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Saúde bucal e doenças cardiovasculares: um elo que vai muito além do sorriso

Nos últimos dias está circulando nas redes e na imprensa internacional uma notícia que chamou atenção: um estudo relacionando doenças nas gengivas e cáries a um maior risco de derrame cerebral.
Vamos entender melhor?

🧾 O estudo em detalhes

A pesquisa, intitulada “Combined Influence of Dental Caries and Periodontal Disease on Ischemic Stroke Risk: The ARIC Study”, foi publicada em 2025 no periódico Neurology Open Access, da Academia Americana de Neurologia (AAN).

O trabalho faz parte do consagrado ARIC (Atherosclerosis Risk in Communities) — um dos maiores estudos populacionais sobre saúde cardiovascular nos Estados Unidos, que há mais de 30 anos investiga fatores de risco para infarto do miocárdio e AVC.

Foram avaliados 5.986 adultos, com idade média de 63 anos, sem histórico prévio de AVC ou doença coronariana, acompanhados por mais de 20 anos.
Os participantes foram divididos em três grupos:
1️⃣ Gengivas saudáveis,
2️⃣ Doença periodontal (inflamação crônica das gengivas),
3️⃣ Doença periodontal associada a cáries.

Durante o acompanhamento, os pesquisadores observaram que quanto pior a saúde bucal, maior o risco de AVC isquêmico — o tipo de derrame causado por obstrução das artérias cerebrais:
• 4 % dos participantes com boca saudável tiveram AVC;
• 7 % entre os que tinham apenas doença gengival;
• e 10 % entre aqueles com gengiva doente e cáries.

Mesmo após ajustes para idade, sexo, hipertensão, diabetes, tabagismo, colesterol e índice de massa corporal, o risco manteve-se 44 % maior em pessoas com doença gengival isolada e 86 % maior em quem tinha gengivite e cáries ao mesmo tempo.

Outro achado relevante: visitas regulares ao dentista reduziram significativamente o risco.
Indivíduos que mantinham acompanhamento odontológico preventivo apresentaram 81 % menos chances de ter doença gengival e cáries e também menor risco de AVC ao longo do tempo.

⚠️ Limitações e interpretação científica

Apesar dos números expressivos, os próprios autores do estudo alertam que se trata de uma análise observacional, ou seja, não comprova uma relação de causa e efeito.

Outras limitações incluem:
• A saúde bucal foi avaliada apenas uma vez durante o estudo, sem reavaliações;
• Fatores como nível socioeconômico, alimentação e acesso à saúde podem ter influenciado os resultados;
• O estudo não investigou bactérias específicas nem biomarcadores inflamatórios capazes de explicar o mecanismo exato da relação;
• Não houve intervenções odontológicas controladas, o que impede conclusões definitivas sobre prevenção.

Em outras palavras: ainda não dá para afirmar que a gengivite cause AVC diretamente, mas há uma ligação plausível por meio da inflamação sistêmica — o mesmo processo que causa aterosclerose, infarto e derrame cerebral.

Mesmo sem comprovar causalidade, esse estudo é muito importante por identificar uma associação significativa e reforçar o alerta sobre o impacto da saúde bucal na saúde cardiovascular.
Ele mostra que o cuidado preventivo com dentes e gengivas vai muito além da estética é uma parte essencial da prevenção de doenças crônicas e do envelhecimento saudável.

🧠 Como a boca pode afetar o coração e o cérebro

A doença periodontal provoca inflamação crônica nas gengivas.
As bactérias e toxinas liberadas caem na corrente sanguínea e podem agredir o endotélio das artérias, favorecendo o acúmulo de gordura e a formação de placas.

Essas “placas de gordura”, chamadas de aterosclerose, são como pequenos depósitos de colesterol e células inflamatórias que se acumulam nas paredes dos vasos sanguíneos.
Com o tempo, elas estreitam as artérias e dificultam a passagem do sangue.
Quando uma dessas placas se rompe, forma-se um coágulo que pode bloquear totalmente a circulação, provocando um infarto (no coração) ou um AVC isquêmico (no cérebro).

Ou seja: o mesmo processo inflamatório que acontece na boca pode, a longo prazo, refletir nas artérias.

Além disso, hábitos ligados à má saúde bucal — como dieta inadequada, tabagismo e falta de prevenção costumam estar associados a outros fatores de risco cardiovascular, reforçando a importância de uma visão integrada da saúde.

❤️ Fatores clássicos continuam sendo os maiores vilões

Mesmo com novas pesquisas, os principais fatores de risco para infarto e AVC continuam sendo os mesmos:
• Hipertensão arterial,
• Colesterol alto,
• Diabetes mellitus,
• Tabagismo,
• Sedentarismo,
• Obesidade.

De acordo com as Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial 2025, uma pressão abaixo de 120 x 80 mmHg é considerada normal.
Valores entre 120 x 80 mmHg e 130 x 90 mmHg definem a pré-hipertensão, quando ainda não há necessidade de medicamentos, mas é essencial mudar o estilo de vida.
Já a hipertensão arterial é diagnosticada a partir de 140 x 90 mmHg, exigindo acompanhamento médico e, em muitos casos, início de tratamento medicamentoso.

As Diretrizes 2025 da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e da American Heart Association (AHA) reforçam que o foco principal deve ser prevenir antes de tratar.
Entre as recomendações estão:
• Praticar pelo menos 150 minutos de atividade física aeróbica por semana (como caminhada, corrida, natação ou ciclismo);
• Reduzir o consumo de sal e alimentos ultraprocessados;
• Manter o peso saudável e dormir bem;
• Evitar tabagismo e consumo excessivo de álcool.

Além disso, as metas de colesterol LDL-C (ruim) ficaram mais rígidas com abaixo de 115 mg/dL para pessoas de baixo risco até menor de 40 mg/dL para risco extremo.
O cardiologista calcula o risco cardiovascular de cada paciente com base na calculadora Prevent Score, que estima a probabilidade de infarto, AVC ou insuficiência cardíaca em 10 e 30 anos, e define a meta ideal de colesterol e pressão arterial.

🦷 A boca também faz parte do check-up

Durante o check-up cardiovascular, o médico deve sempre lembrar o paciente de manter consultas regulares com o dentista.
A avaliação odontológica identifica precocemente inflamações gengivais e ajuda a prevenir infecções que podem atingir o coração — como a endocardite infecciosa.

A endocardite é uma inflamação grave do revestimento interno do coração e das válvulas cardíacas, geralmente causada por bactérias que circulam no sangue muitas vezes vindas da boca.
Mesmo pequenas lesões nas gengivas durante a escovação ou procedimentos odontológicos podem permitir a entrada desses microrganismos na corrente sanguínea.
Em pessoas com próteses valvares, malformações cardíacas, histórico de endocardite ou transplante cardíaco com valvopatia, esse risco é ainda maior.

Por isso, a American Heart Association reforça que:
• Boa higiene oral diária é a forma mais eficaz de prevenir endocardite;
• A profilaxia antibiótica antes de procedimentos odontológicos deve ser reservada somente para pacientes de alto risco, conforme critérios médicos.

Prevenção integrada

Cuidar da boca é cuidar do corpo inteiro.

Escovar os dentes, usar fio dental, manter consultas médicas e odontológicas regulares, fazer atividade física, dieta equilibrada, prato colorido, controlar sua pressão arterial, colesterol, glicemia, perder peso e parar de fumar são atitudes que salvam vidas.

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