O amor e aptidão pela música acompanharam Elza Soares desde que ela nasceu.
Mesmo passando fome, diversas violências e muita dificuldade desde à infância, ela confiava no seu talento e técnica para cantar e – em 1953 – a moça de 23 anos, nascida na comunidade Moça Bonita (hoje Vila Vintém) no bairro Padre Miguel, no Rio de Janeiro, se inscreveu (sem o apoio da família) no concurso musical apresentado pelo compositor Ary Barroso.
Assim que ela soltou a voz, interpretando o samba-canção “Lama” (de Paulo Marquez e Aylce Chaves), deixou todo mundo impressionado. Elza tirou nota máxima e o Ary Barroso anunciou que ali nascia uma estrela. Uma estrela que nunca deixou de brilhar e de nos fazer acreditar que é possível, mesmo enfrentando todos os preconceitos e traumas de sua vida. Elza Soares diz que – se não fosse a música – ela não estaria viva.
Depois disso, Elza começa a cantar na Orquestra Garam de Bailes, mas, muitas vezes, não a permitiam subir no palco, por ela ser uma mulher negra. Era só o início de um tanto de preconceitos que continuaram a acompanhar Elza Soares durante toda a sua vida e carreira. Mas ela não se deixou abalar e continuou lutando por sua arte e sua vida.
Em 1958, depois de integrar o espetáculo “É Tudo Juju-frufru”, Elza Sores foi convidada a participar de uma turnê por Buenos Aires com diversos músicos. Acomodada em um hotel, Elza dormiu pela primeira vez em um colchão (em casa, deitava-se sobre esteiras feitas com sacos de farinha de trigo).
O que era para durar alguns dias, demorou quase um ano: a cantora levou um calote e, para não voltar ao Brasil sem nenhum dinheiro e derrotada, permaneceu na Argentina fazendo pequenos shows.
Quando voltou ao Rio de Janeiro, passou a apresentar-se em casas noturnas que eram frequentadas por importantes músicos da época, como Roberto Menescal e João Gilberto.
Em uma dessas apresentações, a cantora Sylvinha Telles apresentou Elza Soares ao seu marido, Aloysio de Oliveira, produtor da gravadora Odeon, que a convidou para um teste e em seguida a contratou para gravar o seu primeiro álbum: “Se Acaso Você Chegasse”, de 1960, que tinha a faixa-título composta por Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins.
O disco – e principalmente a canção que dá nome a ele – tiveram bastante visibilidade nas rádios e logo Elza Soares tornou-se um imenso sucesso.
Bom, o resto é história! Elza tornou-se uma das maiores artistas da música popular brasileira de todos os tempos. E mais! Ela foi eleita a “Cantora do Milênio” pela Rádio BBC de Londres, em 1999.
A cantora carioca construiu uma trajetória inigualável com sua voz única e potente e sua história de vida marcante. A interpretação poderosa que entrega as canções que interpretou e as letras com mensagens certeiras, presentes em tudo o que gravou, sempre trazendo à tona questões sociais, políticas e raciais de extrema importância, principalmente sobre racismo, desigualdade e equidade de gênero, são inesquecíveis.
Sua vida é sinônimo de resistência, resiliência e sobrevivência. Elza passou por vários traumas e tragédias – como a morte de quatro dos seus filhos e abusos físicos e sexuais, além de preconceitos de todos os tipos – e fez disso tudo combustível para a sua arte e para a sua música, levando sua mensagem para outras mulheres e pessoas negras. A cada queda, se levantou maior
Elza Soares cantou até o fim, quando deixou o Brasil inteiro de luto ao partir aos 91 anos de idade, em janeiro de 2022. E se você quiser saber todos os detalhes sobre essa história, pode escutar o Acervo Novabrasil Especial Elza Soares, uma verdadeira enciclopédia da nossa música, original Novabrasil.
Ou, você também pode acessar esta matéria especial, em que trazemos essa e outras nove canções que contam a trajetória de Elza Soares.
Mas hoje, nós vamos conhecer outras versões da música que revelou Elza Soares ao mundo: “Se Acaso Você Chegasse”, de Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins. Ela foi gravada também na voz de outros grandes artistas da nossa música. Vamos conhecer?
1 – Cyro Monteiro (1938)
A primeira gravação de “Se Acaso Você Chegasse” é do cantor e compositor carioca Cyro Monteiro, em um disco de 78 RPM, em 1938. Do outro lado do disco, estava a canção “Ela Não Compreende”, de Amaro Silva.
2 – João Donato (1954)
O pianista, acordeonista, arranjador, cantor e compositor acreano João Donatotambém gravou uma versão da música em um disco de 78 RPM, no ano de 1954. Mas a versão de Donato é instrumental. Belíssima!
3 – Lupicínio Rodrigues (1955)
No ano seguinte, um dos compositores da canção – o gaúcho Lupicínio Rodrigues – lançou sua versão de “Se Acaso Você Chegasse”, em seu primeiro álbum, “Roteiro de um Boêmio”, de 1955.
4 – Elza Soares e Wilson das Neves (1968)
Dez anos depois de alcançar o sucesso nacional com a canção que deu nome ao seu primeiro disco, Elza Soares regravou “Se Acaso Você Chegasse” emuma versão repaginada, ao lado do baterista cariocaWilson das Neves, em um disco que ambos gravaram juntos, em 1968.
5 – Baby do Brasil (1980)
A cantora e compositora Baby do Brasil – que também traz na sua voz o “drive” característico de Elza Soares – registrou uma versão ao vivo da música em 1980, quando se apresentou no Festival de Jazz de Montreux, na Suíça.
6 – Joanna (1994)
Em 1994, foi a vez da cantora, compositora e instrumentista carioca Joanna gravar “Se Acaso Você Chegasse” e outras canções de Lupicínio Rodrigues em seu álbum “Joanna Canta Lupicínio”.
7 – Adriana Calcanhotto (2015)
Mais recentemente, em 2015,Adriana Calcanhotto também gravou um CD e DVD em que interpreta somente composições de Lupicínio: “Loucura: Adriana Calcanhotto canta Lupicínio Rodrigues”.
8 – Criolo (2024)
Mais recente ainda é a gravação em single do rapper paulistano Criolo para “Se Acaso Você Chegasse”, em 2024. Lupicínio Rodrigues e Elza Soares nunca deixam de ser atuais!
