Quase 70% dos adultos entre 45 e 54 anos estão com excesso de peso no Brasil

Hipertensão é um dos problemas causados pela Obesidade | Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Mais da metade da população brasileira (56,8%) está com excesso de peso, um aumento de quase 10% em relação a 2022, quando a prevalência foi de 52,6%, mostram dados de um inquérito nacional divulgado nesta quinta (29).

Adultos entre 45 e 54 anos respondem pela maior prevalência: 68,5% deles estão com sobrepeso ou obesidade. Em seguida, estão os jovens entre 18 e 24 anos, com 40,3% deles apresentando IMC (índice de massa corporal) igual ou acima de 25 kg /cm².

Os dados são do Covitel 2023 (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis em Tempos de Pandemia) desenvolvido pela Vital Strategies, organização global de saúde pública, e pela UFPel (Universidade Federal de Pelotas), com financiamento da Umane e apoio da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva).

Segundo o inquérito, 26,6% dos brasileiros tiveram diagnóstico de hipertensão, com maiores prevalências entre mulheres (30,8%), maiores de 65 anos (62,5%) e aqueles com até oito anos de escolaridade (38%). Entre os mais escolarizados, com 12 anos ou mais de estudo, a prevalência cai para menos da metade, com 15,6% de hipertensos.

Para Pedro Hallal, professor da UFPel e um dos coordenadores do inquérito, isso é reflexo da combinação entre dieta inadequada e prática insuficiente de atividade física.

“Quando olhamos o quadro epidemiológico brasileiro de 20 anos atrás, a obesidade era algo que acontecia mais nas famílias mais ricas. Isso está se invertendo com o passar do tempo. Nos Estados Unidos e México, a obesidade é muito maior entre os mais pobres. O Brasil está copiando esse modelo”, diz.

Para ele, a obesidade e a inatividade física são os grande vilões da saúde pública neste século, representam um grande desafio para governos de todo o mundo e há muito o que se fazer em termos de políticas públicas.

“Pode explorar a questão de ciclovias, de fechamento de ruas nos fins de semana, pode fazer academias populares, programas de esporte de lazer e inclusivo”, afirma.

Hipertensa há mais de 20 anos e com problema renal, a funcionária pública aposentada Sandra Lopes Ribeiro, 72, chegou a pesar 151 kg. Fez tratamento no Hospital do Servidor Público Municipal, em São Paulo, e eliminou 57 kg. Na pandemia de Covid-19, recuperou quase 20 kg e hoje está na casa dos 120 kg.

Antes da pandemia, ela diz que era muito ativa. Caminhava e passeava bastante. A ameaça de contrair o coronavírus a trancou em casa. Agora, começou uma rotina com exercícios e terapia numa Ursi (Unidade de Referência à Saúde do Idoso).

Sandra diz que também recebeu orientações sobre controle de peso e alimentação e que abriu mão de refrigerantes, linguiça e embutidos. Por decisão própria, afirma que não janta mais.

“Para o nutricionista é errado não jantar, mas me acostumei. Até seis horas da tarde, se der vontade, tomo sopa e mais tarde chá de camomila ou erva-cidreira com uma bolachinha. Mas ainda estou pecando no bendito doce. Tenho a consciência de que preciso melhorar.”

A situação de Sandra é ilustrada pelos dados do Covitel, que mostram uma alta prevalência da hipertensão e diabetes, especialmente entre os idosos e os menos escolarizados.

O cenário é parecido com a diabetes. Enquanto na população em geral a taxa é de 10,3%, em pessoas acima de 65 anos é de 26,2%, e entre aquelas com zero a oito anos de estudo, 15,7%.

A advogada Neusa Camargo, 77, entrou para as estatísticas de brasileiros hipertensos na tarde desta quinta (29), durante consulta com a equipe de medicina e família do Centro de Saúde Escola Professor Samuel Barnsley Pessoa, da Faculdade de Medicina da USP.

“Eu faço check-up uma vez por ano. É estranho você querer fazer um check-up no SUS. As pessoas só vêm aqui quando está tudo errado e não tem mais jeito. Elas não sabem usar o SUS”, afirma.

Neusa contou à reportagem que cuida da alimentação e pretende retomar a rotina de exercícios de antes da pandemia de Covid-19, na academia.

A descoberta da hipertensão não assustou a advogada. “Como eu sempre fiz prevenção, sabia que seria natural eu começar a ter alguma coisa após um certo tempo. É a primeira vez que vou tomar um remédio contra hipertensão.”

Em relação à alimentação, a paciente não vê necessidade de mudanças. “Deus fez tudo certinho comigo. Não gosto de doces, de pão, massas. Gosto muito de churrasco, frutas, legumes e verduras.”

Segundo Luciana Sardinha, gerente sênior da Vital Strategies e uma das coordenadoras do Covitel, os dados mostram que não houve um aumento dessas doenças em relação ao período pré-pandêmico, o que pode revelar um represamento dos casos.

Situação ainda mais grave, diz ela, são os casos já conhecidos e que não estão controlados. Dados do Previne Brasil, programa criado no primeiro ano da gestão de Jair Bolsonaro (PL) e que mudou a forma de financiamento da atenção primária, mostram que mais de 80% dos municípios brasileiros não atingem metas de controle de diabetes e hipertensão.

“Os municípios precisam ter as ferramentas necessárias para conhecer e monitorar os seus usuários de maneira simples”, diz Thais Junqueira, superintendente-geral da Umane.

Para Pedro Hallal, também é importante o investimento em tratamentos farmacológicos e não farmacológicos, como grupos de diabéticos e hipertensos de caminhada e reeducação alimentar.

“Eles até existem em muitas unidades básicas de saúde, mas não como política pública expandida. Não está disseminado em todas as UBS como deveria estar”, explica.

Segundo ele, o acesso a medicamentos para manter essas condições sob controle, especialmente para a população de baixa renda, também ficou mais difícil nos últimos anos com o desabastecimento de remédios essenciais no Programa Farmácia Popular.

Hallal e Sardinha também chamam a atenção para o desafio que é a adesão dos pacientes aos tratamentos de doenças crônicas.

“Se eu estou com dor de cabeça, tomo um paracetamol e resolve o problema. A hipertensão e a diabetes muitas vezes não apresentam sintomas, e as pessoas não tomam ou param de tomar remédio. Se não têm acesso, é ainda pior porque vão ter que escolher entre comprar um remédio ou alimentação para a família”, diz Hallal.

CLÁUDIA COLLUCCI E PATRÍCIA PASQUINI / Folhapress

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