33 anos sem Cazuza e 13 anos sem Ezequiel Neves: 5 curiosidades sobre a amizade dos dois

Há exatos 33 anos, no dia 7 de julho de 1990, a música brasileira ficava um pouco mais triste e menos colorida. Agenor de Miranda Araújo Neto, o Cazuza – um dos maiores nomes da nossa MPB – nos deixava aos 32 anos, no auge de sua vida e carreira, por complicações causadas pela AIDS.

Vinte anos depois, Ezequiel Neves – que foi produtor e amigo de Cazuza por muitos anos – faleceu exatamente no mesmo dia 7 de julho, só que de 2010, aos 74 anos, vítima de um câncer no cérebro.

Ezequiel descreve o amigo artista em um texto, divulgado no documentário Barão Vermelho – Por que a gente é assim?, de 2017: “Os versos de Cazuza reinventam o português de forma telegráfica, sem literatices. Ridícula herança de antepassados, que fazem de qualquer canção um cemitério de metáforas e circunlóquios vazios. Seu recado possui a urgência das cusparadas, lâminas afiadíssimas retalhando o instante de solidão ou amor total. Tudo articulado com a luminosidade dos relâmpagos. Cazuza traduz genialmente qualquer estado de espírito. Nos faz lembrar que qualquer segundo pode conter uma overdose de apocalipse.”.

Hoje, trouxemos 5 curiosidades – além de terem partido na mesma data – sobre a amizade dessas duas figuras importantes para a nossa cultura: Cazuza e Zeca, como Ezequiel era chamado pelo amigo!

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Confira 5 curiosidades sobre a amizade de Cazuza e Ezequiel Neves. | Foto: Montagem/ Reprodução

5 curiosidades sobre a amizade de Cazuza e Ezequiel Neves

1. Primeira fita demo do Barão Vermelho

Cazuza começou sua carreira em 1981, como vocalista do Barão Vermelho, uma das maiores bandas de rock do Brasil, responsável por popularizar o gênero no país durante a década de 80. 

Ao lado de Roberto Frejat, na época guitarrista do grupo, Cazuza compôs os maiores sucessos da banda e fez uma parceria e amizade que durou até os últimos dias de sua vida. Além dos dois, a banda contava com o baterista Guto Goffi, o tecladista Maurício Barros, e o baixista André Palmeira (o ).

O primeiro show do Barão Vermelho aconteceu em novembro de 1981. No ano seguinte, eles gravaram uma fita demo, que foi parar nas mãos do empresário Leonardo Netto, e a banda foi chamada para abrir um show de Sandra Sá. Netto ficou impressionado com o som do Barão e mostrou a fita para o experiente produtor Ezequiel Neves, assistente do diretor Guto Graça Mello, na gravadora Som Livre.

Sobre a fita, Ezequiel descreve no documentário Barão Vermelho – Por que a gente é assim?, de 2017: “Com o volume no máximo do escândalo, eu estou ouvindo uma fita transcendental. É coisa doméstica, gravada com um microfone só, mas que arroja uma torrente de adrenalina capaz de pulverizar quarteirões. É rock puro, escrachado e demencial. Imperfeito e carnívoro. Trombetas selvagens anunciando o começo de um novo mundo. A fita é de um grupo recém nascido, Barão Vermelho, e é a voz de Cazuza cuspindo fogo em doses avassaladoras. Minha vontade era pegar essa fita e tirar milhões de cópias. Pra mim, ela está prontinha, tal e qual todos os discos que os Rolling Stones gravaram. Não tenho e nem nunca tive certeza de nada, mas aposto neles de coração aberto. Querem apenas tocar rock e seguir em frente. Mas é justamente por quererem apenas isso, que transcendem as teorias caducas e instalam a sua verdade através de vozes e de guitarras incendiárias. Finalmente posso respirar: uma nova geração está com tudo para destruir as velhas gerações, da qual eu faço parte.”

