Vacina da Covid não altera menstruação em mulheres pré e pós-menopausa, diz estudo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A vacina da Covid não provocou alterações no fluxo menstrual de mulheres pré e pós-menopausa até três meses após a aplicação da última dose, de acordo com um estudo conduzido na Suécia com cerca de 3 milhões de mulheres.

Os resultados da pesquisa mostraram uma associação fraca e inconsistente de sangramentos após a vacinação contra a Covid com o imunizante em mulheres que já passaram pela menopausa, e uma evidência ainda mais fraca em mulheres no período menstrual.

Os dados foram publicados na última quarta-feira (3) no periódico científico BMJ (The British Medical Journal) e são contrários ao que foi notado em alguns estudos observacionais (quando são reportados relatos de caso) em que a vacina da Covid teria provavelmente uma associação com atraso menstrual ou alterações no fluxo.

Pouco após o início da vacinação contra a Covid em todo o mundo, mulheres relataram ter sentido mudanças nos seus ciclos menstruais, como sangramentos mais intensos que o normal, dolorosos ou atrasos na menstruação. Já mulheres no período pós-menopausa que não menstruavam há anos reportaram sangramentos erráticos.

Pesquisas em todo o mundo procuraram entender se esses efeitos eram relacionados à vacina ou algum composto dela ou se eram alterações naturais e que podem ocorrer em momentos de estresse ou de mudanças de rotina.

O estudo foi conduzido por pesquisadores do Instituto Karolinska, da Universidade de Gothenburg e da Agência Sueca de Produtos Médicos (equivalente à Anvisa), na Suécia.

Para avaliar a relação da vacina contra Covid com o fluxo menstrual, os cientistas analisaram 2.946.448 mulheres de 12 a 74 anos que receberam um dos três imunizantes (Pfizer, Moderna e AstraZeneca) da Covid em uso no país de 27 de dezembro de 2020 (quando iniciou a vacinação na Suécia) a 28 de fevereiro de 2022. Destas, 2.580.007 (87,6%) completaram o esquema primário de duas doses e 1.652.472 (64%) receberam o reforço ou terceira dose.

Dados do banco nacional de saúde sueco foram coletados para avaliar condições de saúde prévias, como cânceres (incluindo de mama, vaginais, de ovário ou cervicais) que pudessem alterar o fluxo sanguíneo. Também foram colhidos dados sobre infecção prévia do Sars-CoV-2 para avaliar se um quadro de Covid não teria relação com os sangramentos.

As mulheres foram divididas em três tipos de anomalias da menstruação, compreendendo também as diferentes faixas etárias: sangramento pós-menopausa (mulheres de 45 a 74 anos); sangramentos erráticos (12 a 49 anos); e alterações no ciclo menstrual (p.ex. atrasos, fluxos descontínuos, dentre outros –de 12 a 49 anos). Os distúrbios foram reportados a partir de atendimentos no serviço de saúde ou de respostas a questionários diretamente aos profissionais de saúde.

O risco de ter alteração no fluxo menstrual após a vacinação foi avaliado para dois períodos distintos: de um a sete dias e de 8 a 90 dias após a aplicação do imunizante. Isto porque na primeira semana após a imunização, mudanças no fluxo menstrual raramente serão notadas como efeitos colaterais da vacina. Em um período de até três meses, se as alterações no fluxo forem consistentes, elas serão notadas e a mulher irá procurar um atendimento médico ou reportar ao seu médico pessoal.

A razão de risco (hazard ratio, em inglês) -ajustada para idade, estado matrimonial, profissão (profissional da saúde ou não) e escolaridade- de sangramento pós-menopausa depois da aplicação da vacina da Covid foi de 1,12 até sete dias após a imunização e 1,14 de oito a 90 dias depois. Não houve, assim, diferença significativa logo após a vacinação ou até três meses depois desta.

Já até sete dias após a terceira dose, o risco foi de 1,48, mas o intervalo de confiança muito elevado (1,12 a 1,94) torna essa associação fraca.

Em mulheres pré-menopausa, de 12 a 49 anos, a razão de risco observada para sangramentos erráticos foi de 1,08, nos primeiros sete dias, e 1,01, até 90 dias após a vacinação. As alterações no ciclo menstrual tiveram uma razão de risco de 1,13 em mulheres vacinadas com pelo menos uma dose contra as não vacinadas nos sete primeiros dias após a injeção, e 1,06 de oito a 90 dias após a aplicação. Todos os valores foram ajustados para as demais variáveis sociodemográficas.

Como conclusão, os autores observaram uma evidência fraca de associação da vacina com sangramentos em mulheres pós-menopausa, principalmente após a terceira dose. Já nas mulheres que ainda não passaram pela menopausa, não houve nenhuma evidência de as vacinas contra Covid alterarem o ciclo menstrual ou provocarem sangramentos em nenhum esquema de doses (1, 2 ou 3) comparadas às mulheres não vacinadas.

ANA BOTTALLO / Folhapress

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