Mart’nália nasceu com o samba – em casa de bamba – e no samba se criou. Completando 60 anos de vida nesta semana e com quase 40 de carreira, hoje ela é samba, é pop, canta, toca diversos instrumentos, atua, compõe e segue fazendo história!
Preparamos uma matéria especial em seis partes, para homenagear as seis décadas dessa artista completa, que nasceu em 7 de setembro de 1965. Dona de um canto doce, negro, suingado e de um timbre especial e inconfundível. De um ritmo impressionante, com a percussão na veia.
1 – Início da carreira
Filha do grande sambista Martinho da Vila e da cantora Anália Mendonça (seu nome é uma mistura dos dois!), Mart’nália Mendonça Ferreira nasceu no bairro de Pilares, Zona Norte do Rio de Janeiro.
Acompanhava o pai nas rodas de samba da Vila Isabel desde muito novinha e foi assim que se apaixonou pela música e aprendeu a sambar, cantar, tocar violão e pandeiro. Além disso, cresceu com sua casa sendo frequentada por nomes como Clara Nunes e João Donato.
Mart’nália iniciou a carreira profissional aos 16 anos, fazendo vocais de apoio para o pai, ao lado dos irmãos. Em 1987, ela lançou o seu primeiro disco, que leva seu nome e traz clássicos da música brasileira, como: “Por um Amor no Recife” (de Paulinho da Viola) e “Cordas e Correntes” (do pai, Martinho da Vila), além de uma composição da própria Mart’nália: “Na Mão de Deus”
Na metade da década de 90, a cantora começou a se apresentar sozinha em bares, casas noturnas e teatros do Rio de Janeiro. Nesta mesma época, também trabalhou como percussionista da banda de Ivan Lins.
A partir de 1994, passou a integrar o grupo musical “Batacotô”, com quem lançou o disco “Semba dos Ancestrais”, que une o samba brasileiro e a música africana, mais precisamente a angolana, reforçando a amplitude sonora da música negra. Entre as faixas, duas composições de Martinho da Vila: a canção que dá nome ao disco e “Nas águas da Amaralina”.
Depois de um bom tempo sem lançar um trabalho seu, mas nunca deixando de estar muito ativa na música, foi quase dez anos depois do primeiro disco que Mart’nália lançou o seu segundo álbum, “Minha Cara”, em 1995, produzido por seu pai.
Metade das doze faixas são composições da artista, entre elas, o sucesso “Entretanto” (parceria com Mombaça) e “Calma” (parceria com Arthur Maia). Além disso, o disco traz clássicos como: “Coleção” (Cassiano e Paulo Zdanowski); “Grande Amor” (de Martinho da Vila) e “A Flor e o Samba” (Candeia).
2 – “Pé do Meu Samba” e a projeção nacional
Com o terceiro álbum – “Pé do Meu Samba” – dirigido por Caetano Veloso, em 2002 – Mart’nália tornou-se conhecida e aclamada nacionalmente. Entre as canções, o sucesso da faixa-título, do próprio Caetano; além de “Filosofia” (de Noel Rosa e André Filho); e duas composições da artista: “Chega” e “Beco” (ambas em parceria com Mombaça).
No show desse disco, Mart’nália convidou grandes nomes da MPB para dividir as canções com ela, criando um clima à vontade das rodas de samba. Entre os convidados: Caetano Veloso, Fernanda Abreu, Geraldo Azevedo, Ivan Lins, Lenine, Luiz Melodia, Martinho da Vila, Moska, Pedro Luís, Sandra de Sá, Toni Garrido, Zé Renato e Zélia Duncan.
Neste mesmo ano, Mart’nália apresentou o show “Pé do Meu Samba” no Posto 3, na Praia de Copacabana, durante o Réveillon e também fez uma turnê com seu pai em Portugal.
No ano seguinte, 2003, ela participou do show da Estação Primeira de Mangueira, fazendo um dueto histórico com Chico Buarque em “Sem Compromisso” (de Geraldo Pereira e Nelson Trigueira) e “Deixe a Menina” (do próprio Chico).
Ainda em 2003, a artista apresentou o show “Pé do Meu Samba” em Portugal. Levou ainda o show para a Zona Norte do Rio de Janeiro, gravado pelo Multishow e lançado em CD e DVD, “Mart’nália Ao Vivo”, em 2004 e 2005 respectivamente.
