A música brasileira sempre teve um poder singular de atravessar fronteiras, conquistar palcos internacionais e deixar sua marca na história da música mundial. Não à toa, na nossa humilde opinião, ela é a melhor música do mundo! Nesta seleção, destacamos 10 músicas brasileiras que fizeram sucesso internacional, contando um pouco sobre o contexto de cada uma e como conseguiram conquistar públicos tão diversos.
Seja pela força rítmica, pelas letras poéticas ou pela originalidade estética, diversos artistas e canções do Brasil se tornaram referência em países dos quatro cantos do planeta.
- 1. “Garota de Ipanema” – Tom Jobim e Vinicius de Moraes (1963)
Não há como falar em música brasileira internacional sem citar “Garota de Ipanema”, composta por Tom Jobim e Vinicius de Moraes, em 1962, e lançada em disco pela primeira vez pelo cantor Pery Ribeiro em 1963.
A canção ganhou o mundo na voz de João Gilberto e, especialmente, na versão em portugês/inglês – “The Girl from Ipanema”, com letra em inglês do norte-americano Norman Gimbel – interpretada por Astrud Gilberto e Stan Getz, no álbum “Getz/Gilberto”, parceria entre o “Pai da Bossa Nova” com o saxofonista de jazz norte-americano.
O sucesso estrondoso nos Estados Unidos, Europa e Japão fez da Bossa Nova um gênero global, consolidando essa música como uma das mais regravadas da história, ficando atrás somente de “Yesterday”, dos ingleses The Beatles.
“Garota de Ipanema” ganhou do Grammy Awards de Gravação do Ano, em 1965, exatamente pela gravação no álbum “Getz/Gilberto”. Ao longo dos anos, a canção foi regravada por astros internacionais como Frank Sinatra; Cher; Madonna; Plácido Domingo; e Amy Winehouse.
- 2. “Mas que Nada” – Jorge Ben Jor (1963)
Originalmente lançada por seu compositor Jorge Ben Jor, no álbum “Samba Esquema Novo”, também de 1963, a canção “Mas que Nada” se transformou em um fenômeno internacional especialmente a partir da versão do grupo “Sérgio Mendes & Brasil ’66”, que alcançou as paradas americanas e britânicas nos anos 60.
Décadas depois, a faixa ganhou nova vida com o remix da banda estadunidense Black Eyed Peas ao lado de Sérgio Mendes, atingindo novamente o topo das paradas. A energia contagiante da batida e o carisma do refrão tornaram a música uma verdadeira assinatura sonora do Brasil no exterior.
- 3. “Aquarela do Brasil” – Ary Barroso (1939)
“Aquarela do Brasil”, mais conhecida no exterior simplesmente como “Brazil”, é praticamente um segundo hino nacional do país e também uma das canções mais regravadas da história.
Composta pelo mineiro Ary Barroso, “Aquarela do Brasil” teve a primeira audição na voz da famosa cantora de samba-canção, Aracy Cortes. Em 1939, foi gravada em disco, pelo também muito famoso cantor Francisco Alves.
Mas a música só foi eternizada internacionalmente após entrar para a trilha sonora do desenho “Alô, Amigos”, da Disney, em 1942, interpretada por Aloysio de Oliveira, abrindo as portas dos Estados Unidos para Ary Barroso.
Na animação, o Pato Donald faz uma viagem pela América Latina e acaba passando pelo Brasil, onde é recebido pelo Zé Carioca com muita cachaça e ao som de “Aquarela do Brasil”.
No ano seguinte a canção foi regravada por Carmen Miranda em 1943, que já fazia estrondoso sucesso no exterior, impulsionando ainda mais o sucesso de “Aquarela do Brasil” lá fora, sendo a primeira música brasileira a atingir mais de um milhão de execuções nas rádios dos Estados Unidos.
A versão em inglês, “Brazil” (com letra de Bob Russell), já foi gravada por nomes como Frank Sinatra, Bing Crosby e Paul Anka.
A ideia de Ary Barroso com “Aquarela do Brasil” era criar um samba que demonstrasse seu amor pela cultura brasileira, exaltando e valorizando – principalmente – o povo negro e as belezas naturais do nosso país.
- 4. Tico-Tico no Fubá – Zequinha de Abreu (1917)
“Tico-Tico no Fubá” é um choro composto por Zequinha de Abreu, que ultrapassou o Brasil e se consagrou globalmente graças às gravações de artistas como Carmen Miranda e Ethel Smith e, com o tempo, tornou-se uma das canções brasileiras mais famosas do mundo.
“Tico-Tico no Fubá” foi apresentada pela primeira vez em um baile na cidade de Santa Rita do Passa Quatro, em 1917, sob o título “Tico-Tico no Farelo”. A canção recebeu seu nome atual em 1931, para evitar confusão com outra música de mesmo título, composta por Canhoto.
Neste mesmo ano, 1931, foi gravada pela primeira vez em disco, pela Orquestra Colbaz.
