Quase um hino para os brasileiros, a canção “Tocando em Frente” é uma música de Almir Sater em parceria com sua dupla constante de composição, Renato Teixeira.
O engraçado é que cada um dos autores – ambos cantores, compositores e instrumentistas, Almir sul-mato-grossense e Renato paulista de Santos – tem uma recordação diferente do momento de composição dessa música, mas as duas têm algo em comum.
Vamos conhecer essa história?
Almir conta que foi almoçar na casa do amigo, e – enquanto o almoço não ficava pronto – pegou o violão do filho de Renato Teixeira emprestado e começou a dedilhar uma melodia. Logo, saiu a música toda.
Ele diz que – diferente de outras canções que eles tinham em parceria, que demoravam anos para sair – essa saiu quase que instantâneamente, ali, enquanto o almoço era preparado. Em seguida, Renato escreveu também a letra inteira.
Já Renato Teixeira conta que ele é quem foi tomar um café na casa de Almir e que – enquanto o amigo passava o café, foi lhe mostrar uma viola que tinha acabado de chegar, feita para ele por encomenda, e começou a dedilhar uma melodia.
Renato então pegou um papel de pão e um toquinho de lápis que estavam em cima da mesa, com a pontuação de um jogo de buraco que Almir Sater e a esposa, Paula, estavam jogando antes dele chegar para visitá-los, e começou a escrever uma letra para aquela música que Almir ia tocando.
Renato diz que a ideia dele para a letra, com a qual já estava na cabeça, era trazer frases de auto motivação, “Daquelas de plaquinha que a gente pendura na parede, sabe?”. Ele conta que se lembrava só de uma que viu na casa de um amigo que era: “Se em algum lugar do coração, terei sempre 20 anos”, mas que não usou essa frase.
No lugar dela, outras frases “de plaquinha, para pendurar na parede” – uma mais bela que a outra – foram surgindo separadamente, e isso se transformou em uma letra de música:
“Ando devagar porque já tive pressa
E levo esse sorriso porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte mais feliz, quem sabe
Só levo a certeza de que muito pouco sei ou nada sei
Conhecer as manhas e as manhãs
O sabor das massas e das maçãs
É preciso amor pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir
Penso que cumprir a vida seja simplesmente
Compreender a marcha e ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro levando a boiada
Eu vou tocando os dias pela longa estrada, eu vou
Estrada eu sou
Todo mundo ama um dia
Todo mundo chora
Um dia a gente chega e no outro vai embora
Cada um de nós compõe a sua história
E cada ser em si carrega o dom de ser capaz
De ser feliz”
Uma coisa em comum na história dos dois é que, a música saiu tão fácil e rápida – e ficou tão boa – que eles ficaram pensando se aquilo não era plágio, se já não existia uma música assim.
Renato Teixeira conta que eles chamaram a esposa de Almir Sater e mostraram a canção para ela, para ver se ela não achava que era plágio de algo que já tinha escutado antes, e que ela, no meio da música, já estava chorando, muito emocionada de ouvir aquilo pela primeira vez.
O sucesso da música de Almir Sater e Renato Teixeira
Almir conta que os compositores iam usar essa música para a trilha da novela Pantanal – a primeira versão, de 1990! – na voz de Renato Teixeira. Mas que – quando estavam para gravar – Maria Bethânialigou para ele e pediu uma música deles para o álbum que comemoraria os seus 25 anos de carreira, naquele ano.
Ele falou que – como estava trabalhando muito, porque também atuou na novela “Pantanal” – não tinha nada pronto naquele momento, apenas uma música que seria gravada por Renato Teixeira, “Tocando em Frente”. Bethânia, que quando escutou a canção quis muito gravá-la, falou que ia ligar para o Renato e perguntar se poderia ser ela a gravar. Cinco minutos depois, tocou o telefone de Almir Sater de novo, e era o parceiro Renato, dizendo: “Dá a música para a Bethânia, óbvio, não discuta. Ela é a Rainha!”.
A música foi um sucesso estrondoso na voz de Bethânia. Entrou para a trilha de Pantanal e para o disco da Abelha Rainha, ganhou os prêmios de Canção do Ano na Categoria Especial e de Melhor Canção na Categoria MPB do Prêmio Sharp, de 1991, e depois foi regravada – tanto pelos dois autores – como por vários outros grandes nomes da MPB.



