. “Leilão de Jardim” – Cecília Meireles (1964)

Quem me compra um jardim com flores?
Borboletas de muitas cores,
lavadeiras e passarinhos,
ovos verdes e azuis nos ninhos?

Quem me compra este caracol?
Quem me compra um raio de sol?
Um lagarto entre o muro e a hera,
uma estátua da Primavera?

Quem me compra este formigueiro?
E este sapo, que é jardineiro?
E a cigarra e a sua canção?
E o grilinho dentro do chão?

(Este é o meu leilão.)

Publicado em 1964 no livro “Ou isto ou aquilo”, este poema convida o leitor a “comprar” elementos de um jardim encantado. Logo nos versos iniciais, surgem “Borboletas de muitas cores” esvoaçando entre flores e passarinhos.

Cecília, que foi professora primária, usa linguagem simples e repetição rítmica para aguçar a imaginação e ensinar sobre a natureza. O poema traz o olhar maravilhado de uma criança que valoriza cada criatura, “a borboleta, os passarinhos, o caracol, a cigarra”, como tesouros.

Leilão de Jardim combina a ingenuidade infantil com curiosidade e ternura, e as borboletas simbolizam liberdade e mudança constante.

3. “A Borboleta” – Olavo Bilac (1904)

Trazendo uma borboleta,

Volta Alfredo para casa.

Como é linda! é toda preta,

Com listas douradas na asa.

Tonta, nas mãos de criança,

Batendo as asas, num susto,

Quer fugir, porfia, cansa,

E treme, e respira a custo.

Contente, o menino grita:

“É a primeira que apanho,

Mamãe! vê como é bonita!

Que cores e que tamanho!

Como voava no mato!

Vou sem demora pregá-la

Por baixo do meu retrato,

Numa parede da sala.”

Mas a mamãe, com carinho,

Lhe diz: “Que mal te fazia,

Meu filho, esse animalzinho,

Que livre e alegre vivia?

Solta essa pobre coitada!

Larga-lhe as asas, Alfredo!

Vê como treme assustada…

Vê como treme de medo…

Para sem pena espetá-la

Numa parede, menino,

É necessário matá-la:

Queres ser um assassino?”

Pensa Alfredo… E, de repente,

Solta a borboleta… E ela

Abre as asas livremente,

E foge pela janela.

“Assim, meu filho! perdeste

A borboleta dourada,

Porém na estima crescente

De tua mãe adorada…

Que cada um cumpra a sorte

Das mãos de Deus recebida:

Pois só pode dar a Morte

Aquele que dá a Vida.”

No poema “A Borboleta”, Olavo Bilac narra a história de Alfredo, um menino que captura uma borboleta preta com listas douradas nas asas, encantado com sua beleza. Ao chegar em casa, ele planeja pendurá-la na parede, mas é repreendido pela mãe, que o faz refletir sobre o valor da vida.

Diante do questionamento, Alfredo decide soltá-la para que a borboleta volte a voar livremente. A mãe então ensina: “Pois só pode dar a Morte / Aquele que dá a Vida.” Com ritmo suave e estrutura narrativa, o poema transmite uma lição sobre empatia, respeito aos seres vivos e a importância de permitir que a natureza siga seu curso. É um exemplo sensível de como a poesia pode educar emocionalmente.

Freepik | Reprodução

4. “Borboleta” – Casimiro de Abreu (1858)

Borboleta dos amores,
Como a outra sobre as flores,
Porque és volúvel assim?
Porque deixas, caprichosa,
Porque deixas tu a rosa
E vais beijar o jasmim?
Pois essa alma é tão sedenta

