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Relembre a trajetória de Preta Gil

Hoje seria aniversário de Preta Gil. A artista nos deixou há menos de 20 dias – no último dia 20 de julho, aos 50 anos – depois de lutar por mais de dois anos contra um câncer. Mas ela seguirá para sempre viva na memória de um Brasil inteiro. Por isso, hoje, vamos relembrar mais sobre a sua trajetória tão bonita e importante.

Para sempre Preta 

Nascida em berço esplêndido, em meio aos maiores nomes da música popular brasileira, a cantora, atriz, apresentadora e empresária Preta Gil construiu uma carreira de sucesso.

Filha de Gilberto Gil (com a empresária Sandra Gadelha), sobrinha de Caetano Veloso e afilhada de Gal Costa, foi uma criança atenta a tudo aquilo que estava à sua volta:

“Palco era uma coisa que me atraia muito. Toda vez que eu ia em show do meu pai, quando chegava no bis, que eu sabia que ele já tinha feito a parte dele, ele nem me chamava, mas eu e meu irmão subíamos lá. Ele ia pra percussão e eu já ia pro lado da minha irmã Nara, que era vocalista de apoio do meu pai, e já ficava cantando.”, contou Preta em entrevista.

O irmão de quem ela fala é o baterista Pedro, também filho de Gil e Sandra, que morreu em 1990, aos 19 anos, em um acidente de carro; fato que abalou muito a família Gil, especialmente Preta.

Mas, mesmo crescendo em meio a muitas cores, sabores e estímulos daquilo que podemos chamar de “geleia geral” da cultura musical brasileira, Preta se assumiu cantora quase aos 29 anos, depois de lutar contra seus medos, como conta o seu site oficial. 

Depois de atuar por anos como produtora e publicitária – nas produtoras Conspiração e Dueto, das quais também foi sócia  (Preta criou videoclipes para cantoras como Ivete Sangalo e Ana Carolina e dirigiu materiais de grupos como KLB e SNZ, tendo papel fundamental na popularização do formato no Brasil) – ela foi convencida por amigos, como as próprias Ana Carolina e Ivete, a assumir seu lado cantora.

Preta Gil. Foto: Divulgação.

Preta era bem sucedida como produtora e publicitária, mas algo a agoniava, porque ela fugia da sua essência, da sua verdadeira paixão, que era o palco, que era cantar.

Foi quando, finalmente, Preta Gil lançou-se entregue e inteira no seu disco de estreia, “Prêt-à- Porter”, em 2003. O álbum trouxe sucessos como o grande hit “Sinais de Fogo” (composição de Ana Carolina e Antonio Villeroy); “Andaraí” (Betão Aguiar, Pedro Baby e Davi Moraes), a regravação do clássico “Espelhos D’água” (de Dalto e Cláudio Rabelo), além de uma composição de Preta, em parceria com Pedro Baby, Betão Aguiar e Gil Oliveira: Mal de Amar”.

Infelizmente, a capa do seu primeiro disco – em que aparece nua, para simbolizar o seu renascimento – rendeu mais barulho do que a sua atuação como cantora. Já era Preta Gil mostrando a que veio: para ela, não tinha problema nenhum uma mulher dita “fora dos padrões” impostos pela sociedade, mostrar orgulho de seu corpo na capa de um disco. Mas a gordofobia, o racismo e tudo contra o que a cantora lutou bravamente durante toda a sua carreira e que ajudou uma série de outros artistas a se amarem e sentirem orgulho de quem eram, já dava as suas caras.

Em entrevista para a Forbes, ela contou: “Me chamavam mais para entrevistas do que para cantar. Eu costumo dizer que eu era a Preta no mundinho da Tropicália, achava que as pessoas eram que nem a minha família – o mundo não era assim”.

Em uma indústria e uma sociedade opressoras, marcadas pela exaltação de um padrão branco, magro e eurocentrado, Preta sempre ousou – e amou – ser ela mesma: belíssima, talentosa, generosa e autêntica. 

E a repercussão da capa do primeiro disco de Preta Gil tornou-se um marco político-cultural para o Brasil.

Em 2005, o seu segundo disco, “Preta”, também contou com composições de grandes nomes como Adriana Calcanhoto, Moraes Moreira, Davi Moraes, Pedro Luís, Lan Lanh e Sandra Sá.

Depois disso, em 2008, Preta Gil estreou a turnê de sucesso “Noite Preta”, que deu origem – em 2010 – a um disco ao vivo e a seu primeiro DVD, com sucessos já consagrados de sua carreira, regravações de grandes clássicos da música brasileira e a participação de Ana Carolina e de seu pai, Gilberto Gil.

Sobre a faixa que dá nome ao seu terceiro álbum de estúdio, de 2012, “Sou Como Sou” (de Alex Góes), Preta declarou: “Essa música traduz o que eu penso, fala no que eu acredito. Minha vida é uma luta contra o preconceito. Fiz o mercado acordar para as mulheres reais como eu. Nos meus dez anos de carreira, eu fui muito criticada, mas hoje eu sou respeitada”. 

A canção traz várias pautas sobre as quais a artista foi grande e importante ativista, como a gordofobia, o racismo e a LGBTQIA+fobia.

O disco também traz composições de seu pai Gilberto Gil (Praga”) e de seu filho, Francisco Gil (Mulher Carioca”), hoje integrante do trio Gilsons. Deste álbum, foi gravado o segundo DVD, intitulado “Bloco da Preta”, que foi lançado em 2014 e celebrou seus 10 anos de carreira, com participações de Lulu Santos, Ivete Sangalo, Israel Novaes, Anitta, Thiaguinho e Monobloco. 

