Nesta virada de ano, preparamos uma sequência de textos pensados como travessia: do recolhimento do fim de dezembro, às despedidas e à escuta aberta dos primeiros dias de janeiro. A música popular brasileira aparece aqui como fio condutor entre o que termina e o que começa. Não como resposta definitiva, mas como espaço de reflexão, afeto e permanência.
As despedidas na música brasileira
A música brasileira nunca teve dificuldade em lidar com despedidas. Talvez porque partir faça parte da nossa história, individual e coletiva. Há despedidas que doem, outras que aliviam. Há aquelas que não se anunciam, apenas acontecem: e a canção surge como forma de elaborar o que não cabe em um discurso direto.
Milton Nascimento cantou travessias que são mais emocionais do que geográficas, sabendo que a vida é um eterno encontro e despedida. Ele solta a voz para falar de adeus como mudança, crescimento e seus novos “eus”.
Já Chico Buarque transformou o adeus em narrativa para o ciclo da vida, para a transformação da sociedade. E Elis Regina deu voz a finais abruptos, intensos, que não pedem licença para acontecer.
Cartola ensinou que até o adeus pode ser cantado com dignidade. Em suas canções, despedir-se nunca foi sinônimo de ressentimento, mas de reconhecimento. Algo terminou porque precisava terminar. Para que o novo pudesse chegar. Tom JobimeVinicius de Moraesfalam sobre o poder de dizer adeus sem deixar de honrar a beleza e a importância do que se viveu.
Leandro e Leonardo não aprenderam a dizer adeus, mas tiveram que aceitar que as coisas vêm e vão e que a vida é um eterno recomeço. Já Gilberto Gil, em um dos momentos mais duros da sua jornada,mandou “Aquele Abraço” pra quem fica, mostrando a magnitude da sua existência neste mundo!
No fim do ano, despedimo-nos de versões de nós mesmos. A música ajuda a nomear esse processo. Não para dramatizar, mas para compreender. Despedir-se não é perder: é reconhecer que algo cumpriu seu tempo.
Vamos nos despedir do ano que passou como quem escuta uma boa música?



