por Lívia Nolla
Hoje é aniversário de um dos maiores nomes da música popular brasileira: o multi-artista pernambucano Lenine completa 65 anos neste 02 de fevereiro.
Vencedor de seis Grammy Latinos, 12 Prêmios da Música Brasileira e dois APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), Lenine se diz um cantautor: o artista que canta suas próprias composições, ou – como faziam os trovadores do século 12 – transforma em versos as questões, os amores e as sagas de seu tempo. Para o pernambucano de Recife, histórias à base de palavra e música são elementos que andam juntos desde sempre.
Lenine possui mais de 500 composições suas e em parceria com outros artistas, compõe trilhas para espetáculos e foi gravado pelos principais nomes da MPB.
E – para celebrar a vida do cantor, compositor, poeta, arranjador e multi-instrumentista e seus mais de 40 anos de carreira – nós preparamos uma matéria especial!
O início de tudo
Nascido Oswaldo Lenine Macedo Pimentel, em Recife (PE), seu pai escolheu o nome Lenine em homenagem ao líder soviético, revolucionário comunista e marxista, Lênin, que foi responsável pela Revolução Russa, em 1917.
Em uma entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, Lenine contou que sua mãe era católica e levava os filhos à missa todos os domingos, enquanto o pai ficava em casa escutando músicas, até que, aos oito anos de idade, quando seu pai entendeu que nessa idade a criança tem capacidade de discernimento perante a vida, deixou que os filhos optassem pelo que preferiam fazer, e Lenine escolheu as audições de álbuns aos domingos, algo muito significativo para a sua formação e gosto pela música.
O artista já tinha interesse pela música desde pequeno, quando pegava o violão da irmã mais velha – roubando a chave do armário onde o instrumento ficava guardado – e tirando as canções de ouvido. Depois de tentar o aprendizado formal no Conservatório de Pernambuco, foi desse jeito – por suas próprias mãos – que ele se encontrou na música e tornou seu violão um meio de expressão e uma das marcas de sua singularidade. Ele também conta que o violão teve, inicialmente, o papel de ajudá-lo a vencer a dificuldade de lidar com pessoas.
A carreira artística
Com a vocação artística em ebulição (e as participações nos conjuntos Flor de Cactus e Nós & Voz), Lenine aproveitou um jantar de família para comunicar sua decisão de abandonar o curso de Engenharia Química na Universidade Federal de Pernambuco, a um ano da formatura. Em seu site oficial, ele conta que a resposta de seu pai, grande influência em toda a sua vida – foi: “E por que demorou tanto?”.
O Festival MPB Shell, em 1981, foi o primeiro passo da vida de Lenine no Rio de Janeiro, onde ele se estabelece na Casa 9: uma casa de vila em Botafogo, que era frequentada por companheiros de geração que corriam atrás do mesmo sonho, entre eles o pernambucano Lula Queiroga e os paraibanos Bráulio Tavares, Ivan Santos, Pedro Osmar, Fuba, Tadeu Mathias e julio lurdemir.
Deste bunker criativo sairão composições diversas (frutos de todas as combinações possíveis entre os amigos/conterrâneos) e a ideia de uma temporada no Teatro Ipanema, para mostrar a produção da turma em shows à meia-noite. Depois disso, veio o primeiro álbum de Lenine, Baque Solto (1983), feito em parceria com Lula Queiroga.
Nessa época, o pernambucano começou a aparecer na cena alternativa carioca e a compor sambas para o bloco de rua Suvaco de Cristo. Passando por dificuldades enquanto o reconhecimento não vinha, Lenine encontra segurança na família, neste caso, na produtora de TV Anna Barroso: sua mulher e mãe/madrasta de seus três filhos e futuros parceiros: João Cavalcanti, Bruno Giorgi e Bernardo Pimentel.
Para ela, o artista escreveu algumas músicas, entre elas Anna e Eu, parceria com Dudu Falcão, de 2004: “Eu vi o que a gente fez/ Pra chegar aqui no que a gente faz / Eu e Anna, Anna e eu”.
O sucesso
A virada veio com o álbum Olho de Peixe (1993), que registrou o encontro de Lenine com o percussionista Marcos Suzano e se tornou o cartão de visitas nas primeiras turnês do artista pelo exterior.