Que um só amor não contenta
E louca quer variar?
Se já tens amores belos,
P’ra que vais dar teus desvelos
Aos goivos da beira-mar?
Não sabes que a flor traída
Na débil haste pendida
Em breve murcha será?
Que de ciúme fenece
E nunca mais estremece
Aos beijos que a brisa dá?…
Borboleta dos amores,
Como a outra sobre as flores,
Porque és volúvel assim?
Porque deixas, caprichosa,
Porque deixas tua a rosa
E vais beijar o jasmim?!
Tu vês a flor da campina,
E bela e terna e divina,
Tu dá-lhe o que essa alma tem;
Depois, passado o delírio,
Esqueces o pobre lírio
Em troca duma cecém!
Mas tu não sabes, louquinha
Que a flor que pobre definha
Merece mais compaixão?
Que a desgraça precisa,
Como sopro da brisa,
Os ais do teu coração?
Borboleta dos amores,
Como a outra sobre as flores,
Porque és volúvel assim?
Porque deixas, caprichosa,
Porque deixas tua a rosa
E vais beijar o jasmim?!
Se a borboleta dourada
Esquece a rosa encarnada
Em troca duma outra flor;
Ela – a triste, molemente
Pendida sobre a corrente,
Falece à míngua d’amor.
Tu também, minha inconstante,
Tens tido mais dum amante
E nunca amaste a um só!
Eles morrem de saudade
Mas tu na variedade
Vais vivendo e não tens dó!
Ai! és muito caprichosa!
Sem pena deixas a rosa
E vais beijar outras flores;
Esqueces os que te amam…
Por isso todos te chamam:
– Borboleta dos amores!

Voltando no tempo para o Romantismo brasileiro, encontramos “Borboleta” de Casimiro de Abreu. Neste poema, publicado em torno de 1858 na coleção As Primaveras, a borboleta é metáfora da alma volúvel e do amor inconstante. Ele compara a borboleta que abandona a rosa pelas flores vizinhas a alguém que não se contenta com um único amor.

Os versos revelam um tom de lamento e advertência: a flor abandonada definhará de ciúmes e saudade, e o coração que voa de paixão em paixão também causa dor. Ao final, o poeta reprova gentilmente a “louquinha caprichosa”, dizendo que todos a chamam de “borboleta dos amores” justamente por essa natureza instável.

Com musicalidade em redondilhas maiores e refrões repetidos, Casimiro de Abreu cria um quadro em que a borboleta simboliza a busca insaciável por novidades amorosas. É um poema romântico típico, de tom saudoso e moralizante, que usa a breve vida das borboletas para refletir sobre fidelidade e efemeridade no amor.

5. “Borboletas” – Manoel de Barros (2000)

Borboletas me convidaram a elas.
O privilégio insetal de ser uma borboleta me atraiu.
Por certo eu iria ter uma visão diferente dos homens e das coisas.
Eu imaginava que o mundo visto de uma borboleta seria, com certeza,
um mundo livre aos poemas.
Daquele ponto de vista:
Vi que as árvores são mais competentes em auroras do que os homens.
Vi que as tardes são mais aproveitadas pelas garças do que pelos homens.
Vi que as águas têm mais qualidade para a paz do que os homens.
Vi que as andorinhas sabem mais das chuvas do que os cientistas.
Poderia narrar muitas coisas ainda que pude ver do ponto de vista de
uma borboleta.
Ali até o meu fascínio era azul.

No poema “Borboletas me convidaram a elas”, Manoel de Barros propõe uma inversão poética do olhar humano ao imaginar-se no ponto de vista de uma borboleta. Com linguagem inventiva e sensível, o poeta valoriza o saber instintivo da natureza frente à racionalidade humana, afirmando que árvores, águas e andorinhas sabem mais da vida do que os homens.

Freepik | Reprodução

Os poetas e as borboletas

Ao tornar-se borboleta, o eu lírico reencontra um mundo mais livre, onde até o fascínio ganha cor: “era azul”. O poema revela o extraordinário no que é pequeno e fazer da poesia um voo para o encantamento.

As borboletas assumem vários significados nas mãos dos poetas, símbolo da infância e da alegria simples, metáfora do amor e de suas inconstâncias, imagem da transformação e da efemeridade da vida, ou mesmo veículo de introspecção filosófica e espiritual. Assim como a lagarta precisa do casulo para se transformar, a humanidade também atravessa suas metamorfoses, pessoais e coletivas.

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