Saudando Grandes Compositores da MPB – Tom Jobim

por Lívia Nolla

Hoje é aniversario daquele que é considerado o maior expoente de todos os tempos da música popular brasileira: Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim. 

Se não tivesse nos deixado em dezembro de 1994 – vítima de uma parada cardíaca, quando estava se recuperando de um câncer na bexiga, aos 67 anos – o maestro, cantor, compositor, pianista, violonista e arranjador Tom Jobim estaria completando 97 anos neste 25 de janeiro de 2024. 

E, para homenagear o aniversariante do dia e seguir homenageando grandes compositores da nossa música popular brasileira – que são tão importantes e têm uma contribuição tão significativa quanto cantores, intérpretes e músicos – nós damos continuidade à série Saudando Grandes Compositores da MPB, em que contamos a história de grandes clássicos das carreiras desses artistas. 

Ao longo da matéria vamos dar uma pincelada na história de várias músicas que são clássicos do maestro Tom Jobim, como Chega de Saudade, Garota de Ipanema e Wave. 

 

Sobre Tom Jobim 

Nascido no Rio de Janeiro, em 1927, o artista carioca também foi um dos criadores do movimento da Bossa Nova, com sua música e melodia, ao lado da letra e poesia de Vinicius de Moraes e da voz e violão de João Gilberto. 

Com sua capacidade de trazer leveza e elegância para a complexidade e a densidade elevadas de suas composições, Tom Jobim compunha músicas vocais e instrumentais de rara inspiração, juntando harmonias do jazz e elementos tipicamente brasileiros, fruto de suas pesquisas sobre a cultura brasileira, com uma aliança perfeita entre sua sofisticação harmônica e sua qualidade de letrista. 

 

O início na música 

Tom Jobim nasceu pelas mãos do mesmo obstetra que dez anos antes trouxe ao mundo Noel Rosa. Órfão de pai aos oito anos, teve no padrasto seu maior incentivador musical, embora já vivesse em uma família recheada de músicos. Na adolescência, encantou-se com a música e teve como principal companheiro o violão, além do mar e do mato. 

Foi quando sua mãe alugou um piano, e desde então, Tom Jobim passou a explorar o instrumento intensamente. Teve vários professores, mas foi Lúcia Branco quem sentiu nele a vocação para a composição. 

Reprodução: Acervo IPB

Ao concluir um exercício passado pela mentora, em 1947, surgiu a Valsa Sentimental, música que carregava toda a influência dos compositores eruditos que ele estudava à época. Tom dizia que essa música seria sempre instrumental, até que a apresentou a Chico Buarque, em 1983. Chico não só mudou o título da canção como também lhe inseriu um poema belíssimo, surgindo daí a música Imagina. 

Tom Jobim chegou a cursar o primeiro ano da faculdade de Arquitetura e até a se empregar em um escritório, mas logo abandonou e iniciou a carreira como pianista, em bares e boates do Rio de Janeiro.  

Em 1952, foi contratado como arranjador pela gravadora Continental, onde – além dos arranjos – também tinha a função de transcrever para a pauta as melodias de compositores que não dominavam a escrita musical.  

São dessa época as suas primeiras composições, sendo a primeira canção gravada Incerteza, uma parceria com Newton Mendonça, na voz do cantor Mauricy Moura, em um disco de 78 rotações por minuto, de 1954.  

O primeiro sucesso de Tom Jobim veio no mesmo ano, com a gravação de Tereza da Praia, sua parceria com Billy Blanco, interpretada por Lúcio Alves e Dick Farney. 

 

Parceria com Vinicius de Moraes  

Tom Jobim conheceu o seu grande parceiro de uma vida, Vinicius de Moraes, em 1956 – quando o poeta o convidou para musicar a sua peça Orfeu da Conceição,  iniciando uma das parcerias mais produtivas e importantes da história da MPB.  Em quinze dias, Tom e Vinicius fizeram praticamente toda a trilha do espetáculo, com canções como as clássicas Lamento do Morro e Se Todos Fossem Iguais A Você. Em 1959, a dupla compôs a trilha do premiado filme ítalo-franco-brasileiro Orfeu do Carnaval ou Orfeu Negro – inspirado na peça e dirigido pelo francês Marcel Camus –  que ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Entre as canções, destacam-se A Felicidade e O Nosso Amor. 

Também 1959, a partir da gravação das canções Chega de Saudade (parceria de Tom com Vinicius) e Desafinado (parceria de Tom com Newton Mendonça) – gravadas por João Gilberto, com sua batida característica ao violão, no disco Chega de Saudade – começa a definir-se o movimento Bossa Nova, que viria a se tornar internacionalmente conhecido e modificar para sempre os rumos da MPB.  

Em 1960, Tom Jobim e Vinicius de Moraes viajaram juntos para a recém fundada nova capital brasileira – a convite do então presidente Juscelino  Kubitscheck – para compor uma canção em homenagem à Brasília: Sinfonia da Alvorada, lançado no ano seguinte, no disco Brasília – Sinfonia da Alvorada. 