O show/disco foi também produzido por Mart’nália e conta com as participações, além de Caetano:
- Djavan, nas canções “Celeuma” (dele mesmo) e “Molambo” (de Jaime Florence Meira e Augusto Mesquita)
- Martinho da Vila, em “De Amor ou Paz” (de Luiz Carlos Paraná e Adauto Santos), “Tudo Menos Amor” (de Monarco e Walter Rosa), e em “Sob a Luz do Candeeiro”, dele mesmo em parceria com Nelson Cebola)
- Moska (nas canções “Entretanto” e “Acordando”, dele mesmo)
- Zélia Duncan (nas canções “Calma” e “Benditas”, composição das duas artistas, que são também grandes amigas)
4 – Atriz , internacional e ativista
Também em 2003, a convite de Miguel Falabella, Mart’nália participou como atriz do especial de natal “O Pé da Árvore de Natal”.
Em 2004, a artista foi convidada por Caetano Veloso para fazer uma apresentação no Carnegie Hall, em Nova York, e também para dar um workshop sobre samba para os alunos da Universidade de Nova York, no mesmo teatro.
No mesmo ano, apresentou-se novamente em Portugal e foi convidada pelo governo da França para a Ilê de la Reunion (Ilha da Reunião), onde passou um mês inteiro dando um workshop de samba junto com outros músicos e formando uma Escola de Samba. Apresentou-se na ilha no dia 20 de dezembro, quando celebrou-se a libertação dos escravos no local.
Em 2005, Mart’nália iniciou uma turnê pela Europa, dando o pontapé inicial pelo “15º Festival Latino Americano em Milão”, indo depois para Porto, Lisboa, Paris e Roma.
Em 2006, lançou o disco “Menino do Rio”, com direção artística de Maria Bethânia. Entre as canções, uma diversidade de estilos e de compositores de peso, como: o super sucesso “Cabide” (de Ana Carolina); a faixa-título (de Caetano Veloso); uma homenagem à artista (“Pra Mart’nália”, escrita por Fred Camacho e Jorge Aragão); passando pelo pop de Moska e Leoni (no sucesso “Soneto do Teu Corpo”).
Mart’nália entrou como compositora também em algumas faixas, como o hit “Pretinhosidade“, em parceria com Moçamba.
Em 2006, a artista fez a turnê de “Menino do Rio” em Berlim, na Alemanha. O show virou disco ao vivo – “Mart’nália em Berlim”, indicado ao Grammy Latino de Melhor Álbum de Samba/Pagode – e também foi lançado em DVD.
Em 2007, Mart’nália fez shows em Angola e em 2008, turnês pela Europa e pelos Estados Unidos, começando pelo Festival de Jazz de Montreux, na Suíça. Também se apresentou no Equador e em Moçambique.
Neste mesmo ano, Mart’nália lançou o álbum “Madrugada”, dedicado às boas noites que passa acordada criando, e trazendo o grande sucesso que tornou-se a versão da cantora para o hit “Don’t Worry Be Happy” (de Bob McFerrin), que entrou para a abertura da novela “Três Irmãs”, da Rede Globo. Antes, a canção “Cabide” já tinha sido um sucesso na trilha da novela Paraíso Tropical.
Ainda em 2008, a cantora se apresentou no Réveillon de Copacabana, para um público estimado de 2,5 milhões de pessoas.
Além disso, em 2008 Mart’nália fez shows em Angola, Moçambique e no Senegal, onde foram captados áudio e imagens para o seu próximo CD e DVD, “África Ao Vivo”, lançado em 2010. Além dos sucessos já consagrados de sua carreira, o disco traz fortes influências africanas em canções como “Kizomba, a Festa da Raça” (de Rodolpho, Jonas e Luiz Carlos da Vila, Samba Enredo de 1988, da Vila Isabel) e “Muadiakime” (de Bonga e Landa).
O DVD apresenta o show gravado na Ilha de Luanda e uma roda de samba no quintal do Rio de Janeiro, com participações de Gilberto Gil, Martinho da Vila, Carlinhos Brown, Mayra Andrade – cantora de Cabo Verde radicada em Paris – e das irmãs de Mart’nália, Analimar e Maíra Freitas, além da sobrinha Dandara Black.
No mês de agosto deste mesmo ano, Mart’nália participou do “Festival Back2Black”, em que celebrou o samba recebendo convidados como Angelique Kidjo (de Benim), Paulo Flores (de Angola), Mayra Andrade (de Cabo Verde), Omara Portuondo (de Cuba) e os artistas brasileiros: Dona Ivone Lara, Luiz Melodia, Marina Lima, Margareth Menezes, Rodrigo Maranhão e Maria Gadú.
No carnaval de 2010, Mart´nália desfilou e cantou o samba enredo da Vila Isabel sobre Noel Rosa, feito por Martinho da Vila. Junto com seu pai, a cantora é também membro da Ala de Compositores da Escola de Samba Unidos de Vila Isabel.
Também em 2010, se apresentou na China, na África, na África do Sul e na Europa.
