Festa de casamento na hora do terremoto salvou aldeões marroquinos

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A celebração de um casamento salvou todas as pessoas da aldeia marroquina Ighil Ntalghoumt durante o terremoto de sexta-feira (8), o mais letal no país em 63 anos, com 2.901 mortes registradas. Enquanto os convidados confraternizavam com música tradicional e ensopado de carne de carneiro em um pátio ao ar livre, suas casas de pedra e barro foram destruídas.

O casamento de Habiba Ajdir, 22, e do produtor de maçãs Mohammed Boudad, 30, estava programado para acontecer na aldeia de Kettou no sábado (9), mas a família da noiva realizou uma festa na noite anterior à cerimônia, conforme o costume da região.

Um vídeo feito por um convidado mostrou o momento em que o terremoto de magnitude 6,8 atingiu o lugar. As imagens de músicos vestidos com roupas tradicionais tocando flautas e tambores de pele de cabra de repente dão lugar ao caos, escuridão e gritos. Muitos chamam por membros da família e improvisam lanternas com telefones celulares.

“Queríamos comemorar. Então o terremoto aconteceu. Eu não sabia se deveria me preocupar com a aldeia dela ou com a minha”, disse o recém-casado Boudad nesta terça-feira (12), ainda vestindo suas roupas de casamento quase quatro dias depois de o terremoto ter enterrado suas posses em escombros.

A aldeia empobrecida de Ighil Ntalghoumt foi deixada em ruínas. Muitos de seus habitantes agora estão desabrigados, mas, ao contrário de outras partes da região de Adassil, perto do epicentro do tremor, não houve mortes ou ferimentos graves, disseram os moradores. Apenas Ahmed Ait Ali Oubella, 8, ficou ferido quando uma pedra caiu em sua cabeça.

A festa era uma celebração tradicional de pré-casamento oferecida pela família da noiva antes de ela partir no dia seguinte para a casa do noivo, que a esperava em Kettou.

Apesar do desastre, ela viajou para a aldeia dele no sábado, deixando para trás seus presentes de casamento. A mulher chegou ao lugar pela tarde, depois de fazer o caminho todo a pé devido às estradas ruins. “Quando ela chegou, não havia lugar para dormir. Estamos apenas procurando uma tenda”, disse Boudad.

Já o pai da noiva, Mohamed Ajdir, 54, havia montado uma grande tenda no pátio de sua casa para que os convidados do casamento aproveitassem a festa. Esse espaço agora está sendo usado como abrigo para os desalojados, embora estes afirmem precisar de espaços mais resistentes em breve, por conta do frio e umidade que são esperados para esta semana.

Enquanto caminhava pelo povoado, Ajdir apontou sinais do caos da noite de sexta-feira, com sapatos delicados abandonados nos escombros. A catástrofe da qual os convidados escaparam era claramente visível a alguns quilômetros, na sinuosa estrada montanhosa em direção a Marrakech, onde a aldeia de Tikekhte foi quase completamente destruída. Nenhuma casa ficou de pé, e cerca de 68 pessoas dos 400 habitantes morreram.

Até a noite desta terça, segundo a televisão estatal, o número de feridos era de 5.530 pessoas e as esperanças de encontrar sobreviventes sob os escombros eram escassas. As estradas para algumas aldeias devastadas nas montanhas seguem bloqueadas. Em locais acessíveis, os esforços de socorro se intensificaram com acampamentos de tendas e distribuição de alimentos e água.

Em Marrakech, alguns prédios históricos na cidade antiga, Patrimônio Mundial da Unesco e importante destino turístico, foram danificados. Os distritos mais modernos da cidade escaparam em grande parte ilesos, incluindo um local próximo ao aeroporto destinado a reuniões do FMI e do Banco Mundial que devem ser realizadas no próximo mês, reunindo mais de 10 mil pessoas nas reuniões, segundo fontes do governo.

Redação / Folhapress

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