Se não tivesse nos deixado em março deste ano, aos 79 anos, vítima de uma parada cardíaca durante uma cirurgia, a cantora, compositora e instrumentista Sueli Costa, estaria completando 80 anos neste 25 de julho de 2023.
Uma das compositoras mais importantes da nossa história, Sueli teve suas canções eternizadas – além de em sua voz – nas vozes de grandes cantoras brasileiras como:
- Elis Regina;
- Maria Bethânia;
- Simone;
- Nara Leão;
- Fafá de Belém;
- Ney Matogrosso;
- Fagner;
- e Beth Carvalho.
E, para homenagear a aniversariante do dia e seguir homenageando grandes compositores da nossa MPB – que são tão importantes e têm uma contribuição tão significativa quanto cantores, intérpretes e músicos – nós damos continuidade à série Saudando Grandes Compositores da MPB, em que contamos a história de grandes clássicos das carreiras desses artistas.
Sueli Costa
Sueli Costa nasceu no Rio de Janeiro, em uma família de músicos – sua mãe tocava piano e dava aulas de canto coral – e foi nesse ambiente que aprendeu sozinha a tocar violão na adolescência, ao lado dos irmãos.
Foi morar em Juiz de Fora, onde mais tarde fez faculdade de Direito. Aos 18 anos, escreveu a sua primeira composição – Balãozinho – já em estilo bossa-nova, que estava no auge na época, depois do lançamento de Chega de Saudade, canção de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, tocada de forma inovadora por João Gilberto em seu disco com o mesmo nome, de 1959.
Pouco tempo depois, Sueli Costa firmou-se como grande compositora, passou a compor trilhas para teatro, participar de festivais e teve canções suas gravadas por importantes nomes da MPB.
Com o sucesso batendo à porta, Sueli foi contratada pela gravadora EMI e gravou o seu primeiro disco – Sueli Costa – em 1975, com produção de Gonzaguinha e arranjos de Paulo Moura e Wagner Tiso.
Dois anos depois, veio o segundo LP, com produção de João Bosco e Aldir Blanc.
Foram mais de 150 composições ao longo da carreira
Ao longo de sua carreira, foram quase 150 composições com parceiros diversos – como:
- Abel Silva;
- Paulo César Pinheiro;
- Aldir Blanc;
- Capinam;
- Cacaso;
- Tite de Lemos;
- e Vitor Martins.
Além de oito álbuns de sucesso lançados, sendo o mais recente de estúdio lançado em 2007, além de um disco ao vivo, em 2018.
Entre as grandes canções consagradas de Sueli Costa estão:
- Coração Ateu;
- Por Exemplo Você (parceria com João Medeiros Filho);
- Assombrações (parceria com Tite de Lemos);
- Vinte Anos Blues (com Vítor Martins);
- Dentro de Mim Mora um Anjo (parceria com Cacaso);
- Primeiro Jornal;
- Alma;
- Vida de Artista;
- e Jura Secreta (todas parcerias com Abel Silva).
Saudando Grandes Compositores da MPB
Entre os inúmeros sucessos compostos por Sueli Costa, escolhemos contar a história de dois dos seus grandes clássicos: Por Exemplo Você e Alma.
A história de “Por Exemplo Você”, de Sueli Costa e João Medeiros Filho (1967)
Por Exemplo Você foi a primeira canção de Sueli gravada em disco. Trata-se de uma composição da artista com seu primeiro parceiro na música, o letrista João Medeiros Filho, lançada por Nara Leão, em seu álbum Nara, de 1967.
A cantora era uma das maiores intérpretes da música popular brasileira na época, considerada a Musa da Bossa Nova, e Sueli Costa contou em entrevista que ela soube que sua música seria gravada por Nara Leão por meio de um jornal.
Túlio Cardoso, um crítico da música da época, colocou assim na sua coluna no Correio da Manhã: “Repertório do próximo disco de Nara Leão“. e – entre as músicas – lá estava “Por Exemplo Você, de Sueli Costa e João Medeiros Filho“. Sueli quase não acreditou!
Ela nunca havia mostrado aquela música para Nara, aliás, ela só veio conhecer Nara Leão muito tempo depois. A música seria gravada naquele mesmo ano, pelo Grupo Manifesto, que acompanhava Gutemberg Guarabyra, no álbum Manifesto Musical, com arranjos de Oscar Castro Neves.
Oscar mostrou a música para Nara, que falou: “Essa música é minha! Eu vou gravar!”.
E foi sabendo assim, pelo jornal, que Sueli teve sua primeira canção gravada em disco. Poucos anos depois, em 1971, Maria Bethânia gravou outra composição de Sueli Costa – Assombrações, em parceria com Tite de Lemos – em seu antológico álbum ao vivo Rosa dos Ventos, fazendo com que a compositora estourasse no Brasil inteiro.
A história de “Alma”, de Sueli Costa e Abel Silva (1982)
A partir de 1977, Sueli Costa consagrou sua parceria mais prolífica: com o escritor e letrista Abel Silva.
Também neste ano, Simone se tornou a intérprete mais popular da obra de Sueli Costa. Até o fim dos anos 1990, foi raro o disco da cantora baiana sem uma música inédita da compositora no repertório.
Em 1982, no famoso álbum Corpo e Alma, Simone gravou duas canções da dupla Sueli Costa e Abel Silva: Corpo e Alma, músicas que deram – inclusive – título ao álbum.
Em 2009, durante um show, Simone contou a história da música Alma, depois regravada por nomes como Wanderléa, Altemar Dutra e pela própria Sueli Costa.
Ela explicou divertidamente ao público presente que Abel Silva teve, entre seus grandes mestres, dois importantes poetas: o brasileiro Vinicius de Moraes e o espanhol Federico Garcia Lorca.
E, quando Simone estava escolhendo repertório para este disco, de 1982, Abel – para se inspirar – abriu um livro de Lorca, pois queria uma música com uma pegada meio espanhola ou moura. Neste livro, ele leu a frase “Há almas que têm”, que o inspirou a escrever – numa tacada só, sem pausas, a letra inteira da canção Alma, que começa exatamente com essa frase. Abel mandou a letra para Sueli Costa, que a musicou brilhantemente.
Anos depois, Abel Silva pegou o mesmo livro de Garcia Lorca, para reler aquela frase célebre que tanto o inspirou a compor a música Alma. Folheou, folheou, folheou, mas nunca encontrou a tal frase.
Simone termina a história: “Ou seja, o espírito do Garcia veio, deu a frase pra ele, e eu recebi esse presente!”.
Gostou de saber mais sobre as histórias de grandes canções da nossa música popular brasileira? Continue acompanhando a nossa série Saudando Grandes Compositores da MPB. Hoje, homenageamos a grande Sueli Costa.