São desse álbum sucessos como: O Último Pôr do Sol (parceria com Lula Queiroga), Leão do Norte (parceria com Paulo César Pinheiro) e a faixa-título (só de Lenine).
O som pop e híbrido de sua música se consolidou nos três álbuns seguintes: O Dia em que Faremos Contato, de 1997, trouxe os sucessos: Hoje Eu Quero Sair Só (de Lenine, Mú Chebabi e Caxa Aragão), Dois Olhos Negros (de Lula Queiroga) e A Balada Do Cachorro Louco (Lenine, Lula Queiroga e Chico Neves).
Já Na Pressão, de 1999, apresentou os mega clássicos: Paciência e A Medida da Paixão (parcerias com Dudu Falcão), A Rede (parceria com Lula Queiroga) e Jacksoul Brasileiro (só de Lenine). Além da faixa-título (parceria com Bráulio Tavares e Sérgio Natureza) e de Relampiano (parceria com Moska).
E o álbum Falange Canibal, de 2002 (que traz sucessos de O Homem dos Olhos de Raio X e O Silêncio das Estrelas, essa parceria com Dudu Falcão), rendeu a Lenine o seu primeiro prêmio de expressão: o Grammy Latino de Melhor Álbum Pop Contemporâneo Brasileiro, que o artista voltou a ganhar – na mesma categoria – com os dois álbuns seguintes: os CDs/DVDs ao vivo Lenine in Cité (2004) e Acústico MTV (2006).
Do primeiro, a canção Ninguém Faz Ideia (parceria com Ivan Santos) levou o Grammy Latino de Melhor Música Brasileira, totalizando de seis prêmios Grammy Latino em sua carreira, até o momento. Outros sucessos de Lenine in Cité são: Do It (também com Ivan Santos) e Todas Elas Juntas Num Só Ser (com Carlos Rennó).
Já do Acústico, podemos destacar o sucesso Miedo (de Pedro Guerra, Lenine e Rodney Assis, com participação de Julieta Venegas).
Um artista sem igual
A experiência de compor balés para a companhia de dança Grupo Corpo – Breu (2007) e Triz (2013) – fez com que Lenine subvertesse a concepção de seus discos: em vez de reunir composições prontas em um álbum – como nos discos anteriores – a partir de Labiata, disco de 2008, ele passa a definir primeiro o conceito para, em seguida, compor cada uma das faixas, como capítulos de um romance.
Labiata é o nome de uma espécie de orquídea do nordeste brasileiro. Lenine é um apaixonado por orquídeas e se autodenomina um orquidófilo, pessoa que admira e coleciona orquídeas, cultivando a planta pelo prazer, como hobbie. O artista é um grande apoiador e militante da preservação ecológica.
O álbum traz os sucessos Martelo Bigorna – que ganhou o Grammy Latino de Melhor Música Brasileira – e É o Que Me Interessa (parceria com Dudu Falcão).
Já no álbum Chão, de 2011, o primeiro produzido por seu filho Bruno Giorgi (junto com Jr. Tostoi e o próprio Lenine) agrega à música sons do cotidiano: seja de uma chaleira, de um canarinho, de uma cigarra ou de uma máquina de lavar roupa. Entre os sucessos, a música De Onde Vem a Canção.
A nova trilogia de Lenine se fecha com Carbono (de 2015), no qual se reconecta a suas raízes pernambucanas. Entre os sucessos, a belíssima Simples Assim, parceria com Dudu Falcão.
Os passos seguintes se deram na Holanda, onde Lenine gravou o CD/DVD The Bridge – Lenine & Martin Fondse Orchestra – Live at Bimhuis (2016), e no Rio de Janeiro, onde seu 13º disco de carreira – Em Trânsito (2018) acaba conquistando o sexto Grammy Latino de sua carreira, o primeiro na categoria de Música Alternativa.
Lenine também fez a direção musical do filme Caramuru, a Invenção do Brasil, de 2001 – dirigido por Guel Arraes e escrito por ele e Jorge Furtado – que depois de minissérie, virou um longa-metragem. No mesmo ano, participou também da direção do musical Cambaio, de João e Adriana Falcão, baseado em canções de Chico Buarque e Edu Lobo. Produziu ainda discos de grandes artistas como Segundo, de Maria Rita; De uns tempos pra cá, de Chico César; e Ponto Enredo, de Pedro Luís e a Parede.
Viva, Lenine!