2. Ezequiel foi responsável pelo lançamento da banda de Cazuza

Juntos, Ezequiel Neves e Guto Graça Mello lançaram o Barão Vermelho. Mas demorou para eles convencerem João Araújo, pai de Cazuza e dono da gravadora Som Livre, de que deveriam gravar o primeiro disco da banda. João ainda não conhecia a genialidade de Cazuza profundamente!

O primeiro disco do Barão Vermelho foi lançado ainda em 1982. Cazuza era o mais velho da banda – tinha 24 anos – quando o álbum foi lançado. , o mais jovem, tinha apenas 17. Ezequiel Neves tornou-se grande amigo e guru dos meninos, e participava de todos os processos de gravações, shows e turnês.

3. Ney Matogrosso e o sucesso de Pro Dia Nascer Feliz 

O Barão iniciou a turnê nacional de lançamento do disco e foi se apresentar em São Paulo, quando Caetano Veloso – que estava na plateia – ficou encantado pela música e pediu para que os meninos da banda lhe ensinassem a canção para que ele a apresentasse em seus shows. 

Caetano passou a noite estudando a canção e a apresentou no show que fez no Canecão no dia seguinte. A plateia veio abaixo e Caetano falou que a música era de Cazuza e Frejat. João Araújo, que estava na plateia com Lucinha, ficou impressionado e muito emocionado. Ali ele entendeu a explosão que era seu filho.

A notícia de Caetano Veloso cantando a música de Cazuza e Frejat repercutiu nos jornais da época e o Brasil inteiro também entendeu a dimensão do Barão Vermelho

O disco Barão Vermelho 2 foi lançado em 1983 e trouxe o imenso sucesso: Pro Dia Nascer Feliz – mais uma parceria de Cazuza e Frejat – mas o som da banda ainda não tocava nas rádios. Foi quando o já consagrado Ney Matogrosso foi assistir a um show dos meninos no Rio de Janeiro e ficou impressionado. 

Ney falou para Ezequiel Neves: “Bota essa molecada na minha mão, que eu vou botar pra quebrar com eles!”. Foi o que Ezequiel, que não era nada bobo, fez: Ney Matogrosso gravou Pro Dia Nascer Feliz no mesmo ano, em seu disco Pois É, fazendo com que o Barão Vermelho estourasse de vez para o público, a crítica e também nas rádios de todo o Brasil.

4. A carreira solo e a reconciliação com Frejat

No auge da banda, em julho de 1985 – depois de lançarem um terceiro álbum de muito sucesso (Maior Abandonado) e de fazerem uma apresentação histórica na primeira edição do Rock in Rio – durante os ensaios para o próximo álbum, Cazuza resolveu deixar o Barão Vermelho para seguir carreira solo. Ele anunciou para os parceiros de banda que achava que muita coisa do trabalho dele já não cabia mais em uma banda de rock. Frejat, Dé, Maurício e Guto ficaram desolados, mas decidiram continuar com o grupo.

Ezequiel Neves, em um primeiro momento, dividiu-se entre a banda e a carreira solo de Cazuza.

Os grandes amigos e parceiros Cazuza e Frejat ficaram um tempo sem se falar quando Cazu resolveu abandonar o Barão e ainda levar grande parte das suas parcerias – que entrariam para o próximo disco da banda – para o seu primeiro disco solo. Foi Ezequiel Neves quem promoveu o reencontro entre os amigos, que – com um abraço – selaram de volta a grande amizade e parceria que durou até o fim da vida de Cazuza.

5. Parceria na composição de grandes sucessos

O primeiro disco solo de Cazuza foi lançado ainda em 1985: Exagerado, que traz o mega sucesso da música-título, uma parceria do artista exatamente com Ezequiel Neves e Leoni.

Outro grande hit de Cazuza que faz parte desse álbum também é uma parceria com o amigo: Codinome Beija-Flor foi composta por Cazu, Ezequiel Neves e Reinaldo Arias).Além dessas, também é de autoria da dupla, junto com  George Israel, a música Burguesia, que deu título ao álbum duplo que Cazuza lançou em 1989. Este foi o último álbum lançado por Cazuza em vida.

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