Bolsonaro na Agrishow provoca mal-estar com governo Lula, que deve ficar fora da feira

Maquinas agrícolas chegam para 28ª Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação, umas das maiores feiras agrícolas da américa latina, que acontece em Ribeirão Preto, interior de São Paulo | Foto: Joel Silva/Fotoarena/Folhapress

A visita do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) à Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação), em Ribeirão Preto, prevista para a próxima segunda-feira (1), gerou mal estar com o governo Lula e deve afastar o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, do evento.

Principal referência em tecnologia agrícola na América Latina, a Agrishow contava com o ministro na abertura, mas um encontro nesta terça-feira (25) entre a direção da feira e Fávaro terminou em impasse.

Os representantes da feira informaram ao ministro que o ex-presidente participaria da abertura da feira e que isso poderia causar algum tumulto ou constrangimento por manifestações contrárias ao governo -o agronegócio, em sua maioria, apoiou Bolsonaro na eleição do ano passado. Chegaram a sugerir que Fávaro participasse da Agrishow em outro dia (o evento vai até 5 de maio).

A conversa desagradou ao ministro e é possível que não haja representantes do governo federal não só na abertura, mas em nenhum dia da Agrishow.

A ausência frustrará o setor, já que havia a expectativa de que Fávaro anunciasse linhas de crédito para o agronegócio e desse detalhes da elaboração do Plano Safra 2023/24, que deve ser anunciado em junho.

Lula já não era aguardado e havia a expectativa de que ele fosse representado também pelo seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), ex-governador paulista e que era visita habitual ao evento.

O convite para Bolsonaro visitar Ribeirão -será sua primeira viagem após retornar ao país- partiu do presidente do Sindicato Rural de Ribeirão Preto, Paulo Junqueira, que também preside a Associação Rural de Ribeirão e é vice-presidente da Assovale (Associação Rural Vale do Rio Pardo).

Bolsonaro deverá desembarcar no aeroporto local no início da tarde de domingo (30) e sua agenda ainda não foi divulgada. Em redes sociais e grupos de aplicativos de celular, apoiadores do ex-presidente têm afirmado que ele poderia participar de uma motociata, de uma reunião com sua base política e até mesmo do último dia do Ribeirão Rodeo Music, que acontece na cidade.

Junqueira disse não estar organizando nenhum evento com o ex-presidente domingo e que enviou o convite como dirigente do sindicato.

“Tive a confirmação de que a Agrishow também enviou convite para ele e imediatamente aceitou. Dou graças a Deus de ser a primeira viagem que ele vai fazer depois que retornou dos Estados Unidos, prestigiando a região de Ribeirão Preto e a feira”, disse.

O ruralista afirmou que não passa pela sua cabeça que o presidente da feira, Francisco Matturro, ex-secretário da Agricultura de São Paulo, tenha desconvidado o ministro.

“Ele pode ter dito ‘olha ministro, na abertura da feira estará o Bolsonaro, o governador [Tarcísio de Freitas]’, pode ter dito isso, mas duvido que tenha dito [para o ministro alterar a agenda]”, disse.

O ruralista afirmou ainda que há um ranço do setor com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por fatores como a aproximação com o líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) João Pedro Stedile e que “acima de 90% apoia o ex-presidente”.

“Ele [Stedile] lidera um grupo terrorista”, disse.

Desde o início da manhã desta quarta, dirigentes de associações ligadas à organização da Agrishow buscavam contato com o ministério para tentar desfazer o mal estar.

A feira agrícola publicou uma nota de dois parágrafos no fim da manhã reafirmando o convite a Fávaro para participar da abertura e o elogiou.

“Para a direção da Agrishow, o ministro vem realizando um ótimo trabalho com muita competência para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro e sua participação na feira é muito importante para todo o setor”, diz a nota.

Nunca, até a edição deste ano (28ª), um ex-presidente da República participou da feira, e a situação inédita tem dividido integrantes da organização da Agrishow sobre a visita de Bolsonaro, segundo relatos feitos à Folha de S.Paulo.

Enquanto uma parte defende a presença por entender que o ex-presidente foi importante para o setor e é apoiado pela maioria dos ruralistas, outra avalia que o agronegócio depende de políticas públicas do governo federal e que ficar ao lado de um rival político de Lula não seria inteligente.

Há dúvida sobre se Bolsonaro estará no palanque oficial na abertura, como nas duas vezes em que a visitou como presidente, ou se ficará na plateia, como ocorreu em 2018, quando esteve na feira agrícola na condição de pré-candidato. No ano passado, ele participou de uma motociata entre o aeroporto e a feira e entrou no local montado num cavalo.

A Agrishow é organizada por Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), Abag (Associação Brasileira do Agronegócio), Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos), Faesp (Federação da Agricultura do Estado de São Paulo) e SRB (Sociedade Rural Brasileira).

Junqueira disse que é possível a feira abrigar Bolsonaro e o ministro e disse fazer votos de que “atuem em sinergia para aplicação de boas políticas públicas voltadas para o setor”.

MARCELO TOLEDO / Folhapress

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