5 – Realizações de uma carreira consolidada
Nesta época, Mart’nália fez uma pausa no show “África” para realizar o sonho de apresentar ao vivo o álbum “Minha Cara”, segundo disco da sua carreira – lá de 1995 e relançado em 2012 – fazendo seis apresentações dirigidas por Martinho Da Vila, com sucesso absoluto.
Em 2012, lançou também o disco “Não Tente Compreender”, que tem Djavan como diretor e produtor artístico e também como arranjador da maioria das músicas, quase todas inéditas.
O álbum, segundo Mart’nália, é a ilustração que a própria artista faz de sua cidade amada: o Rio de Janeiro. Entre os sucessos, composições de nomes importantíssimos da nossa MPB, como: o grande hit “Namora Comigo” (de Moska); “Surpresa” (parceria de Mart’nália com Arthur Maia e Ronaldo Barcellos); a faixa-título (de Marisa Monte e Dadi); e “Serei Eu?” (de Mart’nália, Zélia Duncan e Ivan Lins).
O disco foi indicado ao Grammy Latino de Melhor Álbum Pop Contemporâneo Brasileiro.
Em 2013, Mart’nália estreou como atriz, a convite do escritor e diretor Miguel Falabella, no elenco da série “Pé na Cova”, da Rede Globo, interpretando Tamanco, personagem que permaneceu até o final da série, em 2016. Neste mesmo ano, a artista apresentou-se na Suíça, no casamento do príncipe de Mônaco.
Em 2014, lançou o CD e DVD “Mart’nália Em Samba! – Ao Vivo”, com direção de Martinho da Vila, em que presta uma homenagem ao samba com um repertório repleto de sucessos consagrados de grandes artistas brasileiros de todos os tempos, como Noel Rosa, Dona Ivone Lara e Dorival Caymmi.
O disco também traz várias canções de Martinho da Vila, que participa cantando com a filha alguns de seus maiores sucessos, como “Casa de Bamba”. Também participam do álbum: Emicida e Pedro Luís. O trabalho também foi indicado ao Grammy Latino de Melhor Álbum de Samba/Pagode.
Em 2015, Mart’nália se apresentou na África mais uma vez e, em 2017, lançou o disco “+ Misturado”, com oito canções inéditas e sete regravações de grandes clássicos da MPB como: “Estrela” (Gilberto Gil) e “Linha do Equador” (Djavan e Caetano Veloso).
Além da participação de Martinho da Vila, o álbum traz outros dois duetos inéditos: um com Geraldo Azevedo (na canção “Se Você Disser Adeus”, de Geraldo e Capinan) e outro com o cantor e compositor congolês Lokua Kanza (na canção dele com Mart’nália: “Si Tu Pars”).
O repertório inédito reúne sucessos como “Tomara” (de Mart’nália e Moçamba) e “Libertar” (de Mart’nália, Zélia Duncan, Arthur Maia e Ronaldo Barcellos). O disco ganhou o Grammy Latino de Melhor Álbum de Samba/Pagode.
6 – Feitos mais recentes
Em 2019, a cantora abriu – pelo 10º ano consecutivo – o Festival de Verão do Circo Voador, e lançou o disco “Mart’nália Canta Vinicius de Moraes”, que traz grandes sucessos consagrados do poeta como: “Samba da Benção” e “Canto de Ossanha” (parcerias com Baden Powell).
O disco, que tem a participação de Maria Bethânia, Toquinho e Carla Bruni, também ganhou o Grammy Latino de Melhor Álbum de Samba/Pagode.
Em 2021, Mart’nália lançou o álbum “Sou Assim Até Mudar”, em que, como descreve o site da gravadora Biscoito Fino: “O samba atravessou mais de um século de sofrimento e prazer pra chegar como chega aqui: carregado de Sapucaí e de baile black, de Copacabana e de Salvador, de doença e de vacina, de veneno e de sonho. Martnália pura ou melhor, impura. O álbum traz na sua origem como tudo que foi gerado nos últimos meses a marca da pandemia e da quarentena.”
Entre as canções, estão: “17 de Janeiro” (de Mart’nália, Teresa Cristina e Mosquito) e “Sonho de Um Sonho” (Martinho da Vila, Rodolfo da Vila, Rodolpho da Vila e Tião Graúna).
O álbum mais recente da cantora foi lançado em 2024: “Pagode da Mart’nália”, em que ela interpreta 12 clássicos do gênero, como “Coração Radiante” (de Xande de Pilares, Mauro Júnior e Helinho do Salgueiro); “Cheia de Manias” (de Luís Carlos, com a participação de Luisa Sonza) e “Domingo” (de Alexandre Pires e Fernando Pires, com participação de Caetano Veloso).
Viva, Mart’nália! Que venham mais 60 anos!