Em 1962, Tom e Vinicius compuseram Garota de Ipanema, gravada inicialmente por Pery Ribeiro – e a canção brasileira mais conhecida internacionalmente, regravada por astros estrangeiros como Frank Sinatra e Madonna. É também a segunda música mais regravada da história, ficando somente atrás de Yesterday, dos Beatles. Em 1964, competindo com os Beatles, os Rolling Stones e Elvis Presley, Garota de Ipanema ganhou o Grammy Awards de Música do Ano, em uma versão em inglês interpretada por Astrud Gilberto e Stan Getz, no álbum Getz/Gilberto, uma parceria entre João Gilberto e o saxofonista de jazz norte-americano. 

Garota de Ipanema foi inspirada em uma bela garota, que depois ficou conhecida como Helô Pinheiro, que passava por Tom e Vinicius diariamente no famoso bar-café Veloso, onde se os compositores se reuniam, para ir à praia de Ipanema. 

Além do prêmio de Música do Ano com Garota de Ipanema, em 1964, Tom Jobim foi indicado mais cinco vezes ao Grammy Awards, façanha conseguida por poucos brasileiros na história. O maestro ganhou o prêmio apenas mais uma vez, com sua última indicação, a Melhor Performance de Jazz Latino, pelo álbum Antônio Brasileiro, lançado pouco depois de sua morte, em 1994.  

 

Sucesso internacional  

O sucesso fora do Brasil fez Tom Jobim voltar aos EUA em 1967 para gravar com um dos grandes mitos americanos e de seus grandes ídolos: Frank Sinatra. O disco Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim incluiu versões em inglês de canções de Tom: as parcerias com ViniciusThe Girl From Ipanema e How Insensitive (versão de Insensatez, canção da dupla que também foi gravada por Ella Fitzgerald e Diana Krall); além de Dindi (parceria com Aloysio de Oliveira) e Corcovado (que recebeu o nome de Quiet Night of Quiet Stars). 

Na época em que estava alinhando o repertório e esperando para gravar com seu grande ídolo Sinatra nos Estados Unidos, Tom Jobim compôs – na solidão de seu quarto gelado de inverno, em um hotel de  Los Angeles – dois grandes sucessos: Wave e Triste. 

O maestro compôs primeiro a música e – acostumado a compor em parceria – ligou para Chico Buarque e tocou a melodia pelo telefone, para o amigo colocar a letra. Acontece que Chico só conseguiu enviar o primeiro verso: “Vou te contar…” e não pôde terminar a música. 

Tom Jobim fez então a letra de Wave, e costumava dizer brincando que: “Chico Buarque escreveu ‘Vou te contar’, mas quem contou fui eu!”. 

 

Homenagens 

Foram mais de 30 álbuns lançados, solo, para trilhas sonoras ou em parceria, com nomes como – além de Vinicius e Sinatra – Elis Regina, Edu Lobo, Miúcha e Toquinho, fora os tributos que recebeu de diversos nomes da nossa música e da música internacional também. 

Em 1999, para homenagear Tom Jobim, o Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro foi renomeado Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro/Galeão – Antônio Carlos Jobim junto ao Congresso Nacional, por uma comissão de notáveis, formada por Chico Buarque, Oscar Niemeyer, João Ubaldo Ribeiro, Antônio Cândido, Antônio Houaiss e Edu Lobo, criada e pessoalmente coordenada pelo crítico Ricardo Cravo Albin. A Lei 9.778, foi sancionada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, com base em um projeto de iniciativa do senador Júlio Campos. 

Tom Jobim recebeu outra bela homenagem: o maestro tinha a mania de escrever cartas. As correspondências eram frequentemente trocadas com os amigos Vinicius de Moraes e Chico Buarque. Nas cartas, Tom chamava Vinicius de Poetinha e era chamado de Tomzinho 

A quantidade de cartas trocadas pelos dois era enorme e a mania virou música: Vinicius escreveu a canção Carta ao Tom 74 (musicada por Toquinho), em que fala com saudade do endereço da casa em que Tom morou durante um tempo em Ipanema, e onde compôs diversas músicas ao lado do amigo, e também conta da amizade dos dois e traz referências das suas canções compostas em parceria: 

 

 

Rua Nascimento Silva, 107 

Você ensinando pra Elizete 

As canções de Canção Do Amor Demais 

 

Lembra que tempo feliz 

Ai, que saudade! 

Ipanema era só felicidade 

Era como se o amor doesse em paz 

 

Nossa famosa garota nem sabia 

A que ponto a cidade turvaria 

Este Rio de amor que se perdeu 

 

Mesmo a tristeza da gente era mais bela 

E além disso se via da janela 

Um cantinho de céu e o Redentor 

 

É, meu amigo, só resta uma certeza 

É preciso acabar com essa tristeza 

É melhor inventar de novo o amor 

 

Aí vem a paródia e diz assim: 

 

Rua Nascimento Silva, 107 

Eu saio correndo do pivete 

Tentando alcançar o elevador 

 

Minha janela não passa de um quadrado 

A gente só vê Sérgio Dourado 

Onde antes se via o Redentor 

 

É, meu amigo, só resta uma certeza 

É preciso acabar com a natureza 

É melhor lotear o nosso 

 

​​Gostou de saber mais sobre as histórias de grandes canções da nossa música popular brasileira? Continue acompanhando a nossa série Saudando Grandes Compositores da MPB. Hoje, homenageamos o aniversariante Tom Jobim. 

 

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