Fascinante, Praiano, Bandido: Saiba como surgem nomes de touros usados em rodeios

BARRETOS, SP (FOLHAPRESS) – Não satisfeito em derrubar o peão na última quarta (23), o touro Embaçado deu uma cabeçada em Luis Carlos dos Santos quando ele já estava no chão, pisou em sua cabeça e só se afastou do competidor com a ação dos salva-vidas.

Nos bretes da Festa do Peão de Barretos -onde ficam os animais antes das montarias-, as conversas entre os peões após o acidente eram de que o touro fazia jus à gíria que resultou em seu nome de batismo, por ser complicado de se montar.

Agressivo, Bipolar, Cobiçado, Bandido… Uma palavra, uma letra de música ou até mesmo uma intuição são suficientes para dar nome a um touro nas arenas. Alguns são previsíveis, mas outros passam longe disso e a escolha dos nomes dos animais envolve ainda ironia, humor e astronomia.

Não existem regras ou padrão para isso, mas há tropeiros -donos de companhias de rodeio- que optam por nomes curtos, sem estrangeirismos e que sejam fáceis de serem pronunciados pelos locutores nas arenas.

“Geralmente depende de alguns fatores, como filiação paterna, como o boi pula e a pelagem do animal. Gosto de nomes marcantes”, disse Guto Paglione, dono de Praiano, que levou o título de touro do ano do circuito da PBR (Professional Bull Riders), encerrado no último domingo (20) na Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos (a 423 km de São Paulo).

Naquele dia, a escalação do time dos touros para a fase decisiva contou, além de Praiano, com Arquivo X, Diplomata, Fasta Fasta, Esnobe Jr, Menino de Pecuária, Filho do Rei, Fascinante, Kadett e Ancião.

Dono de Fascinante, eleito cinco vezes melhor touro de Barretos, o tropeiro Rodrigo Maia disse que já escolheu nome de touros a partir de uma palavra ou uma música que ficou em sua memória.

O touro campeão não foi batizado por ele, que o comprou quando ele já era bicampeão da principal festa do país e, portanto, conhecido do público ligado aos rodeios.

“Quando compro touros, alguns eu mantenho [o nome] e outros eu troco. Sou de trocar muito pouco, só quando o nome não combina muito com o animal e com o que eu vi”, disse.

Dono da companhia Big Boi, Maia já viu locutor chamar sua companhia de “Big Boy”, o que ligou o alerta para não adotar nomes estrangeiros em seu plantel.

“Não pode ser de difícil pronúncia. É o que vem na hora, a inspiração, a intuição. Às vezes você olha o animal e gosta muito, acredita muito nele”, afirmou Maia.

É o caso de Cobiçado, por exemplo, que o tropeiro considerou bacana e batizou quando ele era um garrote.

Assim nasceram também Tropa de Elite, por conta do filme homônimo, Nicotina, Delírio, Fogo Cruzado e Coronel, entre outros animais de sua boiada composta por 80 touros.

Já Praiano difere dos nomes fortes e agressivos, o que não significa que seja um touro fácil. Ao contrário. Paglione disse que a definição do nome levou em conta a pelagem do animal e o fato de ele possuir um temperamento dócil.

“Porém ele é muito esperto. Optamos por um nome que transmitiu tranquilidade”, disse.

Os animais são responsáveis por 50% da nota atribuída aos peões caso eles consigam permanecer montados por oito segundos. Se o peão cair antes disso, a nota é zero, independentemente da performance.

Competidor e boi são avaliados de 0 a 50 pontos e a soma das duas avaliações representa a nota final do peão. Montarias com mais de 85 pontos são consideradas boas.

Se o touro não pular ou até mesmo parar durante a montaria, o peão tem o direito de solicitar uma nova tentativa com outro animal ou permanecer com a nota.

NOMES FORTES

Poucos nomes simbolizam tanto os rodeios nas últimas décadas como o icônico Bandido, touro que morreu em 2009 e foi personagem da novela “América” (2005). Virou livro, grife e é homenageado com uma estátua no Parque do Peão de Barretos.

Ele chegou à companhia do tropeiro Paulo Emilio já batizado, e reza a lenda, o nome foi dado por um cigano em Goiás, na primeira metade da década de 1990.

Reza a Lenda, diga-se, é o nome do touro mais caro comercializado nos rodeios. Foi vendido em 2019 por R$ 520 mil (R$ 663,7 mil, corrigidos pela inflação) e as propostas pelo animal já superaram R$ 1 milhão, mas o dono não quis vendê-lo, conforme tropeiros ouvidos pela reportagem.

O tricampeão do mundo Adriano Moraes disse, durante a festa barretense em 2022, que isso acontece por causa da raridade. “Se tivesse dez [iguais], não custaria isso”, afirmou.

Bandido foi o mais temido touro das arenas por ser traiçoeiro, ao ponto de se jogar no chão para impedir que o peão o vencesse. Derrotou mais de 200 e só um conseguiu completar a montaria.

Neyliowan Tomazeli, campeão de 1999 em Barretos, foi arremessado a quase seis metros de altura dois anos depois por Bandido, no Mundial Toyota, em Jaguariúna, e por nove meses usou uma cadeira de rodas.

Da mesma tropa surgiram Agressivo e Bipolar, que também se destacaram na década passada nas arenas.

O primeiro morreu aos 17 anos em 2018 e estava aposentado das arenas havia três anos. Era considerado mais técnico e menos violento que Bandido, pois pulava para derrubar o peão, e não para machucá-lo, segundo peões e tropeiros. Já o segundo tem nome autoexplicativo.

Paulo Emilio, filho de uma professora de história, batizou seus primeiros animais com nomes de deuses e astros, como Júpiter, Saturno, Sultão e Apolo. Sobre Bandido, já disse que o nome era perfeito porque, com ele, tudo podia acontecer, por ele “não ter juízo”.

Touros já foram batizados também com nomes como UTI, Tsunami e Dia de Luto, mas atualmente nomenclaturas consideradas mórbidas têm sido evitadas.

A Festa do Peão de Barretos, que começou no dia 17, terminará neste domingo (27), com a final do Barretos International Rodeo, que reúne peões de Brasil, Estados Unidos e México em busca de um prêmio de US$ 40 mil (cerca de R$ 200 mil). A previsão da organização é que o público total chegue a 900 mil visitantes.

MARCELO TOLEDO / Folhapress

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