O “Bloco da Preta”, inclusive, tornou-se – desde 2009 – um dos maiores blocos de carnaval do Brasil e arrastou multidões pelas ruas do Rio de Janeiro. Era também uma das maiores celebrações de diversidade do Brasil, espaço de liberdade e acolhimento, principalmente para a população LBTGQIAPN+, pela qual Preta sempre foi uma grande ativista por direitos e respeito, e que mais uma vez, usava a sua voz como amplificadora.

Preta Gil: um corpo político e multifacetado

Uma mulher, negra, gorda e bissexual, Preta Gil foi um corpo político desde que nasceu. Ela já era uma bandeira de representatividade apenas por existir: 

“O [nome] ‘Preta é responsável pela minha força, pela minha personalidade. Eu sou uma mulher mestiça, que me considero preta. Sempre me considerei preta não só pelo meu nome mas pela minha ancestralidade, pela figura do meu pai, da minha família. Conforme fui crescendo, entendi que estava misturado, mas sempre me senti preta.”, contou a artista em entrevista.

A artista teve como segundo nome Maria, segundo contava a própria cantora e também seu pai, Gilberto Gil, por conta de uma condição imposta pelo tabelião do cartório para registrá-la como Preta

“Meu pai foi ao cartório, me registrar, com a minha avó materna, a vó Wangry, minha avó branca, que é mãe da minha mãe. Chegando lá o tabelião falou: ‘Você não vai poder registrar o nome de sua filha de Preta.’ Imagina! Vocês conhecem meu pai, sabem que ele gosta de falar e já começou a fazer discurso. ‘Mas por quê? Existem Biancas, Brancas, Claras, Rosas e não pode ter Preta?’ E o tabelião disse: ‘Tudo bem, você vai botar Preta, mas só se botar um nome católico junto.’ Então eu me chamo Preta Maria por conta do tabelião e pela Mãe Divina“.

Em 2017, a artista lançou o seu último e mais maduro álbum, “Todas as Cores”, disco que – como ela dizia em seu site oficial: “é a mais perfeita tradução da artista que Preta se transformou: (…) a própria aquarela: tem a mistura ‘furta-cor’ de ritmos e estilos, que mescla as cores da bandeira ‘arco-íris’, com seu público variado, que tem gente de todas as classes, credos, cores e opiniões. Preta Gil é a tradução de todas as cores: cores latinas, cores baianas, cores do groove, cores da sua vida.”.

O álbum traz composições de Seu Jorge, Pretinho da Serrinha, Ana Carolina, Pabllo Vittar e Marília Mendonça. Pabblo e Marília participam do disco, além da madrinha de Preta, Gal Costa, com quem ela canta o sucesso “Vá Se Benzer” (de Sérgio Rocha, Emerson Taquari, Deco Simões e Leonardo Reis)

Depois do álbum de 2017, Preta ainda lançou diversos singles, solo ou em parceria com outros artistas, e também um EP, em 2024, “De Volta ao Sol”, com três faixas e as participações de Psirico, Thiago Pantaleão e Ruxell. 

Ao longo da carreira, Preta Gil também apresentou programas de televisão como: “Caixa Preta” (Rede Bandeirantes, 2004) e “Vai e Vem” (GNT, 2009–10), além de integrar o elenco fixo do “Esquenta!” (TV Globo, 2011–13).

Também atuou em novelas como “Agora É que São Elas” (TV Globo, 2003) e “Caminhos do Coração” (Rede Record, 2007–08),, e foi fundadora e sócia-diretora da Music2Mynd, agência especializada em música, marketing de influência e entretenimento, fazendo gestão de imagem de seus agenciados, conexão entre personalidades e marcas para trabalhos publicitários, idealização e planejamento de ações publicitárias.

Em 2024, a artista lançou sua autobiografia “Preta Gil: os Primeiros 50”, no qual aborda o diagnóstico de câncer no intestino – contra o qual lutou bravamente, com coragem e transparência, por mais de dois anos – e o fim conturbado de seu casamento, após uma traição pública enquanto a artista enfrentava o tratamento da doença. É imensa a estatística de mulheres que são abandonadas pelos parceiros quando recebem o diagnóstico de câncer.

Em um dos momentos do livro, Preta escreveu: “A vida me deu a chance de enfrentar um câncer, de terminar relações que não me enriqueciam e de começar outras. Me deu a chance de ser avó! e de ser cada vez mais Preta“.

A artista dedicou a autobiografia à sua neta e grande amor, filha de Francisco Gil, que tem 9 anos: “Dedico este livro à Sol de Maria, porque sei que, quando crescer, escutará muitas histórias a meu respeito. Algumas serão mentirosas, outras não. Aqui, eu tenho a chance de contar para ela a minha verdade”, escreveu.

Preta Gil faceleu em Nova York, nos Estados Unidos, ontem estava em tratamento com métodos experimentais, depois de esgotar as tentativas no Brasil. Quando ela soube pelos médicos que tudo o que poderia ser tentado já havia sido feito, quis voltar para o Brasil para ficar mais perto dos amigos e família. Mas a artista faleceu a caminho do aeroporto. Uma partida sentida pelo Brasil inteiro.

O velório aconteceu no dia 25 de julho, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, atendendo a um pedido pessoal de Preta, e seu corpo foi cremado no Cemitério da Penitência, na região do Caju, passando com um cortejo no carro do corpo de bombeiros no mesmo itinerário de onde circulava o seu bloco no Carnaval, que foi nomeado por decreto como “Circuito de Blocos de Rua Preta Gil”, ganhando uma placa no local.

Sua batalha contra o câncer, acompanhada de perto pelo público, humanizou a doença e trouxe à tona a importância da saúde mental e do apoio emocional. Como podemos perceber, o legado de Preta Gil vai além da música e das artes. É um legado humanitário. Viva, Preta Gil!

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