SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A morte do líder mercenário Ievguêni Prigojin, 62, chefe do Grupo Wagner, foi confirmada neste domingo (27) por análise genética, segundo autoridades russas. Ele estava em um avião que caiu perto de Moscou na quarta (23), exatos dois meses após comandar um motim contra a cúpula militar de Vladimir Putin.
Segundo o Comitê de Investigação russo, após uma análise genética molecular, os peritos concluíram que as amostras de DNA correspondem com as dos passageiros que constavam na lista de embarque. Além de Prigojin, outras nove pessoas morreram, incluindo Dmitri Utkin, número dois do Grupo Wagner.
O governo russo não informou se pretende realizar um funeral. Ao ser questionado sobre o tema na sexta (25), o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, desconversou, limitando-se a dizer que a agenda de Putin estava “bastante ocupada”.
Após a queda do avião, políticos ocidentais sugeriram, sem apresentar provas, que Putin ordenou a morte de Prigojin em vingança ao motim lançado contra a liderança do Exército russo em junho, no maior desafio imposto ao presidente desde que ele chegou ao poder, em 1999. Os mercenários marcharam em direção a Moscou e só pararam após mediação do ditador da Belarus, Aleksandr Lukachenko.
Putin oscilou no caso, chamando os mercenários de traidores em um primeiro momento e, depois, os perdoando. Ninguém foi preso ou punido oficialmente, ainda que 12 soldados russos tenham morrido em combate com os rebeldes, que abateram helicópteros e um avião. Cinco dias após a crise, o presidente russo encontrou Prigojin para ouvir suas razões. Detalhes do episódio, porém, continuam obscuros.
Após o motim, o Kremlin anunciou que o Grupo Wagner deixaria de receber fundos públicos e não poderia trabalhar na Rússia, mas que poderia manter seus contratos em outros países. Em vídeo divulgado um dia antes da queda do avião, Prigojin aparentava estar na África e falava do orgulho de levar a força da Rússia para o continente, embora não fosse possível verificar de quando era a gravação.
Na última sexta Peskov, rebateu as acusações de que o governo russo planejou o assassinato do mercenário, descrevendo-as como falsas. “Há muita especulação em torno deste acidente de avião e das trágicas mortes dos passageiros, incluindo Prigojin. É claro que, no Ocidente, toda a especulação é apresentada de um ângulo bem conhecido”, disse. “Tudo isso é uma mentira […]. Precisamos nos basear em fatos. Ainda não há muitos fatos. Eles precisam ser apurados no decorrer das ações investigativas.”
Antes, na quinta (24), Putin fez um pronunciamento sobre a queda do avião, durante o qual ofereceu condolências e disse que Prigojin havia “cometido sérios erros”.
O jato executivo Embraer Legacy 600 que transportava Prigojin e outros mercenários voava normalmente de Moscou a São Petersburgo até os 32 segundos finais de sua rota, em que a aeronave ficou instável antes de se estatelar na região de Tver, 160 km a noroeste da capital russa, no início da noite de quarta.
O Legacy 600 é um avião muito seguro, e este foi o primeiro incidente com mortos a bordo de um desses modelos em mais de 20 anos de uso e quase 300 unidades fabricadas. Antes, um jato comprado por americanos colidiu no ar com um Boeing-737 da Gol em 2006, causando a queda do avião comercial e a morte de 154 passageiros o Legacy conseguiu pousar.
A apuração da queda poderia envolver a Embraer, que de todo modo não prestava serviço à aeronave desde que ela entrou numa lista de sanções americanas em 2019. Só que a Rússia ainda não fez uma comunicação, que deveria ser de praxe, ao governo brasileiro pedindo a assistência.
O Grupo Wagner chegou a ter 50 mil soldados durante a Guerra da Ucrânia, segundo líderes da organização. Os mercenários foram responsáveis pela tomada da cidade de Bakhmut, no leste ucraniano, após conflitos sangrentos que duraram meses. Depois, o Ministério da Defesa da Rússia emitiu uma ordem para enquadrar os grupos mercenários a serviço do país sob seu controle. Na ocasião, o Wagner recusou os contratos formais e abriu uma nova crise com a pasta comandada por Serguei Choigu.
Questionado na sexta sobre o futuro do Grupo Wagner, que tem uma série de contratos na África, o porta-voz do Kremlin, Peskov, foi conciso. “Não posso contar nada agora, não sei”, disse ele.
Redação / Folhapress