A Virada Cultural é mais do que um festival: é um espelho do Brasil. Ao ocupar os espaços da cidade com música, arte, gastronomia e memória, a Virada também reocupa o imaginário coletivo e convida o público a refletir sobre sua identidade. Esse foi o ponto de partida da série especial “Virada da Brasilidade”, produzida pela Novabrasil.
Ao longo de três episódios, a reportagem de Decio Caramigo percorreu palcos, ruas e bastidores para entender como a Virada se conecta com diferentes territórios e expressões culturais.
A cidade como palco e espelho
O primeiro episódio mostra como a Virada Cultural transforma São Paulo em um grande palco a céu aberto e destaca o papel do evento como política pública de acesso à cultura. O secretário municipal de Cultura e Economia Criativa, Totó Parente, afirma que a “Virada é uma política cultural que respeita o que há de mais autêntico na cultura brasileira, que é a diversidade e pluralidade”.
Bero, morador de Guarulhos, se lembra com entusiasmo de sua primeira Virada Cultural em 2005. Anos depois, ele mesmo subiria ao palco com sua banda de reggae. “Eu me senti realizadíssimo, você é louco, muito bom mano.”
Em 2025, a Virada celebra duas décadas com mais de mil atrações em 24 horas. Um evento de rua que mistura ritmos, sotaques e memórias — tudo de graça. Totó Parente explica que o processo de curadoria é guiado por escuta e diversidade. “Foram inscritos 8.773, certo? Mais da metade dos que vão participar da virada são de inscritos.”
Mas descentralizar não significa apenas espalhar atrações. Segundo Alexandre Matias, jornalista e curador de música do Teatro do Centro da Terra, há um papel simbólico na ocupação do centro. “Durante a Virada Cultural, era uma região que ficava muito movimentada e fazia com que as pessoas perdessem esse preconceito que tinham com a região.”
E enquanto o centro ganha novo fôlego, as bordas seguem ocupando a cena — como a cantora Maria Clara, do Capão Redondo, e o cantor Jota.pê, que resumiu bem o impacto do evento: “A primeira vez que eu vi Maria Rita foi na rua, a primeira vez que eu vi Racionais foi na rua.”
Artistas periféricos e a voz da cidade
Como define Alexandre Matias, “a Virada Cultural é mais do que um grande evento, ela é uma vitrine para São Paulo.” É sobre isso que o segundo capítulo aborda. E essa vitrine precisa mostrar o que pulsa — principalmente fora dos holofotes tradicionais.
Paulinho Boca de Cantor, que integrou a formação original dos Novos Baianos, se apresenta neste domingo às 10h no Palco da Sé. Para ele, a Virada é múltipla: “Ela abre espaço para que novos talentos se apresentem com dignidade. E também para trazer a gente que já está na estrada há muito tempo.”
Essa ponte entre gerações se reflete na curadoria feita pela Secretaria de Cultura. Totó Parente lembra: “Nós apoiamos através de dinheiro específico e apoiamos através da contratação de artistas locais.”
“A própria existência da Virada Cultural já é algo pra ser festejado e celebrado”, diz Alexandre Matias. E Paulinho Boca reforça: “A Virada é um presente para todo mundo ficar em paz, só curtindo a vida.”
Arte, memória e pertencimento
Por fim, no último capítulo a série Virada da Brasilidade esclarece que ocupar a cidade com arte é um ato político, poético e popular. Aline Cortes, da That Swing Dance Company, apresenta no domingo, às 14h, no Teatro Cacilda Becker, o espetáculo “Lindy Hop: um jazz para dançar”, que mistura performance e interação com o público. “A arte e a cultura são criadas a partir do que acontece na rua”, acredita a dançarina.
Josyara, que canta no domingo, às 14h, no Largo do Arouche, também participa da séria e entende que a “a arte não é um bicho distante, ela está aqui”.
A Virada é feita de histórias. E neste fim de semana novas histórias serão contadas na 20ª edição da Virada Cultural de São Paulo, que promete ser a maior entre todas.