Embora essencialmente instrumental, “Tico-Tico no Fubá” também possui letras escritas por Eurico Barreiros e Aloysio de Oliveira, além de uma versão em inglês de Ervin Drake.
A famosa organista norte-americana Ethel Smith fez uma famosa gravação em 1941, que alcançou grande sucesso internacional – vendendo quase dois milhões de cópias em todo o mundo – assim como uma versão do norte-americano Ray Conniff.
Em 1942, a canção foi regravada pela Rainha do Chorinho, Ademilde Fonseca. A popularidade de “Tico-Tico no Fubá” atingiu seu ápice nos anos 1940, quando fez parte da trilha sonora de seis filmes de Hollywood, – além do já citado “Alô, Amigos” (1942), da Disney – incluindo “Bathing Beauty” (1944), “It’s a Pleasure” (1945) e “
A canção tem duas letras: uma escrita no Brasil e outra nos Estados Unidos, por Aloysio de Oliveira, para Carmen Miranda, que gravou a canção em 1945 e a apresentou no filme “Copacabana“, em 1947.
- 5. Ai Se Eu Te Pego – Michel Teló (2011)
Provando que a música sertaneja também tem alcance global, Michel Teló alcançou um sucesso estratosférico com a canção “Ai Se Eu Te Pego”, lançada oficialmente pelo cantor em 2011, no seu álbum “Na Balada”.
Primeiro, o hit tornou-se um sucesso nacional, alcançando o topo da parada musical brasileira, e o vídeo da canção atingiu o recorde de visualizações no Youtube para canções brasileiras, e hoje conta com mais de 1 bilhão de visualizações.
O sucesso de “Ai Se Eu Te Pego” começou a se popularizar ainda mais, quando jogadores de futebol brasileiros muito famosos – como Neymar e Diego Souza – comemoraram gols executando a canção. Depois, “Ai Se Eu Te Pego” passou a ganhar repercussão internacional, quando o jogador português Cristiano Ronaldo comemorou um de seus gols fazendo a coreografia oficial da música.
A canção também ficou bastante popular depois que o tenista espanhol Rafael Nadal comemorou o título da Copa Davis de 2011 dançando a música, ao lado dos companheiros de equipe David Ferrer, Feliciano López e Fernando Verdasco.
No final de 2011, “Ai Se Eu Te Pego” já havia virado hit internacional e levou Michel Teló ao topo das paradas musicais em mais de 20 países na Europa e na América Latina. O sucesso comercial foi tamanho, que a “Ai Se Eu Te pego” foi o sexto single mais vendido no mundo em 2012, com mais de 7 milhões de cópias vendidas.
Inicialmente, a autoria da canção foi atribuída aos compositores Sharon Acioly e Antônio Dyggs. No entanto, em fevereiro de 2012, foi revelado que as estudantes paraibanas Marcela Quinho Ramalho, Maria Eduarda Lucena dos Santos e Amanda Borba Cavalcanti de Queiroga, Aline Medeiros e Karine Assis Vinagre eram autoras dos versos que seriam a base do refrão de “Ai Se Eu Te Pego”, e elas foram reconhecidas como co-autoras da música.
- 6. Lambada (Chorando se Foi) – Kaoma (1989)
Embora gravada por um grupo franco-brasileiro – o Kaoma, em 1989 – “Lambada (Chorando se Foi)” é uma música profundamente brasileira, inspirada em uma melodia boliviana, mas ritmada conforme os padrões dançantes do Norte do Brasil, mais especificamente no estado do Pará.
A canção explodiu na Europa, especialmente na França e na Itália, onde o grupo Kaoma popularizou a lambada como um ritmo dançante e sensual. Foi um dos singles mais vendidos no mundo no fim dos anos 1980, acompanhada de um videoclipe icônico que eternizou a dança.
“Lambada (Chorando se Foi)” foi o primeiro single do álbum ”World Beat”, o primeiro álbum da banda Kaoma. Estima-se que este compacto tenha vendido mais de cinco milhões de cópias no mundo todo.
A canção atingiu o primeiro lugar nas paradas da Áustria, do Brasil, da França, da Noruega, da Suécia e da Suíça quase simultaneamente. Também atingiu um sucesso relativamente alto em países de língua inglesa, tendo atingido a 5ª posição na Austrália, a 4ª no Reino Unido e a 46ª nos Estados Unidos.
O sucesso da canção deu início a um interesse momentâneo pelo ritmo da lambada, que foi tema de dois filmes estadunidenses lançados no mesmo dia (“The Forbidden Dance” e “Lambada”) e de um filme ítalo-brasileiro – “Dançando Lambada” – com as participações especiais do dançarino Carlinhos de Jesus e da cantora Elba Ramalho.
“Lambada (Chorando se Foi)” é uma versão de Márcia Ferreira e José Ari para a canção “Llorando Se Fue”, de Ulisses Hermosa e Gonzalo Hermosa.
- 7. “Chega de Saudade” – João Gilberto (1959)
A canção que inaugurou oficialmente a Bossa Nova foi também a responsável por levar essa sonoridade única para além das fronteiras brasileiras.
