Coroação do rei Charles III testa sua popularidade ao pedir lealdade na TV

MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) – Quando, neste sábado (6), a partir das 7h (11h em Londres), você estiver assistindo à cerimônia de coroação de Charles 3º, 74, na Abadia de Westminster, preste atenção ao “coro de milhões”. É quando o arcebispo da Cantuária convidará os britânicos a jurarem em voz alta lealdade ao rei.

“Este é um momento novo e significativo na tradição da coroação. Nunca antes em nossa história foi oferecida ao público em geral essa oportunidade de se juntar a figuras nacionais ao declarar sua lealdade a um novo Soberano”, explica o documento oficial que traz toda a liturgia da cerimônia.

O papel tem 42 páginas, e especialistas britânicos estimam que a cerimônia deverá durar cerca de duas horas. Antes, porém, às 10h20 (6h20 em Brasília), uma carruagem, puxada por seis cavalos e seguida por cerca de 200 pessoas, levará Charles e Camilla do Palácio de Buckingham até a Abadia de Westminster. Desde 1066, 39 monarcas foram coroados nesta abadia; neste sábado, Charles será o 40º.

O trajeto até lá tem dois quilômetros, e o casal usará a carruagem preta e dourada criada para o Jubileu de Diamante de Elizabeth 2ª, em 2012, quando a rainha celebrou 60 anos no trono. Sua coroa dourada no topo foi esculpida em carvalho do navio HMS Victory, e o interior do veículo é incrustado com amostras de madeiras, metais e outros materiais de construções e lugares com conexões específicas para a Grã-Bretanha e sua história. E ainda tem ar-condicionado e vidros elétricos.

Também pela primeira vez na história, o novo monarca irá rezar em voz alta em alguns momentos da coroação. Abrindo o evento, após uma frase inicial de um clérigo, Charles será a segunda pessoa a falar: “Em Seu nome e segundo Seu exemplo, não venho para ser servido, mas para servir”.

Na sequência, haverá orações e vários “Deus salve o rei”, que serão ditos pelos 2.200 convidados, entre os quais o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o roqueiro australiano Nick Cave. Outros passos incluem a apresentação da Bíblia e o juramento de Charles 3º. Haverá ainda um sermão do arcebispo e a apresentação de uma série de objetos, começando pelo óleo sagrado. Feito de azeitonas cultivadas na Inglaterra, o azeite é perfumado com óleos essenciais de gergelim, rosa, jasmim, canela, néroli, benjoim, âmbar e flor de laranjeira. Esse óleo será colocado em uma colher, e o arcebispo ungirá o rei.

Outros objetos serão apresentados, na seguinte ordem: esporas, espada, braceletes, orbe (globo), anel, luva e cetro. Nesses momentos haverá a participação inédita de membros de outras religiões que não a cristã. Religiosos do judaísmo, islamismo, hinduísmo e sikhismo deverão participar da entrega de itens reais a Charles. O primeiro-ministro Rishi Sunak, um hindu praticante, lerá o livro bíblico de Colossenses.

A mudança reflete a ideia de Charles de promover a unidade entre diferentes religiões por meio do diálogo e da celebração das principais fés praticadas no país. Um porta-voz do Palácio de Lambeth descreveu o ato como “um gesto sem precedentes que refletirá a diversidade religiosa dos reinos do rei Charles 3°”.

O próximo passo será a coroação em si, quando o arcebispo colocará a coroa em Charles. Ele, então, se sentará no trono e receberá homenagens da igreja, de sua família e de seus súditos, o coro de milhões.

Espécie de teste de popularidade para Charles, o juramento está envolto em polêmica no Reino Unido, com jornalistas e curiosos discutindo se o texto seria um convite (“invite”, claramente não obrigatório) ou um pedido (“ask”, mais para uma exigência). O que o arcebispo da Cantuária, Justin Welby, dirá: “Apelo a todas as pessoas de boa vontade do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, e dos outros reinos e territórios para fazer sua homenagem, de coração e voz alta, ao seu rei indubitável, defensor de todos”.

E o juramento, a ser repetido por quem quiser, é: “Juro lealdade verdadeira a Vossa Majestade e a seus herdeiros e sucessores de acordo com a lei, com a ajuda de Deus”. O coro dos milhões, chamado “Homenagem do Povo”, substitui a tradicional “Homenagem dos Pares”, quando a nobreza jurava lealdade.

Em seguida, será a vez da coroação da rainha Camilla, que receberá o óleo sagrado na testa e, a exemplo de Charles, o anel e o cetro. Também irá ao trono, e

uma série de orações e bênçãos finalizarão o evento.

Um clero feminino participa pela primeira vez, com três representantes. Na última coroação, de Elizabeth 2ª, as mulheres ainda não tinham permissão para buscar a ordenação na Igreja Anglicana. Elas só foram autorizadas a se tornarem sacerdotisas em 1994, e as primeiras bispas foram ordenadas em 2015.

A bispa de Dover e Canterbury, Rose Hudson-Wilkin, entregará a Camilla Rosemary Shand —seu nome de batismo— o cetro de rainha. Guli Francis-Dehqan, bispa de Chelmsford, administrará o cálice do rei e da rainha durante a eucaristia. Já a bispa de Londres, Sarah Mullaly, lerá alguns trechos da liturgia.

Às 14h (10h no Brasil), Charles e Camilla devem iniciar a procissão de volta para o Palácio de Buckingham. Desta vez, ela terá muito mais seguidores, com 4.000 militares desfilando pelas ruas, e a carruagem será a mesma utilizada por Elizabeth 2ª no Jubileu de Platina, em junho do ano passado, nos 70 anos de reinado.

Trata-se de uma carruagem do século 18, toda dourada, com quatro toneladas, puxada por oito cavalos. E, para felicidade geral da nação, o casal real lá dentro irá exibir nas cabeças as coroas recém-recebidas.

IVAN FINOTTI / Folhapress

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