Governo ficou quase 4 meses sem divulgar dados do cartão corporativo de Lula

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O governo deixou de publicar por quase quatro meses as faturas do cartão corporativo do presidente Lula (PT). A divulgação do valor gasto pelo cartão da Presidência da República foi interrompida em maio e retomada só na semana passada.

A Folha de S.Paulo questionou a CGU (Controladoria-Geral da União) no dia 11 de setembro sobre o que explicava a paralisação. A publicação das informações foi normalizada no dia seguinte. A CGU afirmou que houve mudanças no envio dos extratos, cuja responsabilidade é do Banco do Brasil.

“A partir do último mês de maio, o BB [Banco do Brasil] alterou a solução de compartilhamento e extração desses arquivos com a CGU, o que impactou a atualização das modalidades de cartão abrangidas na consulta do Portal [da Transparência]”, que é coordenado pela CGU, justificou o órgão de controle.

Procurado, o banco deu o mesmo argumento —o “meio de transmissão das informações para a CGU passou por atualização tecnológica nos últimos meses, com objetivo de aprimoramento do processo”.

Após a regularização, a CGU informou os dados e, com isso, a Folha de S.Paulo mostrou nesta segunda-feira (18) que o presidente Lula tem gastado mais com cartão neste terceiro mandato do que Jair Bolsonaro (PL), Michel Temer (MDB) e Dilma Rousseff (PT).

O patamar elevado de compras e pagamentos coloca o petista com uma média de gastos recorde. Até agora, foram fechados os extratos de sete meses do cartão corporativo. As despesas, quando somadas, chegaram a um valor próximo de R$ 8 milhões.

O petista tem gastado, em média, cerca de R$ 1,1 milhão mensais, em números corrigidos pela inflação até agosto deste ano. Para toda a gestão Bolsonaro, esse cálculo aponta para uma despesa de R$ 1 milhão mensal. Temer e Dilma registraram despesas mensais menores, de R$ 584 mil e R$ 905 mil, respectivamente.

As comparações foram feitas com base nas faturas do CPGF (Cartão de Pagamento do Governo Federal) da Secretaria de Administração da Presidência da República, que cuida das despesas de Lula, de sua família e de funcionários próximos.

A Presidência ainda usa outro tipo de cartão, o de compras centralizadas, que reúne outros gastos, como passagens aéreas.

As faturas desse cartão, porém, ainda não foram publicadas pela CGU. A explicação é a mesma: atraso no repasse dos dados fornecidos por parte do Banco do Brasil. A CGU informou que, assim que receber os extratos do cartão de compras centralizadas, “providenciará a atualização dos dados no portal”.

Nesta segunda-feira, após a publicação da reportagem que mostrou que Lula tem gastado em ritmo maior que os antecessores, a Secom (Secretaria de Comunicação Social) da Presidência voltou a questionar a informação.

“As despesas pagas nos primeiros sete meses deste ano são inferiores aos valores registrados no ano passado, passando de R$ 8,8 milhões em 2022 para R$ 7,99 milhões em 2023”, disse a Secom.

No entanto, a secretaria comparou os sete primeiros meses de Lula com 2022 —e não com o mesmo período de 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro.

Na reportagem, o custo médio da fatura de Lula neste terceiro mandato foi comparado com os sete primeiros meses dos mandatos de Bolsonaro, Temer e Dilma. Além disso, o valor da conta do cartão do petista foi contrastado com o quanto cada ex-presidente gastou em média, considerando todo o período em que governaram.

Nos dois comparativos, Lula tem gastado mais. A Secom reforçou que há relação com as viagens internacionais do presidente.

“O objetivo é não só recuperar a imagem do país no exterior como também reestabelecer as relações comerciais com parceiros importantes, o que resulta na atração de investimentos estrangeiros em áreas estratégicas que contribuem diretamente para recuperação da capacidade do mercado interno brasileiro, impulsionando a geração de emprego e renda no Brasil”, afirmou o Palácio do Planalto.

Não é possível, no entanto, conferir o detalhamento das informações e das despesas, pois foram classificadas como sigilosas pelo governo por razões de segurança do presidente.

THIAGO RESENDE / Folhapress

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