A versão original de João Gilberto – incluída em seu primeiro álbum, que levou o mesmo nome da canção, em 1959 – se tornou referência estética para músicos do mundo inteiro, inspirando jazzistas, cantores e violonistas. “Chega de Saudade” – que originalmente foi lançada por Elizeth Cardoso um ano antes -não apenas introduziu uma nova maneira de tocar violão, mas pavimentou o caminho para o protagonismo da música brasileira em festivais e clubes internacionais, especialmente em Nova York e Paris.
- 8. “Ilariê” – Xuxa (1988)
“Ilariê” é uma música gravada pela cantora e apresentadora Xuxa, no ano de 1988, para o disco “Xou da Xuxa 3”. Foi a música mais tocada nas rádios em 1988, ficando 20 semanas em 1º lugar na parada de sucessos do Brasil.
Graças ao sucesso da música, o disco “Xou da Xuxa 3” é o disco mais vendido na história do Brasil, com mais de 5 milhões de cópias, entrando no Guiness Book como o disco em português mais vendido da história.
Além disso, a música conquistou sucesso internacional, quando foi lançada fora do Brasil em 1989, chegando à posição 11 na parada Latina da revista Billboard. A música foi gravada em 80 dialetos, com direito a uma versão chinesa interpretada pelo trio feminino I.N.G..
“Ilariê” também chegou a ser executada algumas vezes pelo cantor e compositor original da música, o baiano Cid Guerreiro em trios elétricos no carnaval da Bahia. A composição é dele com a parceria de Dito e Ceinha.
A música foi traduzida em 6 idiomas: espanhol, inglês, eslandês, tcheco, chinês e alemão. Em espanhol, com o nome “Ilarié”, fez o mesmo sucesso que fez no Brasil, traduzida e adaptada por Cristina Larraura. Foi executada nos programas em espanhol da apresentadora, como “El Show de Xuxa” e “Xuxa Park”.
Em inglês, com o nome “Ylarie”, chegou a fazer sucesso, mas não emplacou muito. Foi traduzida e adaptada pela cantora Deborah Blando.
- 9. Rap das Armas – MC Júnior & MC Leonardo(1995), Cidinho e Doca (1995)
Originalmente lançada nos anos 90, mas impulsionada internacionalmente pelo filme “Tropa de Elite” (2007), o funk carioca “Rap das Armas” virou um fenômeno em pistas de dança da Europa.
Países como Suécia, Holanda, Alemanha e Bélgica adotaram a música em versões remixadas, transformando-a em um hino do eurodance. Um remix holandês tornou-se popular nos clubes europeus e alcançou o primeiro lugar na Holanda e Suécia.
“Rap das Armas” foi originalmente composta em 1995, pela dupla MC Júnior & MC Leonardo. Uma versão proibidão pela dupla Cidinho & Doca se tornou um hit internacional em 2008 e 2009.
A letra da canção começa como uma ode às belezas do Rio de Janeiro, para depois então, acrescentar o tema da violência causada por armas de fogo. Embora o texto apelasse à paz e fosse contra a violência, era ainda proibido por mencionar nomes de um grande número de armas, incluindo Intratec.
Cidinho e Doca compuseram uma versão alternativa, que descreve a invasão de uma favela pelo BOPE.
Em 2007, a canção foi usada no filme “Tropa de Elite”. O sucesso do filme levou a mais de 50 mil ringtones de “Rap das Armas” serem vendidos, e a trilha sonora, que incluía a versão de Júnior e Leonardo e uma regravação pelos mesmos, teve mais de 28 mil cópias vendidas.
Após o filme chegar a Portugal, DJs locais fizeram um remix da versão de Cidinho e Doca, que fizeram sucesso no país e outros locais da Europa. Uma versão pelo holandês DJ Quintino chegou ao topo da parada dos Países Baixos em Fevereiro de 2009.
“Rap das Armas” fez ainda mais sucesso na Suécia, onde encabeçou a parada local por quatro semanas entre Junho e Agosto de 2009. Os torcedores do time de futebol Djurgårdens IF Fotboll cantam o refrão durante os jogos.
- 10. Bum Bum Tam Tam
“Bum Bum Tam Tam” é uma canção composta e gravada pelo funkeiro paulista MC Fioti, em 2017.
Um videoclipe foi lançado em 8 de março de 2017. A música foi uma das grandes responsáveis por levar o funk carioca para o mundo e contém amostras do primeiro movimento de Partita em lá menor para flauta solo, de Johann Sebastian Bach.
O videoclipe da canção tem mais de 1,8 bilhão de visualizações e 15 milhões de curtidas, tornando-se o um dos vídeos mais vistos do YouTube. É também o vídeo musical brasileiro mais visto e o primeiro a atingir 1 bilhão de visualizações.
Vários artistas internacionais lançaram versões de “Bum Bum Tam Tam”, como o colombiano J Balvin, o rapper norte-americano Future, a rapper britânica Stefflon Don e o cantor espanhol Juan Magán, DJs Jonas Blue, Jax Jones e David Guetta.



