BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – Um promotor de Justiça do Amazonas é acusado por uma advogada de comparar mulheres a cadelas durante sessão do 3º Tribunal do Júri realizada em Manaus na última segunda (11). A defensora afirma ter sido ofendida pela declaração do representante do Ministério Público.
Walber Luiz do Nascimento nega a acusação e, em resposta que foi gravada e viralizou nas redes sociais, disse que tal comparação seria ofensiva -mas para o animal.
“Comparar vossa excelência a uma cadela de fato é muito ofensivo. Mas não a vossa excelência, [e sim] à cadela”, disse durante o julgamento. Nas redes sociais, o promotor declarou inicialmente que não iria “se curvar” a tentativas de quem quer prejudicar a sua imagem.
“Vou tomar as medidas judiciais cabíveis contra todos que criaram essa narrativa de que eu ofendi uma colega advogada no plenário do Tribunal do Júri”, disse o promotor.
Nesta quinta (14), após a repercussão do caso, Nascimento publicou uma nota de retratação em que afirma que “jamais teve intenção de ofender ou menosprezar as advogadas presentes”.
Segundo a advogada Catharina Estrella, que atuava na defesa de um réu, o promotor fez a declaração durante interrogatório de uma testemunha, que é mãe de uma mulher vítima no processo.
“[Ele disse] que entendia o direito da mulher e que estava ali para proteger a filha dela. E que ele tinha sido ensinado pela mãe dele a respeitar as mulheres. E que ele lembrava que a mãe dele falou o seguinte para ele: ‘Meu filho, se um dia você engravidar uma cadela, você vai assumir esse filho'”, afirmou a advogada em conversa com jornalistas.
“Na terça-feira [12], na minha fala [na audiência], eu disse que ele iria aprender a respeitar as mulheres, porque nenhuma mulher é cadela. Que aquela frase era completamente inadequada e que eu me senti ofendida assim como outras mulheres que estavam ali”, relatou Estrella.
A advogada disse ainda que pediu ao juiz a colocação na ata da audiência do que estava acontecendo. “Falei ‘fui vítima e quero retratação’. Não aceito a colocação do promotor de Justiça me chamando de cadela ou me comparando a isso”, afirmou.
Em vídeo publicado nas redes sociais, em que aparece ao lado de outros advogados, ela disse que não precisava passar por essa situação, que classifica como violência de gênero.
“Hoje eu fui ofendida no meu trabalho, enquanto advogada. O juiz nada fez para impedir. Então, aqui, a classe, unida, está buscando respeito, para que isso não torne a acontecer a qualquer outra advogada. Eu realmente não precisava passar por isso no exercício da minha profissão”, afirmou.
A OAB-AM (Ordem dos Advogados do Brasil no estado) também se manifestou contra a fala do promotor.
“Hoje pela manhã tivemos um fato muito grave, que foi a violação de prerrogativas da doutora Catharina Estrella, uma profissional competente, uma mulher de fibra e advogada militante e atuante”, disse o presidente da entidade no estado, Jean Cleuter Mendonça.
“Não vamos deixar qualquer violação de prerrogativas passar sem o seu devido ajuste, seu devido combate. A questão colocada é maior que a questão das prerrogativas. Mostra também uma questão de gênero. E nós não podemos deixar que fatos como esse voltem a acontecer”, acrescentou.
A reportagem entrou em contato com o Ministério Público do Amazonas nesta quinta, mas não recebeu resposta até a publicação. Procurado sobre a crítica da advogada ao juiz, o Tribunal de Justiça também não retornou.
Na nota de retratação, o promotor de Justiça, disse que “reitera o seu profundo respeito por todos os profissionais advogados e advogadas, cuja atuação é essencial para a administração da justiça e para a proteção dos direitos fundamentais dos cidadãos”.
“Ciente da importância do respeito nas relações no âmbito jurídico, afirma, categoricamente, que jamais teve intenção de ofender ou menosprezar as advogadas presentes e, especialmente, a advogada Drª Catharina Estrella, profissional por quem nutre apreço, admiração e respeito, declarados inclusive na abertura de sua manifestação na sessão do dia 12/09/2023, bem como a todos os demais membros da advocacia”, diz o comunicado.
“Com esta retratação pública, o Promotor de Justiça Walber Luís Silva do Nascimento expressa seus mais sinceros votos de superação das eventuais incompreensões e reafirma sua disposição de colaborar para o bom convívio e o entendimento entre os diversos atores do Sistema de Justiça.”
LEONARDO AUGUSTO / Folhapress